Câmara Municipal tem Conselho de Ética pautado pela inércia 

Ofensas de vereador a jornalista sequer está na ativa

Postado em: 22-02-2023 às 08h00
Por: Francisco Costa
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Ofensas de vereador a jornalista sequer está na ativa. | Foto: Reprodução

As ofensas do vereador Kleybe Morais (MDB) ao jornalista José Bonfim não foram citadas pelo parlamentar Anselmo Pereira (MDB), presidente do Conselho de Ética da Câmara Municipal de Goiânia, como caso a ser investigado. Na última semana, após Geverson Abel (Avante) pedir ação do Conselho em relação a um imbróglio com Sargento Novandir (Avante), Pereira disse que não há prevaricação e citou os quatro casos que estão no colegiado.

“O Conselho de Ética não faz prevaricação. Está na minhão mão as representações dos vereadores: Felizberto sobre Dra. Cristina; Dra. Cristina contra o Felizberto; Ministério Público contra o Novandir, mas já foi arquivado; Durval contra o Santana; Geverson Abel contra Novandir”, começou Anselmo.

E emendou: “Aqui no Conselho de Ética as coisas funcionam. E elas vão funcionar. Quero dizer a vossa excelências, está o relatório [do caso Geverson contra Novandir] na minha mão. Não tem mais nenhum outro processo tramitando. Só esses quatro. E vai dar [sic] prosseguimento em todos eles. Essa é a minha função.”

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Ele não citou a situação de Kleybe e de Bonfim, que teve pedido de instalação de inquérito por agressão a jornalista no começo do mês de outubro. O demanda ocorreu pelo Sindicato dos Jornalistas de Goiás (Sindjor), por meio do presidente Cláudio Curado.

O Jornal O Hoje procurou o vereador Anselmo Pereira para saber a situação deste caso, se ele foi arquivado ou se alguma medida foi tomada contra Kleybe. Não houve retorno até o fechamento da edição. 

Caso

Vale lembrar, em 5 de outubro o parlamentar, sem citar nomes, afirmou que se fosse “dono” do Poder Legislativo, não permitiria que alguns profissionais da imprensa frequentassem o Parlamento. “Toda área tem gente que presta e gente que não presta. Na imprensa é da mesma forma. Sou amigo da maioria dos repórteres. Mas não mexe comigo não”, disse ao proferir a primeira das várias ameaças que ainda viriam. “Respeito a todos e não interfiro no trabalho de ninguém. Não me importa se é católico, crente, hétero ou homossexual. Não me importa. Mas jornalista precisa respeitar vereadores dessa Casa.”

Ele prometeu, na sequência, que se jornalistas forem à Câmara para fazer “caricatura e chacota” dos vereadores, iria “pôr para moer”. “Não vou aceitar bandido da imprensa vir pautar a Câmara e os vereadores. Vou para cima e vou na goela. E para quem sabe ler, um pingo é letra. Vem para cima de mim que vai voltar do mesmo jeito. Não me importa se é hétero ou gay, se é bicha ou é homem.”

Kleybe ainda disse em sua crítica à imprensa que a Câmara não é lugar de bandido e nem lugar de malfeitor. “Nem de pessoas que querem se promover subindo nas costas dos outros. Repito: vem fazer caricatura, chacota, vai voltar com o rabinho entre as pernas. Entenda como ameaça”, frisou para reforçar a ameaça antes de devolver a palavra.

Logo após a fala na tribuna, o vereador foi até o jornalista José Bonfim e continuou a briga na ala da imprensa. O jornalista disse não saber as razões da agressão. Naquele momento, a Câmara Municipal informou que instauraria um procedimento para apurar o pronunciamento. 20 dias após o ocorrido, o caso ainda não avançou na casa. 

Já naquele momento, o Sindjor repudiou a fala do vereador e o assunto foi amplamente repercutido na imprensa. Dias depois, Kleybe se manifestou sobre o caso. O parlamentar saiu na contramão dos colegas que lamentaram o discurso de ódio e basicamente reforçou o pronunciamento do dia anterior. “Não estou aqui para fazer política de boa vizinhança com ninguém, nem com a imprensa”, discursou em um dos trechos.

O emedebista ressaltou, ainda, que é a favor da imprensa e que até tem “amigos de infância que são jornalistas”. “Eu não citei o nome de nenhum jornalista. Mas se algum jornalista sério, honesto, que propague a verdade, se sentiu ofendido, prejudicado, a esses eu peço desculpa. A imprensa boa, honesta, que propaga a notícia de fato, tem toda a minha admiração.”

Documento do Sindjor

No documento que o Sindjor apresentou à Câmara e que pede a instalação de inquérito, o sindicato afirma que “a um vereador cabe fiscalizar o poder Executivo e legislar. E ainda dar explicações sobre eventuais desvios ocorridos em seu gabinete. Se acreditar serem inverídicas as informações, te o direito de buscar na Justiça os devidos reparos, mas jamais usar de violência e ameaças para tal”.

E ainda: “Em razão destas agressões injustificadas e inaceitáveis e que mancham a história desta Casa democrática, este Sindicato vem a Vossa Senhoria, solicitar que a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Municipal proceda a imediata instalação de inquérito para apurar o condenável episódio.”

O texto foi entregue ao presidente da comissão, Anselmo Pereira. O vereador declarou que “esse procedimento não ficará sem ser apreciado”. Disse, ainda, que Kleybe terá direito ao contraditório, mas afirmou que o colegiado sempre dá andamento às denúncias. 

Destaca-se, contudo, que outro caso envolvendo Kleybe – sobre venda de diplomas que ocorria no gabinete dele, conforme denúncia do Jornal O Hoje – ainda não teve conclusão. Há, ainda, outro caso sem solução: Trata-se de um esquema de “rachadinhas” envolvendo o vereador Paulo Henrique da Farmácia. O caso, assim como os demais, aguarda o desenrolar da Comissão. Ambas as irregularidades foram apuradas e denunciadas com exclusividade pelo O HOJE. 

Caso Geverson contra Novandir

Sobre Novandir e Geverson, o segundo acusou o primeiro agredir uma servidora da prefeitura indicada por ele em evento no último dia 10 de fevereiro. Os vereadores tiveram um desentendimento naquele dia, uma vez que Novandir esteve em evento no Residencial Antônio Carlos Pires, enquanto Geverson acompanhava o prefeito Rogério Cruz (Republicanos). 

Na ocasião, houve xingamentos e acusão de agressão física. Segundo Geverson, Novandir teria proferido palavras de baixo calão e segurado com força o ombro de uma servidora da prefeitura. Ainda segundo Geverson, a agenda era “exclusiva” por se tratar da base eleitoral dele. O sargento nega qualquer contato físico – de ambas as partes – naquele momento.

Alguns dias depois, na tribuna, Novandir acusou Geverson de manipular a servidora contra ele e declarou: “Câmara é pequena demais para nós dois. Um de nós dois tem que ser cassado.”

“Eu vou provar 100% que não agredi. Porque se não provar, eu deveria ser cassado, chutado pela porta dos fundos. Ou a credibilidade dessa Casa acaba”, continuou. 

Geverson, por sua vez, disse que Novandir tem “histórico nebuloso” e que já teve problema com outros vereadores. Afirmou, ainda, que o colega tenta interferir na polícia para prejudicar a servidora e que ele dará suporte a ela. “O que ouvi aqui foi simplesmente uma ameaça. Não sou seu inimigo, nem te conheço e nem sei da onde você veio. Mas não vou aceitar esse histórico que outros vereadores já passaram. Será que todos os vereadores estão errados?” Foi então que o parlamentar disse esperar que o Conselho de Ética funcione e foi respondido por Anselmo.

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