Vanderlan pode deixar o PSB

Isolado no partido, empresário negocia com o senador Álvaro Dias para se filiar ao Podemos, mas quer o apoio da legenda para disputar a prefeitura de Goiânia

Postado em: 02-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Isolado no partido, empresário negocia com o senador Álvaro Dias para se filiar ao Podemos, mas quer o apoio da legenda para disputar a prefeitura de Goiânia

Venceslau Pimentel 

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Filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) desde maio de 2013, o empresário Vanderlan Cardoso deve deixar a presidência do diretório da legenda em Goiânia com pedido de desfiliação, nas próximas semanas. O ex-prefeito de Senador Canedo mantém conversações com o senador paranaense e pré-candidato à Presidência da República Álvaro Dias (Podemos) e deve engrossar as fileiras da sigla em Goiás.

Com isso, Dias garantiria, se não um palanque durante a campanha presidencial, pelo menos o apoio de Vanderlan, que tem musculatura política no Estado, como ficou demonstrado nas eleições de 2014, quando disputou o governo do Estado pelo PR. Obteve 470.090 votos (14,98%), ficando na terceira colocação, atrás de Iris Rezende (MDB) e de Marconi Perillo (PSDB), que venceu a eleição. 

Também mostrou força ao disputar o segundo turno do pleito em Goiânia, em 2016, já no PSB, quando registrou 278 mil votos (42,30%). O seu adversário, Iris Rezende recebeu 379,3 mil votos (57,70%) e venceu aquele pleito.

Mas as conversas com Álvaro Dias não limitam ao pleito deste ano. Vanderlan até pode se filiar ao Podemos, mas desde que o partido se comprometa a bancar a sua candidatura a prefeito da capital, em 2020. Com popularidade em alta, em Senador Canedo, quando deixou a administração local, em seu segundo mandato, o empresário teria votos suficientes para um novo mandato na cidade, nas últimas eleições municipais. Mas ele não esconde que nutre o sonho de administrar Goiânia.

Nas últimas eleições municipais, ele contou com o apoio dos partidos da base de apoio do governador – PSDB, PRB, PHS, PSC, PV, PP, PMB, Solidariedade, PPS e PSDC. Com o insucesso nas urnas, o ex-prefeito passou a cuidar de suas empresas na área de alimentos. Sem mandato, Vanderlan começou a perder espaço no seu partido. Mas esse processo começou bem antes, exatamente a partir de setembro de 2015, quando a senadora Lúcia Vânia assumiu no lugar dele o diretório estadual e se transformou na principal estrela da legenda no Estado. 

Ela se filiara ao partido um mês antes, após deixar as fileiras do PSDB depois de 20 anos. Mas a indisposição dela com as principais lideranças tucanas aconteceu em fevereiro daquele ano, quando da composição da Mesa Diretora do Senado. Sem conseguir espaço, Lúcia havia afirmado que teria sido exposta a uma situação vexatória, pela legenda, por supostamente espalhar boatos de que não teria seguido orientação partidária de votar em Luiz Henrique (PMDB-SC), apoiando Renan Calheiros (PMDB-AL).

Gota d’água

Com a filiação da senadora ao PSB, coube a Vanderlan presidir o diretório em Goiânia. Mas, ao que parece, a gota d’água da insatisfação do ex-prefeito se deu no início deste ano, quando Lúcia Vânia começou negociações com o governo para ocupar uma das duas vagas ao Senado na chapa a ser encabeçada pelo vice-governador Zé Eliton (PSDB), com articulação do governador. O encontro entre os três, no Palácio das Esmeraldas, acontece no início de março. Na ocasião, também teria sido discutida a participação da legenda na gestão do vice, que assume o governo no próximo dia 7.

A queixa de Vanderlan a interlocutores é porque ele não teria sido consultado sobre as conversações. E o atropelo se deu justamente quando mantinha diálogo com Eliton, inclusive com a possibilidade de ocupar, por exemplo, a vaga de vice na chapa. Colocado em escanteio, Vanderlan passou a sondar outras legendas que pudessem lhe oferecer espaço para tentar se cacifar como candidato a prefeito de Goiânia. Ao contrário de 2016, é bem possível que ele não teria o apoio dos partidos da base aliada para mais uma vez sustentar o seu projeto político. 

Empresário conversa com Caiado 

Além do Podemos, Vanderlan tem conversado com o deputado federal e pré-candidato a governador Daniel Vilela e com o senador Ronaldo Caiado, também pré-candidato pelo Democratas. 

Por já ter passado pelo MDB, partido pelo qual tentou se viabilizar como candidato a governador, em 2014, e não conseguiu, uma volta à legenda é vista como inviável. Até porque ela não garantiria a ele bancar seu projeto de comandar a prefeitura da capital.

Já a negociação com o Democratas de Caiado é vista como factível, por diversas variáveis. Caiado pode acertar aliança com o PRP do ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga. Marqueteiro e empresário, Braga costurou o apoio do então governador Alcides Rodrigues, de quem era auxiliar, a investir na candidatura de Vanderlan contra Marconi Perillo, em 2010. Rodrigues, agora filiado ao PRP, avalia disputar cadeira na Câmara dos Deputados.

De outra parte, o Democratas não tem ainda um nome consolidado para as eleições de 2020. Nas eleições municipais passadas, a legenda integrou a aliança de Iris Rezende. Como, ao que tudo indica, Caiado e Iris estarão em lados diferentes no pleito deste ano, o partido do senador não teria, pelo menos aparentemente, nenhum compromisso com o partido do prefeito de Goiânia. Aparentemente. Isso porque uma ala dissidente – formada por cinco prefeitos e o deputado estadual José Nelto – manifestou apoio ao democrata.

Para os emedebistas que defendem candidatura própria, a presença de Caiado no evento, realizado na Assembleia Legislativa, foi vista como provocação.

Diante do racha, Iris Rezende teve que vir a público hipotecar apoio ao candidato emedebista. Mas ele continua defendendo a abertura de diálogo entre Daniel Vilela e Caiado, em nome da união das oposições. Mas a cada dia a unidade torna-se inviável, principalmente depois que o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela defendeu a saída dos dissidentes, a quem classificou de traidores. 

O impacto da tensão entre caiadistas e vilelistas foi tão forte que provocou a saída da filha de Caiado, Anna Vitória, da chefia da Procuradoria Geral do Município. Por conta do aceno de Iris a Daniel, ela se sentiu desconfortável no cargo e pediu para sair.

Na disputa por apoio, o senador democrata também leva vantagem sobre o emedebista, já que o seu partido pode não lançar candidato à Presidência da República, o que o deixaria livre para apoiar Álvaro Dias. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) lançou a sua pré-candidatura, mas ele mesmo já adiantou que vai para a disputa se sentir que seu nome seja viável para a corrida presidencial. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, hoje filiado ao PSD, deve ingressar no MDE para disputar a sucessão de Michel Temer. 

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