Afastamento de Cruz não é interessante para Policarpo
Embora haja uma distensão entre Paço e Câmara, tendência é que ânimos se acalmem
Por: Yago Sales
Acostumado a trabalhar apenas nos bastidores, com esparsas declarações públicas, o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Romário Policarpo (Patriota), caminha para afrouxar qualquer intenção de bancar o impeachment do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos).
A leitura é a de que, a um ano e meio para o fim do mandato de Cruz, o papel de enfrentamento entre parte dos vereadores e a gestão do prefeito perderia fôlego. E criaria um clima de cisão política entre diversos atores políticos. E Policarpo, que tem tido o nome discutido para disputar à prefeitura, sairia com adjetivos que não combinam com um jovem político que tem muito pela frente.
No terceiro mandato de presidente da Casa Legislativa, Policarpo às vezes assume a cadeira de prefeito, quando Cruz se ausenta. É que Goiânia não tem oficialmente um vice. Eleito na vice na chapa com Maguito Vilela, Cruz assumiu o cargo depois da morte do titular logo depois da eleição em 2020.
A gestão do prefeito tem sofrido reveses. Enfrentou e saiu ileso com o desgaste do aumento do IPTU, mas passou a desagradar parte dos vereadores. Em resposta, foi instaurada uma Comissão Especial de Inquérito (CEI), que investiga supostas irregularidades na Comurg, autarquia comandada por Alisson Borges. Entre suspeitas de pagamento por obras que nem sequer foram iniciadas – tampouco entregues – a nepotismo, o órgão virou um calcanhar de aquiles na gestão municipal.
Com tudo isso, Cruz aguarda – e tem trabalhado para isso – que seu nome seja viabilizado para que o Republicanos, partido do qual faz parte, aposte nele para o projeto de reeleição no ano que vem.
Até o momento, dois pedidos de impeachment contra o prefeito foram protocolados na Câmara Municipal. Imediatamente a equipe do prefeito foi a público para defendê-lo com justificativas. De qualquer forma, em uma estratégia que já é quase certo que não vai terminar com o impedimento do prefeito, a Câmara solicitou ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) informações sobre o pedido de impeachment feito pelo estudante Kairo Vitor Barros.
Trata-se de uma medida meramente burocrática, que mais diz sobre arquivamento do que prosseguimento na Casa. Pelo menos é o que afirma fontes da Câmara, que não vê chance de Policarpo “chegar ao extremo” de “arrancar o prefeito” da cadeira de prefeito da capital.
Como disse-se no início do texto, Policarpo não é dado a declarações, sobretudo a jornalistas. Por isso chama atenção uma entrevista concedida pelo presidente à Rádio Bandeirantes na última terça-feira (4). Em resposta sobre os pedidos de impeachment contra o prefeito, Policarpo opina: “Um deles não acredito que tenha nenhum fundamento. O segundo também caminha para este mesmo assunto, de não haver fundamento. A gente não pode confundir má gestão com crimes”.
Num clima apaziguador, Policarpo, em tom elogioso, declarou: “Admiro o prefeito Rogério Cruz, acho uma pessoa bem-intencionada, mas acho que a prefeitura não tem tomado os rumos que a cidade merece e acho também que a população, boa parte dela, também vê isso”.
Por outro lado, Policarpo critica a forma com que a prefeitura tem tratado os desdobramentos da CEI que investiga a Comurg. “Está caminhando [a CEI], a prefeitura tenta insistir em algo que para mim é irreversível, ela tenta demostrar que os pagamentos antecipados não são ilegais, quando a lei diz totalmente o contrário”, disse ele também à Bandeirantes.
