Polarização entre Bolsonaro e Lula extingue aversão à política

Em prol de um consenso para dar cabo à briga eleitoral no dia 30, eleitorado troca trivialidades por política e se revela mais engajado do que nunca

Postado em: 20-10-2022 às 06h30
Por: Yago Sales
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Em prol de um consenso para dar cabo à briga eleitoral no dia 30, eleitorado troca trivialidades por política e se revela mais engajado do que nunca | Foto: reprodução

Quando o cantor Leonardo apareceu ao lado do atual presidente e candidato à reeleição, Jair Messias Bolsonaro (PL), demonstrava apoio ao projeto político, cuja intenção é desmantelar o adversário, ou seja, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de acabar vencendo nas urnas no próximo dia 30, domingo do segundo turno das eleições, o filho caçula do artista – de seis-, o ator paulista João Guilherme, de 20 anos, foi às redes sociais e lamentou a escolha política do pai. 

“Hoje ‘tô’ triste. Sei bem a influência do meu pai, ele é gigante, querido por tantos… Mas joga no time errado e está cego”, declarou o ator em sua conta pessoal no Twitter. “Diante de todos os últimos escândalos envolvendo o atual mandatário, ver alguém tão importante pra mim declarar apoio dessa forma me enoja. É tanta ignorância que nem sei”, afirmou João Guilherme. 

Com isso, uma enxurrada de comentários explodiu nas redes sociais: tanto em defesa de Leonardo (Bolsonaro) e João Guilherme (Lula). O desinteresse pela política atiça até os menos entendidos dos meandros da construção político-partidária como parte da identidade do brasileiro, muito debatida, aliás, constantemente debatida por intelectuais, cientistas, jornalistas e os próprios atores que compõem o jogo político: vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senador e o próprio presidente da república. 

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À opinião política antagônica dá-se o nome de polarização, expressão tão disseminada desde que Lula da Silva, segundo ele por aclamação do partido e do povo, de se tornar o principal adversário político-ideológico e eleitoral de Jair Bolsonaro. Enquanto Lula, fundador e maior expoente do Partido dos Trabalhadores, é tingido pelo vermelho da esquerda, Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, alinhado à direita, ou extrema-direita, dependendo da visão que se tem do político que ascendeu ao Planalto em 2018 com o vácuo deixado pelo petista, preso após investigação de corrupção da Lava-Jato. 

O debate, com isso, permeia o cotidiano da sociedade em todos os ambientes. Há casos de brigas, violência e até morte no contexto da discussão política. A chamada 3° via, onde Simone Tebet, do MDB, se tornou uma força, desbancado o corpulento Ciro Gomes (PDT) jogou um pouco de água nas chamas do primeiro turno. Agora, no segundo, ambos os candidatos se tornaram integral – no caso da Tebet – e parcialmente – no caso de Ciro – mais próximos de Lula da Silva, enquanto a bancada formada pela ala bolsonarista que se sujeitou às urnas tenha se fortalecido consideravelmente. 

Livre das condenações por interpretações de que o então juiz Sérgio Moro – de Curitiba – não tinha competência para julgar o petista no âmbito da operação criada para desmantelar esquemas de corrupção que unia interesses privados e o público, principalmente no governo federal nos governos de Lula e Dilma Rousseff. 

É bom lembrar este fragmento da história do partido do candidato que lidera a corrida eleitoral porque faz parte dos argumentos dos contra, e, por isso, a favor de Bolsonaro, tido como brucutu e ultrapassado, mas com apontamento de ligação com milícias e rachadinhas. 

A guerra de narrativas provocou um clima de acirramento nos ambientes de trabalho, escolares, vizinhanças, religiosos e familiares. O fenômeno foi pouco visto nos últimos pleitos. Os especialistas, que pendem para a excepcionalidade, acreditam no caráter plebiscitário das eleições: o voto noutro para evitar a eleição do outro, sem se importar com qualidades ou defeitos. 

O acirramento de ânimos também diminuem chances de convencimento, uma vez que quando o outro o contraria, automaticamente ele reverbera o sentimento de asno do candidato que é dele, não do que é estimulado a pensar sobre as chances de mudança de voto. 

Enquanto um é acusado de ingerência durante a pandemia do novo coronavírus, estimulando o uso de medicamento comprovadamente ineficazes, o outro é ligado a uma esquerda que, segundo a narrativa, perseguirá os cristãos, é favor da ideologia de gênero e que roubou o País por meio de corrupção. 

Quando colocado tudo isso em cima da mesa, as chances de uma conversa pender para brigas incessantes e desreguladas emocionalmente é bem grande. Pela forma com que a polarização se estabeleceu, o governo de Jair Bolsonaro deverá enfrentar um desaprovo ainda mais acentuado. A tese é defendida pela cientista política Ludmila Rosa. “A eleição majoritária esse ano tem uma pegada muito plebiscitária em relação ao que foi o governo Bolsonaro”. 

A explicação é vastamente argumento para várias linhas de pensamento sobre a condução do eleitorado a partir do tipo de personagem político que se dispõe a representá-lo. Nenhum ou outro, em uma polarização, dizem especialistas, seria capaz de convencer o eleitor determinantemente de um lado da guerra de cordas: é imutável. 

Com isso, é improvável entender como o jogo político vai desatar no próximo de 30, quando os brasileiros e brasileiras vão às urnas para depositar na biografia de dois homens públicos mais quatro anos – ou menos – na presidência da república. 

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