Recuo da prefeitura em projeto da Comurg escancara cisão entre Poderes

Vereadores resistiram em votar às cegas projeto que destina mais de R$ 30 milhões à Companhia e prefeito pediu arquivamento do texto

Postado em: 29-12-2022 às 09h30
Por: Felipe Cardoso
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Vereadores resistiram em votar às cegas projeto que destina mais de R$ 30 milhões à Companhia e prefeito pediu arquivamento do texto. | Foto: Prefeitura de Goiânia

Apesar da ampla base construída por Rogério Cruz (Republicanos) na Câmara Municipal de Goiânia, o prefeito se despede de 2022 sob o amargo gosto do descompasso. Houveram, de fato, alguns sinais de bandeira branca ao longo dos últimos dois anos, mas ainda imperam os inúmeros atritos e dissabores na relação entre o prefeito e os vereadores. 

O projeto que garante um repasse de mais de R$ 30 milhões à Comurg deixou isso ainda mais claro. Crente de que o Parlamento aprovaria a matéria pelo simples fato de contar com a maioria, Cruz encaminhou o projeto à Câmara aos 45 do segundo tempo. E não só. Encaminhou, também, Michel Magul, secretário de Governo, na tentativa de convencer os vereadores a aprovarem a matéria. 

Mas não teve jeito. Na manhã da última quarta-feira (28/12), o presidente Romário Policarpo (Patriota) deixou clara sua indignação com as manobras do Paço. Chegou, inclusive, a categorizar a gestão como “incompetente”. 

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“A Câmara não vai votar este ano por incompetência da própria prefeitura que deveria ter feito a previsão na Lei Orçamentária. Esse aporte à Comurg foi enviado sem justificativa clara do destino. Estamos falando de uma verba volumosa. Estamos prontos para votar essa matéria, inclusive de forma extraordinária, no domingo [1º/1], desde que seja necessária”, disse o presidente da Casa. 

A Câmara, vale lembrar, aprovou na mesma manhã um pedido de diligência da matéria. Isso porque os vereadores queriam explicações sobre a destinação da verba milionária. O questionamento foi, inclusive, levantado por Policarpo durante seu pronunciamento na tribuna. “O prefeito diz que o dinheiro é para um lugar, o secretário para outro. Para onde é o dinheiro? Só quero saber para onde é”, declarou.

A proposta foi prejudicada logo no início da tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), ainda na quarta-feira (27/12), pelo vereador Paulo Henrique da Farmácia (PTC). O vereador pediu vista da matéria a fim de conhecer melhor o que estava prestes a votar. “Pedi vistas para entender esse projeto. Quero saber se vão ser investidos em maquinário, se será utilizado para pagar os servidores, não temos ideia do que se fala o projeto”. 

Em outro trecho ele lembrou que os vereadores são eleitos não apenas para legislar, mas também para fiscalizar o Poder Executivo. “Essa função do vereador [de pedir vista da matéria] é legítima e vamos usar isso para estudar o projeto”, pontuou o parlamentar.

Já o secretário de governo, Michel Magul disse ao O HOJE que a matéria foi enviada à Câmara assim que finalizada na prefeitura. “Vai tramitar conforme o Legislativo, com sua independência, entender que deve. Será um trabalho feito com tranquilidade”, destacou.

O secretário, que conversou reservadamente com o autor do pedido de vista na CCJ, disse que o encontro particular foi realizado no intuito de colocar a prefeitura à disposição para qualquer esclarecimento sobre o assunto. “Esse é o papel da secretaria de governo”, pontuou. 

Conforme revelado com exclusividade pelo O HOJE, o descompasso entre o Legislativo e Executivo ampliou a insatisfação de alguns vereadores da base com o prefeito. Um deles, o vereador Willian Veloso (PL), que, inclusive, relatou o Código Tributário Municipal que deve ser apreciado nesta quinta-feira, 29, considerou a possibilidade de deixar o grupo de apoio ao prefeito. “Apoio sem contrapartida uma hora acaba”, disse à reportagem. 

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