Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Prova de fogo de Zé Eliton

Vice-governador assume comando do Estado dia 7 de abril, em solenidade na Assembleia Legislativa

Postado em: 19-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Vice-governador assume comando do Estado dia 7 de abril, em solenidade na Assembleia Legislativa

Venceslau Pimentel

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Sete anos e três meses no cargo de vice-governador, José Eliton (PSDB), 45 anos, tem pela frente o maior desafio de sua vida desde que foi escolhido, em 2010, para compor a chapa majoritária encabeçada por Marconi Perillo (PSDB).

Eliton tem mês, dia e hora para dar uma nova guinada em sua carreira política: 7 abril, quando tomará posse no cargo de governador, em solenidade na Assembleia Legislativa, às 9 horas. A partir daí, ele passa a ser a autoridade máxima do Poder Executivo estadual, com o pedido de desincompatibilização de Marconi, que deve disputar uma das duas cadeiras ao Senado destinadas a Goiás.

Ele terá uma gestão curta, de nove meses, para imprimir uma marca pessoal e um estilo de administrar o que se convencionou chamar de “coisa pública”, ou coisa do povo. Só que no meio desse caminho, Eliton tem uma prova de fogo, qual seja, viabilizar-se como candidato a governador, três meses após tornar-se inquilino do Palácio das Esmeraldas. Trata-se da convenção de seu partido, entre 20 de julho a 5 de agosto, período estabelecido pela legislação eleitoral.

De 2011 até os dias atuais, ele assumiu, em algumas oportunidades, o comando do Estado na ausência de Marconi, por motivo de viagens ao exterior. Mas o tucano de Rio Verde não se limitou a atuar na função figurativa que lhe confere a Constituição estadual. Além de auxiliar Marconi, quando por ele foi convocado para coordenar missões internacionais, também respondeu ao chamado para comandar pastas de destaque na estrutura administrativa estadual.

Presidiu a Companhia Energética de Goiás (Celg D), de janeiro a dezembro de 2011, num dos momentos mais críticos da companhia. Implantou um plano de reestruturação para resolver, entre outros problemas, a inadimplência. Deu início, a partir dali, à transição que resultou na privatização, concretizada em fevereiro de 2017, a um preço de R$ 2,187 bilhões, adquirida pelo grupo italiano Enel Brasil. Desse bolo, coube a Goiás R$ 1,1 bilhão, recursos que vêm sendo utilizados, em parte para o Programa Goiás na Frente.

No segundo mandato de Marconi, a partir de janeiro de 2015, foi designado para a Secretaria de Desenvolvimento. Em fevereiro de 2016 assumiu o comando da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária. Deixou o cargo em dezembro desse mesmo ano para coordenar o Goiás na Frente, lançado em março de 2017.

Dos R$ 6 bilhões de recursos públicos projetados, R$ 4 bilhões já teriam sido dispensados para aplicação nos municípios, segundo o vice-governador. A partir de abril, assume a coordenação do programa Eduardo Zaratz. Presidente do PV em Goiás, Zaratz aceitou convite do prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB) para comandar a Superintendência de Planejamento e Orçamento da Secretaria de Finanças de Goiânia, no início do ano passado, mas deixou o cargo agora para coordenar o Goiás na Frente. A equipe de Eliton, ainda incompleta, é mesclada por  nomes do atual governo e outros de sua escolha pessoal, como o secretário da Fazenda, Manoel Xavier. Continuam em suas funções, Raquel Teixeira (Seduce), Leonardo Vilela (Saúde) e Joaquim Mesquita (Segplan), entre outros. 

“Ele terá de se colar à imagem de Marconi” 

No exercício do governo do Estado, José Eliton conseguirá se desvencilhar da imagem de Marconi Perillo, cravando a sua marca pessoal?

Em recente entrevista a O Hoje, Eliton disse que a sua marca será a lealdade. “Nós não vamos chegar em 7 de abril e inventar um plano de governo novo. Nós vamos dar seqüência a esse plano de governo”, arrematou, salientando que a imprensa nacional havia destacado que Goiás foi o estado que mais cumpriu promessas de campanha entre todos os estados da federação. “O que queremos fazer é chegar muito próximo, e se for possível a 100% desse plano de governo cumprido”.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Robert Bonifácio, a tarefa é árdua, e diz ver dificuldade de o vice-governador se desgarrar da imagem de seu antecessor.

“Necessariamente ele terá de se colar em Marconi. Essa é a estratégia”, pontua Bonifácio. Ele frisou que embora não disponha de pesquisas sobre a avaliação do governo e do governador, mas que observando por um ângulo macro, pela insatisfação popular, é possível notar que Marconi já não dispõe da mesma aprovação registrada em seus três governos anteriores.

Para o cientista político, a aposta do vice-governador é investir na finalização das obras do programa Goiás na Frente, cujo comando, a partir de abril, será delegado a um de seus auxiliares.

Mas para Robert Bonifácio, a prova de fogo a que Eliton será submetido terá apenas três meses de duração. Ou seja, vai até as convenções partidárias, que começam em julho. “Ao entrar no governo e não alçar voo próprio, cabe espaço para um plano B”, avalia, salientando a necessidade do tucano se cacifar como candidato da base aliada nesse curto período de tempo.

Bonifácio diz enxergar no ministro das Cidades, Alexandre Baldy (PP), um nome forte na corrida sucessória. “Baldy pode ter uma plataforma um pouco descolada do governo e pode vender a imagem de jovem promissor na política, mas com trajetória empresarial de sucesso”.

Para ele, o ministro pode entrar na onda do chamado “político gerencial”. Um exemplo de sucesso é o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que venceu a disputa, no primeiro turno, com o discurso de que não é político, mas um gestor, um empresário.

Jornalista, publicitário e jornalista, Doria preside o LIDE, grupo de líderes empresariais que reúne quase dois mil empresários no país.

Baldy, por sua vez, é industrial e está no exercício de seu primeiro mandato como deputado federal.

Apoio

Ao contrário do que expõe o cientista político, o vice-governador tem defensores na Assembleia Legislativa. Um deles é o líder do Governo, Francisco Oliveira (PSDB), que diz confiar em novos avanços na gestão de Eliton.

Líder da bancada tucana, Gustavo Sebba, sustenta que o vice-governador está pronto para comandar a missão de governar o Estado. “O vice-governador já demonstrou competência como gestor público e, com a experiência política adquirida nesses últimos anos, com certeza dará sequência ao trabalho desenvolvimentista iniciado pelo governador Marconi Perillo em nosso Estado”, destacou Sebba.

Ex-secretário extraordinário de Fiscalização do programa Goiás na Frente, o deputado Talles Barreto (PSDB) também aposta numa gestão de avanços com José Eliton. “Com ele virão novas ideias e propostas. Estamos abertos para a renovação, mas os valores humanos que nos pautam desde o começo desta caminhada continuarão a nos guiar”, disse Barreto, em discurso, ao reassumir o mandato na Assembleia Legislativa.

Atentado

Eliton traz no corpo e, certamente na alma, as marcas de um trauma. No dia 28 de setembro de 2016, ele sofreu um atentado quando participava de uma carreata em Itumbiara. 

Foi baleado no abdômen, por tiros disparados pelo funcionário da prefeitura local Gilberto Ferreira do Amaral. No tiroteio, o então candidato a prefeito, Zé Gomes (PTB), foi alvejado e morreu, assim como o cabo PM Vanilson João Pereira. 

Diálogo aberto com a base aliada na Assembleia 

Há duas semanas, José Eliton abriu diálogo com a Assembleia Legislativa, um poder fundamental para a aprovação de projetos de interesse do Executivo, que impactam diretamente na vida da população.

Em conversa com o presidente José Vitti (PSDB), o vice-governador discutiu o pagamento de emendas parlamentares que constavam do orçamento do estado para este ano, mas que foram vetadas pelo governador Marconi Perillo.

Segundo Vitti, Eliton se comprometeu a se reunir com os deputados aliados – são 31 parlamentares – logo após tomar posse, para tratar do assunto. Ele tem dito ter respeito pelas forças partidárias e que tem procurado discutir com os partidos aliados as questões envolvendo a agenda de governança. Nesse sentido, ao salientar que o modelo político brasileiro é republicano, o vice-governador entende que é preciso articular para continuar tendo uma base forte na Assembleia.

Durante a discussão da matéria, no fim do ano passado, o relatório final de Lincoln Tejota (PSD) estabeleceu um teto individual de R$ 3 milhões para atender os 41 deputados. Antes dessa discussão, os deputados discutiram por vários meses a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria do deputado Henrique Arantes (PTB), que instituía o orçamento impositivo. Depois de muito debate, ficou estabelecido que 0,6% da receita corrente líquida seria destinado às emendas parlamentares. No entanto, a PEC foi derrubada em plenário.

Para este ano, José Eliton tem a gerenciar, a partir de abril, um orçamento global líquido de R$ 24.965.327.000,00. 

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