Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Demóstenes Torres“Vou brigar por vaga ao Senado”

o procurador de Justiça Demóstenes Torres, agora filiado ao PTB, está decidido a brigar por uma das duas vagas na chapa majoritária governista com a senadora Lúcia Vânia (PSB)

Postado em: 11-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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o procurador de Justiça Demóstenes Torres, agora filiado ao PTB, está decidido a brigar por uma das duas vagas na chapa majoritária governista com a senadora Lúcia Vânia (PSB)

João Lemes e Venceslau Pimentel*

Empolgado com a decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu os efeitos da resolução do Senado que o havia tornado inelegível, o procurador de Justiça Demóstenes Torres, agora filiado ao PTB, está decidido a brigar por uma das duas vagas na chapa majoritária governista com a senadora Lúcia Vânia (PSB). Para ele, uma delas será destinada ao ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Em entrevista ao O hoje, ontem pela manhã, Torres disse ter certeza de que voltará ao Senado pelas urnas. Eleito senador, em 2002, ele foi reeleito em 2010, mas teve seu mandato cassado em 2012, por falta de decoro parlamentar, pela relação estreita que mantinha com o contravento Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em 2016, a Segunda Turma do STF decidiu anular as provas que o incriminaram, por considerá-las ilegais. Ele reafirma a amizade com Cachoeira e considera que foi cassado injustamente. “Eu não devia nada”, pontua Torres. O procurador sustenta que vai se empenhar para reeleger o governador José Eliton (PSDB), avalia que foi errada a decisão do senador Wilder Morais (DEM) de deixar a base aliada e avisa que o senador e pré-candidato ao Governo de Goiás Ronaldo Caiado não pode ser subestimado. Veja trechos da entrevista. 

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O senhor deve partir para um novo embate eleitoral. Como é retornar ao cenário político seis após ter o seu mandato de senador cassado?

Olha, me sinto recomeçando, porque passei por um período muito difícil na minha vida, mas que pude ter uma coisa que nenhum outro político no Brasil tem. O veredito da Justiça de que fui injustiçado e que a minha cassação foi eminentemente política. Eu não devia nada. Não devo nada. E quem me cassou hoje passa por grandes dificuldades. Sou candidato de novo para contar a minha história para os eleitores.

O senhor fala que foi injustiçado. De todo modo, mantinha amizade com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Isso eu nunca neguei. Era uma relação de amizade. Agora, o curioso dessa história toda é que nunca fui acusado de nada. Não fui acusado de desviar dinheiro de hospital, escola. Não fui acusado de pegar dinheiro da Petrobras, da Eletrobras, ou roubar qualquer coisa. Fui acusado de ser amigo do Carlinhos Cachoeira. E as interceptações telefônicas que foram anuladas, antes, passaram por uma perícia no Ministério Público, que levantou todas as contas bancárias que tive na minha vida, da minha mulher, dos meus filhos, até da minha neta, que na época tinha seis anos de idade, levantaram a vida dela, de amigos, todos os funcionários, cartórios do Brasil, cartões de crédito. A Interpol vasculhou em países para saber se eu tinha conta, saiu notícia de todo jeito. Ao fim, o Ministério Público fez uma perícia dizendo que eu não devia nada e que, inclusive, podia ter mais coisas que tenho. E o que eu tenho? Um apartamento financiado e um carro com dois anos de uso. Esse é o meu patrimônio. Agora, tenho livros, discos, tenho conhecimento, porque a minha vida foi dedicada a isso. Hoje não tenho uma desculpa. Tenho mais de dez decisões judiciais ao meu favor. Inclusive essa agora, que é revolucionária, porque o Supremo Tribunal Federa não costuma imiscuir em questões políticas. 

O senhor já tentou retomar o mandato, mas até agora não houve nenhuma decisão. O senhor espera retornar ao Senado novamente pelas urnas?

Espero. Tenho certeza que vou voltar pelas urnas. Eu comecei agora na sexta-feira porque só na quinta-feira pude me licenciar do Ministério Público, o meu prazo era seis meses então tive que trabalhar até quinta-feira e a partir de sexta-feira comecei a minha campanha. Então, vou ter seis meses para falar ao eleitor e tenho certeza que irei ganhar a eleição.

O senhor acredita que o governador Marconi é o número um da chapa majoritária, e parece que há um compromisso do Zé Eliton quanto a senadora Lúcia Vânia.

O governador Marconi Perillo é obvio ele tem vaga na chapa e a senadora Lúcia Vânia eu respeito muito a história dela. Agora, quem tem maior número de prefeitos, quem tem maior número de deputados estaduais, deputados federais, os partidos políticos. Se for a Lúcia Vânia, eu aceito, não tenho problema nenhum em relação a ela, mas acredito que em agosto nós vamos decidir verdadeiramente quem é o candidato.

A pesquisa Serpes mostra que Marconi e Lúcia Vânia estão nas primeiras posições. O senhor acredita que o levantamento tem poder de definição, em relação ao Senado, ou isso vai acontecer lá na frente?

Essas pesquisas são importantíssimas. Elas são reais. Acho, inclusive, que essa pesquisa Serpes deve usar o método do Tribunal Superior Eleitoral. É o retrato da pesquisa mesmo. Marconi já foi governador do Estado, a Lúcia Vânia é senadora há muito tempo e há muito tempo também ela faz campanha; Jorge Kajuru é um vereador expressivo na cidade de Goiânia, e eu que tenho ainda um recall do que consegui fazer no Senado. Pesquisa, nesse momento, acho que ela retrata a realidade.

Ao senhor só interessa o Senado ou tem outra opção?

Não me interessa nenhuma outra opção na chapa. Já fui convidado para ser candidato a governador, para ser a vice-governador, a deputado federal, deputado estadual. Aprecio muito quem tem essa disposição. Saí do Senado da forma que todos conhecem, e pretendo reescrever a minha história lá. Se o eleitor me der essa condição, vou lutar para fazer o que sempre fiz ali, qual seja, trabalhar, trabalhar e trabalhar. Vamos lembrar que, em termo de números, eu sou o maior relator da história do Senado, são mais de 2 mil projetos relatados, além do que tem ainda a apresentação de projetos, propostas de emendas à Constituição, emendas, relatorias. Tudo isso me levou a poder contribuir com 189 leis, muito importantes para o Brasil. 

Logo depois da reunião que a senadora Lúcia Vânia teve com Marconi Perillo e José Eliton, em março, o senador Wilder Morais fez uma leitura de que não teria espaço na chapa majoritária para disputar a reeleição e, por isso, deixou o PP para se filiar ao Democratas. A base aliada perdeu com a saída do senador?

Perdeu, é claro. Wilder foi um bom companheiro. Ele, principalmente, foi um municipalista, arrumou muitos recursos para prefeitos. O problema do Wilder é que ele não teve paciência. Essa corrida (para o Senado) não é aquela de cem metros, não! É uma maratona de 40 quilômetros e mais um pouquinho para você correr e chegar até o fim. Com a saída dele da base aliada, ele desencantou muitos prefeitos que estavam com ele. Ele não consultou esses prefeitos. Faltou um pouco de paciência ao Wilder, porque ele era importante dentro da base. E a política tem essa questão. Você tem um grupo, trabalhou a vida inteira para aquele grupo, e de repente deixa esse grupo. Eu fui eleito duas vezes na mesma chapa com Marconi e Lúcia Vânia. Por duas vezes nós trabalhamos assim. Houve divergência? Houve. Eu queria ser candidato a governador e saí candidato a governador (em 2006). Mas a minha referência sempre foi aquela. 

E se o senhor não se cacifar para a vaga?

Se lá na frente eu não reunir as melhores condições (de me firmar como candidato a senador) não vou ficar magoado. Simplesmente não deu para mim. O eleitor não quis que eu seja candidato ou esse grande número de partidos entendeu que não sou melhor opção e que a Lúcia é a melhor opção. Vamos respeitar isso. 

Para o senhor, então, Wilder fez a escolha errada?

Na minha opinião ele fez a escolha errada. Tenho dito nessas reuniões que estou participando, que não adianta você ganhar perdendo. Nunca vai ter espaço do outro lado. É honroso você até ser derrotado e ficar na oposição, não para atrapalhar quem quer que seja, mas para mostrar que a sua ideia poderia ser melhor, que o caminho poderia ser outro. 

O senhor citou o exemplo de uma corrida de cem metros, e o governador José Eliton tem uma raia relativamente curta para se tornar conhecido. Como ele deve trabalhar essa questão?

José Eliton tem o mesmo problema que tive no passado. É o juridiquês. A gente que mexe com Direito, até aprender que o povo não entende aquelas palavras que a gente fala, é complicado. Eu lembro que em 2002, demorava a subir nas pesquisas (para o Senado), porque ainda não tinha aquele poder de falar para o povo entender. Era acostumado com tribunal, com juiz. Aí passou pela minha cabeça que teria que fazer uma coisa mais popular para que o povo compreendesse o que estava falando. Então, o José Eliton ainda tem um pouco disso. Mas vejo que ele tem melhorado sensivelmente, ele tem ido muito bem. O discurso dele está bem mais popular. Mas o Zé é o quê? É um menino do interior, que até hoje vai ao estádio torcer para o Vila Nova. Coitado? Infelizmente, porque ele poderia torcer para o Atlético (Goianiense), né! (risos). Acho que nesses seis meses que faltam (até a eleição) ele vai fazer a diferença. E vou dizer uma coisa: ele é a renovação. Aquilo que ele disse, no dia da posse dele, é verdade. Ele é a renovação dentro do Tempo Novo. 

Mesmo com 20 anos de poder do Tempo Novo?

Tem grupos políticos no mundo que têm 50 (anos que estão no poder). À medida que você vai melhorando, você pode permanecer. Agora, se não demonstrar que é melhor do que os outros, isso pode ficar só na intenção. 

Em entrevista recente ao O Hoje, Marconi disse que José Eliton preferia disputar essa eleição com o senador Ronaldo Caiado, por conhecê-lo bem. O senhor, que também já foi aliado do senador. Como o senhor imagina que será essa eleição?

Acho que vai ser uma disputa tranquila. Caiado tem condição de ter um bom desempenho eleitoral. Ele não pode ser menosprezado. É obvio que nessa última pesquisa ele caiu cinco pontos em relação à anterior. Mas isso não pode ser tratado assim. Caiado tem experiência política, ele tem um trabalho especialmente no meio rural muito importante. Agora, Goiás é um todo. Goiás não é um segmento. Goiás tem problema de mobilidade no transporte, tem problema gravíssimo no meio ambiente. Olha o que está acontecendo no Rio Araguaia! Olha aqui Goiânia! Nós não conseguimos resolver os problemas do Rio Meia Ponte e os seus afluentes até hoje. Nós temos tantos desafios! 

Independentemente de o senhor vir a ser candidato nessas eleições, qual será o seu grau de comprometimento na campanha de José Eliton?

Cem por cento. Estou com Zé Eliton desde que voltei a ter possibilidade de me candidatar. Sempre insisti para que ele fosse candidato. Zé Eliton é uma figura que, fora do governo, tem uma vida tranquila. Pode montar uma grande banca (advocatícia) em Goiânia, em Brasília, em São Paulo. Mas a paixão dele é governador. Então, disse a ele para se aprimorar. Em Rio Verde, por exemplo, na Tecnoshow, ela falava de tanta coisa! Na posse do secretariado, vi comentários de professores de que ele estava preparado para discutir sobre cultura. Mas isso não é uma coisa à toa. Então, as pessoas ficaram tantos anos querendo chegar ao governo e agora, se chegarem, vão chegar de forma improvisada? O povo não merece isso. 

Qual a posição do senhor em relação ao debate em torno da prisão em segunda instância?

Eu sou completamente favorável em relação à prisão em segunda instância. Só que é preciso deixar claro isso, por que é que está havendo essa bagunça? Em 2009, o ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, apresentou uma sugestão que ficou conhecida como PEC do Peluso. Era antecipar o cumprimento das penas e das decisões, não só na área penal, como em qualquer área, para o segundo grau. O que ele queria? Alterar a lei para fazer isso. E qual é o problema que foi criado hoje? Fizeram isso sem alterar a lei. Então, a lei é antiga. Em mais de cem anos de Brasil se tem a tradição, pode ser certa, pode se errada, de só acontecer a prisão e o cumprimento de todas as decisões judiciais após o Supremo dar a última palavra. 

(*Especial para O Hoje) 

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