Secretário, vereador e empresário goianos em atos de vandalismo
Redes sociais identificam pastor, que é secretário em Águas Lindas de Goiás, e vereador de Inhumas como alguns dos golpistas em Brasília
Uma verdadeira força-tarefa foi montada nas redes sociais paralelamente à investigação de autoridades que tentam identificar vândalos que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes em Brasília durante a tarde da baderna no ato golpista de domingo, dia 9 de janeiro.
Até o momento, os olhos atentos das redes sociais encontraram quatro goianos com alguma influência político-econômica em Goiás. São eles: o policial militar Silvério Santos; o vereador de Inhumas José Ruy (PTC); o empresário e presidente da CDL de Rio Verde Lucimário Benedito Camargo, conhecido como Mário Furacão; e o pastor e secretário de Águas Lindas de Goiás, Edson Xavier.
Esses são os primeiros identificados, mas a lista pode ser ainda maior. Autodenominados patriotas, usam as redes sociais para questionar a legitimidade das eleições que deram o terceiro mandato a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Misturados às mais de 4 mil pessoas, os goianos tomaram de assalto a Praça dos Três Poderes e, sob a anuência da Segurança Pública do Distrito Federal – que terminou com o afastamento do governador Ibaneis Rocha. A azáfama invadiu prédios, destruiu móveis e obras de arte.
Com o rosto limpo, sem se preocupar com os efeitos criminais que a ação poderia resultar, os tais goianos aparecem cercados de homens e mulheres vestidos de verde e amarelo, cobertos com a bandeira nacional, mas, contraditoriamente, ecoando palavras de ordem golpistas.
Além de críticas a Lula da Silva, o grupo pedia intervenção militar, ou seja, um golpe, que ocasionaria com a destituição do presidente eleito. Usaram o argumento mentiroso de que as urnas não são confiáveis, mesmo que tudo tenha sido desmentido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comandado por Alexandre de Morais – alvo predileto dos bolsonaristas.
Até domingo, o empresário Lucimário Benedito Camargo era um influente nome de Rio Verde, uma das cidades mais bolsonaristas de Goiás pelo caráter do setor do agronegócio. Agora, é apontado com um dos vândalos que invadiram o Palácio do Planalto, a sede do Executivo Federal, como mostra vídeo que o próprio Furacão gravou.
“Brasileiro só subindo a rampa, entrando cada vez mais e os soldados tacando bomba no povo, covardes. O poder emana do povo, o povo não vai sair, o povo não vai deixar ladrão governar o País, narcotraficante e muito menos comunista”, disse Lucimário, enquanto parceiros depredaram o patrimônio público.
Afastado das ruas depois que foi flagrado no ato, o subtenente da Polícia Militar do Estado de Goiás (PMGO) Silvério Santos foi flagrado no meio dos baderneiros. Na postagem que fez nos stories do Instagram, o policial escreveu: “Explodiu Brasília”.
Outro que apareceu em vídeos é o vereador José Ruy Garcia, do PTC, de Inhumas. Conhecido como Zé Rui, o parlamentar também é comerciante da cidade que ficou como suplente a deputado estadual nas eleições de 2014.
Na segunda-feira (9), a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) solicitou informações à Câmara Municipal de Inhumas. Em documento obtido pela reportagem, a Defensoria afirma que o vereador “prestou-se ao vexatório e torpe papel de algoz da democracia brasileira”, sem esquecer que Zé Ruy foi eleito pelo voto eletrônico.
Tão logo a página “contragolpebrasil”, do Instagram, publicou a foto do pastor Edson Xavier, de Águas Lindas de Goiás, alguns moradores da cidade reagiram à postagem com indignação.
Xavier, além de pastorear na Assembleia de Deus, é secretário de Relações Institucionais de Águas Lindas. No dia 30 de outubro, enquanto eleitores de Lula pipocavam foguetes na vizinhança, o pastor, em vídeo, declarou: “Se for verdade o que aconteceu nas eleições, então as pessoas optaram por aquele partido que roubou a nação”. Em seguida complementou: “E vamos seguir em frente e aguardar”.
O pastor, que também é secretário do Conselho de Ética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, usou as redes sociais em outras ocasiões para colocar o processo eleitoral em xeque. A reportagem procurou os envolvidos, mas, até o fechamento do jornal, não recebeu retorno.