Waldir: de delegado “odiado” por motoristas bêbados a presidente do Detran-GO

Exatamente dez anos depois de ter sido, a contragosto, afastado da Delegacia Especializada em Investigações de Crimes de Trânsito (Dict), Delegado Waldir Soares dá o troco nas circunstâncias do modo com que ele priorizava o combate à violência de quem costuma dirigir irresponsavelmente. 

 Por pelo menos dois anos, Waldir Soares se transformou no delegado que causou “terror” nos motoristas bêbados que saíam às ruas e avenidas da capital. Titular da Dict, cargo que ganhou do então governador e aliado Marconi Perillo (PSDB), Waldir não descansava enquanto não conseguia levar às manchetes de jornais e em programas de televisão o assunto que normalmente não era destaque na imprensa, não fosse o jeito incisivo e gesticulador do delegado: a Lei Seca. 

Em algumas operações nas madrugadas, Waldir levava, com vários policiais, dezenas de presos para a carceragem da Dict, aplicava multas das mais altas do País e dava lição de moral aos bebuns. Como delegado, não perdia a chance de olhar para a câmera, apontar o dedo e chamar qualquer motorista embriagado que matasse alguém com a alcunha de assassino. 

Por sugestão dele, a Polícia Civil foi a segunda no Brasil a solicitar à Justiça punição mais severa ao motorista que fosse flagrado embriagado: cinco anos sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH). 

A atuação de Waldir, no entanto, não agradou a cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e nem ao então governador Marconi Perillo. Depois de criticar, à época, o Detran, órgão do qual se tornou presidente esta semana, Waldir foi afastado da Delegacia de Trânsito. 

Na ocasião, o então delegado teceu críticas ao Detran porque o órgão não havia permitido que ele a delegacia da qual era titular participasse da “Balada Responsável”. Ele chegou a chamar a ação de “circo”. “Esse projeto mais parecia um grande circo. Era feito em locais específicos, onde todos sabiam onde aconteciam. Parecia mais uma propaganda, eles não queriam um trabalho em termos de qualidade”, disse ele, à época. 

Em entrevista ao jornal O Hoje nesta quarta-feira (8), Waldir prefere não comentar águas passadas, mas brinca: “A volta por cima”. E ri. Por outro lado, o presidente do Detran prefere dar detalhes da rotina no órgão.

Delegado Waldir já cumpre expediente no Detran após ser nomeado pelo governador Ronaldo Caiado, do qual se tornou aliado. “Hoje [quarta-feira] recebi no Detran o comandante do Batalhão de Trânsito para fortalecer as parcerias”, conta ele, antes de se gabar de algumas ações que estão de pé até hoje, mas que foram implantadas quando ele era titular da Dict. “Eu criei a presença do perito, a presença do PM e da Polícia Civil no local do acidente com a vítima fatal. Antes era só o IML. Na época aplicava 25% do valor de fiança sobre o valor do veículo. Os delegados que se seguiram também continuam com essa punição aos motoristas infratores”.  

“Ao assumir o Detran”, diz o presidente, “garanto que a Balada Responsável vai continuar”. E mais: “vamos ampliar as parcerias com a PM. Vamos atrair também a Guarda Municipal e agentes de trânsito. Vamos falar com os prefeitos que têm interesse. E devemos receber a Polícia Rodoviária Federal.”

E, para aqueles que reclamaram da atuação do Delegado Waldir na Dict, ele deixa um recado: “Com o decorrer dos dias, vai ter um choque contra crimes no trânsito. Vamos ficar atentos aos eventos que haja uso de álcool. 

Mirando no futuro, Delegado Waldir pensa em projetos inovadores, como a criação do “anjo da guarda”. “Vamos criar um cadastro para que pessoas que não bebem, católicas, evangélicas, possam se voluntariar a buscar pessoas que estejam em eventos que tenham bebida alcoólica. A intenção é evitar mortes no trânsito”. Sobre alguma contrapartida, o presidente do Detran afirma que vai estudar, junto à Procuradoria, uma forma de beneficiar esses “voluntários”.