Caiado continua em guerra declarada com a Enel

Desde o começo do primeiro mandato, governador tece críticas a antiga concessionária de distribuição de energia em Goiás

Postado em: 27-03-2023 às 07h47
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Caiado continua em guerra declarada com a Enel
Desde o começo do primeiro mandato, governador tece críticas a antiga concessionária de distribuição de energia em Goiás | Foto: Reprodução

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) nunca poupou críticas a Enel. Mesmo agora, quando a concessionária já deixou a distribuição de energia em Goiás, o gestor diz que a empresa italiana segue dando dor de cabeça a ele. 

No sábado (25), o governador disse que a empresa tentava atrapalhar a licitação para o aluguel de ônibus elétricos que serão utilizados na linha do Eixo Anhanguera, em Goiânia e região metropolitana com questionamentos no prazo final do processo sobre temas que ela própria participou. O processo licitatório está previsto para esta segunda. 

O governador revelou que a Enel fez mais de 100 questionamentos em âmbito administrativo e pediu a suspensão do certame. O pedido ocorreu às 22h de quinta-feira (23), o último prazo para recursos do processo. Na sexta-feira (24), a Metrobus respondeu todas as questões. A Enel, então, entrou com um mandado de segurança na Justiça para suspender a licitação.

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“Não chega a surpreender. Nunca vi a Enel como uma empresa, mas como uma facção criminosa que entrou em Goiás de forma obscura e quase destruiu nosso sistema energético. Agora tenta impedir a melhoria do transporte coletivo de Goiânia”, disse o governador

Segundo ele, “trata-se de uma manobra clara com o único objetivo de prejudicar a licitação, visto que alguns dos questionamentos se referem à modelagem que a própria Enel propôs quando apresentou seu Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), ainda no ano passado”.

O governador ressaltou, ainda, que a defesa do Estado será apresentada o quanto antes. “Não temos nada a esconder. Nosso objetivo é promover ampla melhoria no transporte da região metropolitana. Quanto à Enel, ainda nos questionamos se é uma empresa ou um braço da máfia italiana.”

A companhia foi procurada para se posicionar. “A Enel X informa que enviou solicitações de esclarecimento e sugestões técnicas para o processo de licitação de ônibus elétricos para o Estado de Goiás. Com base na legislação, a companhia solicitou mais prazo para apresentação das propostas de todos os  candidatos, em função das recentes alterações realizadas no edital”, resumiu em nota. 

Críticas passadas

Desde dezembro, a Agência Nacional Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a concessão para a Equatorial Energia, permitindo assim a transferência do controle da distribuição de energia no Estado. Mas o clima com a Enel, que já não era muito bom, piorou muito a partir de junho de 2022. 

Isto, porque desde aquele momento começou a circular informações que a Enel negociava a venda da distribuidora de energia por valores bilionários. Em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, à época, o presidente da companhia, José Nunes, ao ser questionado sobre a falta de transparência, afirmou ter que manter sigilo.

Diante das declarações, Caiado publicou nas redes sociais que a época dos negócios por debaixo dos panos acabou. “A Enel parece que ainda não entendeu que em Goiás acabou a época dos negócios por debaixo dos panos. Não vamos admitir que a empresa discuta a venda da sua concessão como distribuidora de energia elétrica no Estado sem dar a devida transparência a todo o processo.”

Outra crítica recorrente era falta do cumprimento de metas de eficácia pela Enel. Durante a votação da Aneel, os diretores apontaram que ela não cumpriu em 2021 e que não também não cumpriria em 2022. De fato, o contrato do início da concessão já previa o fim da concessão por esse motivo. 

Em relação ao “negócio”, a Enel Distribuição Goiás foi vendida para a Equatorial no dia 23 de setembro deste ano por R$ 1,6 bilhão. A autorização da Aneel, todavia, saiu em dezembro. A empresa italiana estava em Goiás desde 2016, quando arrematou a Celg-D em lance único de R$ 2,1 bilhões.

Antes disso

Mas bem antes disso, em dezembro de 2019, fim do ano inaugural da primeira gestão de Ronaldo Caiado, o governador levou uma representação contra a empresa ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras. Ele já vinha se pronunciando pela encampação da concessão – que seria a administração tomar a posse de uma empresa privada mediante compensação, uma anulação de contrato. 

No documento, estavam os diversos prejuízos causados pela Enel ao longo de 2019. Entre outrs coisas, a representação apontava que “as manutenções pela concessionária de energia não estão sendo realizadas de forma imediata, e demoraram às vezes 24 horas ou mais para serem restabelecidas”.

“Desde o início do governo, estamos firmando diversos acordos com a Enel, mas eles se sentem acima de qualquer regra. Dizem que resolvem os assuntos em Roma. Eu, como governador, não posso ficar esperando a divina providência. Tive que agir agora de uma maneira mais séria, porque não é possível continuarmos com uma empresa que não cumpre sua função e está sendo um impeditivo de investimentos no estado, deixando hospitais sem energia, e causando prejuízos gravíssimos aos comerciantes e produtores”, disse Caiado à revista Exame, naquele ano.

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