Segunda-feira, 01 de julho de 2024

O histórico de construção do nome de Caiado à Presidência

Com discurso à direita e anti-petista desde 1989, Caiado construiu trajetória para concorrer disputa ao Planalto

Postado em: 13-04-2023 às 07h45
Por: Yago Sales
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Com discurso à direita e anti-petista desde 1989, Caiado construiu trajetória para concorrer disputa ao Planalto | Foto: Divulgação/ Junior Guimarães

“Brasil decente, Caiado presidente”, a frase foi entoada por centenas de pessoas que se aglomeravam na Avenida Paulista, famoso ponto de encontro de protestos na capital de São Paulo, ao redor do então senador Ronaldo Caiado, no dia 16 de agosto de 2015. Milhares de pessoas se reuniram no local em protesto contra a então presidente Dilma Rousseff, do PT. 

 À época, Caiado figurava entre as estrelas do DEM – agora União Brasil após fusão com o PSL -, quando se dava, a passos largos, o impeachment da petista, que tinha, em Caiado, uma voz crítica e estridente no Congresso Nacional. 

Cortejado por movimentos de direita, inclusive o Vem Pra Rua, Caiado era a personaficação do anti-petismo. No protesto, ele inclusive usava uma camiseta amarela do Vem Pra Rua, com uma mão em sinal de “basta”. Na ocasião do protesto na Paulista, Caiado foi abordado por um repórter da Folha, ao que ele comentou a forma como era tratado pelo grupo: “Isso tem a ver com a minha coerência. Não mudo de discurso para agradar quem quer que seja.”

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Em uma reportagem da revista ÉPOCA daquela semana, Caiado era chamado de “rei da Selfie” e de “estrela incontestável”. Para a revista, o então senador, rodeado de apoiadores, reconheceu o sonho de se tornar presidente. Questionado sobre se colocaria à disposição, comentou: “É uma decisão partidária, não individual. Mas não vou negar a minha vontade de ser presidente”. E, de fato, era um movimento, três anos antes de todo o jogo mudar, levando Jair Bolsonaro à Presidência.  

Naquela tarde na Paulista, cartazes traziam a inscrição “Fora Dilma”. Era a propulsão do que se tornaria o movimento de direita pelo País, que se transformaria no fenômeno do bolsonarismo, sob a liderança do então deputado federal de partido nanico, Jair Messias Bolsonaro, seguido pelos filhos Flávio, Educardo e Carlos Bolsonaro.

Agora, no início do segundo mandato como governador de Goiás, Caiado volta a ter o nome cotado para concorrer à Presidência em 2026. É que antes dos cinco mandatos na Câmara Federal, um no Senado, Caiado candidatou-se à cadeira presidencial em 1989, enfrentando 22 candidatos, alguns dos mais barulhentos políticos da época. Caiado era um jovem médico e fazendeiro, reconhecido pela atuação na União Democrática Ruralista (UDR). Ele comandou caravanas para Brasília pressionando os constituintes contra a reforma agrária. 

Entre eles, o atual presidente, que era líder sindical, Lula da Silva (PT), o liberal Fernando Collor de Mello (PRN – que venceria, mas sofreria impeachment), o poderoso Mário Covas (PSDB), o convervador Paulo Maluf (pelo PSD, atualmente PP), e os históricos Leonel Brizola (PDT) e Ulysses Guimarães (MDB).

Como já disse que não deve concorrer ao Senado, não reclamando quando conclamam por aí que a primeira-dama Gracinha Caiado pode concorrer à vaga em 2026, Caiado tem sido complacente com demonstrações públicas sobre colocar seu nome à disputa. 

Caso dispute, Caiado terá alguns embates contra alguns nomes vistos como mais moderados à direita, em contraposto ao extremismo de Jair Bolsonaro. Por enquanto, são os governadores de Minas Gerais Romeu Zema (Novo) e o de São Paulo Tarcísio Freitas (Republicanos). Além do próprio Lula, Caiado ainda poderia disputar com, claro, se não for impedido pela Justiça, Bolsonaro. 

Indicativo

Em março passado, uma fala de Caiado não chamou tanta atenção como deveria, sinalizando pretensões além do solo goiano. “Não disputarei mais mandatos em Goiás. Vou terminar o segundo governo de cabeça erguida e respeitado”, apressou em “avisar”. Ele repetia o que havia dito em encontro com deputados da base aliada no início do ano.

De maneira mais aberta e clara, o vice-governador e presidente do MDB goiano, Daniel Vilela, praticamente lançou a pré-candidatura de Caiado na abertura da Tecnoshow. Antes, o prefeito de Jataí, Humberto Machado (MDB), sugeriu que Caiado saísse do Palácio das Esmeraldas (construído por Pedro Ludovico) e fosse ao Planalto (construído por Juscelino Kubitschek). O trocadilho entusiasmou aliado.

Foi a deixa para Daniel, que vai concorrer ao governo em 2026, pedir a Caiado que se comprometesse com a população de Jataí. “O primeiro comício da sua candidatura a presidente vai ser em Jataí. E é um compromisso bom porque o primeiro comício do Juscelino Kubitschek foi em Jataí e ele ganhou a eleição. Então, vamos começar por essa tradição’”, afirmou.

Antipetismo 

No período do impeachment contra Dilma, fora da rua, no Senado Federal, Caiado discursava efusivamente. “O PT deixou a nação em frangalhos”, comentou em uma sessão. Como um dos porta-vozes do processo de impedimento da petista, ele também se dedicava a entrevistas e debates.

Corria pelo Congresso a quase certeza de que Caiado se viabilizaria com o candidato a presidente em 2018, dado a sua dedicação à oposição ao governo petista, que já era conhecido pelo embates ferrenhos contra os dois primeiros mandatos de Lula. 

Um ano depois daquele protesto na Paulista em que era chamado de presidente, Caiado, para o jornal espanhol EL PAÍS, defendeu o já avançado processo de impeachment. “O Brasil está passando por essa crise que tem nome, sobrenome e CPF. Nunca vi ninguém no país querer voltar a uma situação que o Brasil estava vivendo com o PT”, disse. 

Em maio de 2016, Caiado foi um dos 55 senadores – contra 22 – que votaram pela admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente. Ele era o líder do Democratas no Senado. Após 6 dias de julgamento, o Senado concluiu, em 31 de agosto, o afastamento de Dilma Rousseff, cassando o mandato da presidente, mas mantendo os seus direitos políticos. Foram 61 votos favoráveis e 20 contrários no julgamento. 

Enquanto Caiado era bajulado pela direita moderada ao mesmo tempo em que o poder do PT diluía-se no Congresso Nacional e nas ruas, a família Bolsonaro, com a saída de Dilma do poder, tomava proporções inimagináveis. 

Em agosto de 2017, Caiado discursou em um congresso internacional sobre mercados financeiros e capitais, quando chamou a atenção ao defender a candidatura de Lula da Silva, que estava engessado pela Lava-Jato de Sérgio Moro. “Preferiria, para não criar no Brasil mais um mito, um Chávez, um Perón. Lula, se não for candidato, vai dificultar ao Brasil se modernizar e para conseguir sair do populismo”, defendeu. 

A fala foi interpretada como se, quem a fizesse, fosse candidato à presidência no ano seguinte. “Gostaria que na eleição de 2018 pudéssemos enfrentá-lo e derrotá-lo e mostrar à população os males que eles fizeram ao País. Não que foram eles que inventaram a corrupção, mas que multiplicaram por mil e dilapidaram as estatais”, disse Caiado.

O nome de Caiado, por sua vez, não foi viabilizado, em meio ao campo minado pela polarização que se estabeleceu entre a candidatura natural de Jair Bolsonaro (vacilando entre 1° e 2° lugares em pesquisas de intenção de votos) e de Lula, freado pela Lava-Jato, que dando a missão ao petista Fernando Haddad, que acabou derrotado no segundo turno. O partido de Caiado acabou apoiando Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018, que ficou em quarto lugar, pior colocação da história do tucanato em uma disputa à Presidência. 

No segundo turno, Caiado, que disputou e venceu no primeiro turno o governo de Goiás, num manejo comum à direita, apoiou Bolsonaro no segundo turno e o candidato de extrema-direita venceu o pleito. 

De palavra

Com a pandemia, Caiado bateu o pé. Médico, foi favorável à ciência e confrontou o discurso negacionista do presidente, se tornando alvo dos apoiadores de Jair Bolsonaro, igualmente radicais quanto a medicamentos ineficazes e contra o distanciamento e uso de máscaras. Foram para a porta do Palácio das Esmeraldas pedir a abertura do comércio, ignorando a violência da Covid-19, que matava milhares de brasileiros diariamente. 

Com as arestas aparadas com o presidente, como aconteceu em 2018, Caiado apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição em 2022, em nome da coerência da trajetória do goiano no parlamento brasileiro. Ou seja, contra o projeto político do lulo-petismo.  Embora o União Brasil (fusão entre PSL e Democratas) esteja com três cargos no primeiro escalão, Caiado se mantém à distância, mantendo uma relação de cooperação com Lula. 

Depois da quebradeira promovida por bolsonaristas na praça dos três poderes no dia 8 de janeiro, Caiado aceitou o convite de Lula para reunião com todos os governadores. Prometeu auxílio para identificar e prender os baderneiros. E cumpriu.  

Não se sabe como vai ficar a cabeça do eleitorado brasileiro sem o nome de Jair Bolsonaro nas urnas em 2026. De qualquer forma, como tem sido desde 1989, haverá um contraponto ao Partido dos Trabalhadores, que ainda patina para atrair a popularidade além da sua base consistente, tendo em vista que a eleição se deu em um lugar de anti-bolsonaro e antipetismo. Até porque, não ficou tão claro qual lado das cordas foi o mais forte, diante da matemática da polarização, com uma diferença de 2 milhões de votos.

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