Segunda-feira, 01 de julho de 2024

De adversário a aliado: encontros e desencontros de Caiado e Daniel

Vilela disputou governo com Ronaldo Caiado em 2018, fez críticas nos primeiros anos de gestão, mas cerca de um ano antes da eleição de 2022 se tornou parceiro e provável sucessor

Postado em: 18-04-2023 às 07h57
Por: Francisco Costa
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Vilela disputou governo com Ronaldo Caiado em 2018, fez críticas nos primeiros anos de gestão | Foto: Reprodução

Na última sexta-feira (14), o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) não deixou dúvidas sobre a confiança no vice, Daniel Vilela (MDB), e afirmou que trabalharia para que ele pudesse sucedê-lo. Na ocasião, ele deixou claro que daria respaldo ao presidente estadual do MDB caso ele postulasse o Palácio das Esmeraldas, em 2026. Além disso, Vilela já assumirá, pela primeira vez, a gestão estadual, no fim do mês, uma vez que Caiado viaja para a Europa com a primeira-dama, Gracinha Caiado.

Mas nem sempre foi assim. Em 2018, Caiado e Daniel se enfrentaram em um pleito com alfinetadas, que terminou com a tranquila vitória em primeiro turno do atual governador com 59,73%, com mais de 1,7 milhão de votos. Vilela pontuou 16,14% dos votos válidos, tendo 479 eleitores. 

Mas não foi só isso. Em 2019, ainda no começo da gestão Caiado, o emedebista criticou os 60 primeiros dias de governo. “Mesmo falando durante campanha que o discurso de Caiado era vazio e sem propostas consistentes para o estado, nunca imaginei que o governo dele começasse de forma improvisada e tão mal. Ele está perdido, desnorteado.”

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Para ele, o governador deveria esquecer o discurso de terra arrasada – se referindo as gestões de Marconi Perillo (PSDB) e José Eliton (PSB). “Tem que parar com picuinhas e começar a trabalhar, porque sabia da situação do estado e foi eleito para resolver os problemas”, declarou marcando oposição. “Eu torço por Goiás e pelo goianos, mas infelizmente vejo que as coisas estão se encaminhando de modo no governo. Vamos ser rigorosos na cobranças das promessas de campanha, que foram muitas.”

Já em 2020, no começo da pandemia da Covid-19, o hoje vice-governador reclamou das medidas adotadas por Ronaldo Caiado. “Eu sempre soube, e ficou claro depois que assumiu o governo, sobre a sua característica de autoritarismo e de vaidade exagerada. Isso até não teria problema se não afetasse suas ações como governador. Mas tem afetado.” 

E continuou: “Veja só o último exemplo, o novo isolamento que ele queria impor, não seguia nenhum estudo técnico, nenhuma recomendação científica. Ele simplesmente acordou na segunda-feira (11/05/2020) falando em um novo decreto porque foi exposto perante a mídia nacional no final de semana como um governador que não estava conseguindo controlar o isolamento social no seu estado. Isso mexeu com a vaidade dele.” Ele também voltou a falar em governo “sem rumo” e disse que o governador precisava “colocar a mão na massa, ir atrás das soluções, colocar sua equipe para trabalhar”. 

Após as eleições municipais de 2020, contudo, o ex-prefeito Iris Rezende (MDB) começou a intensificar os trabalhos, não apenas pelo fortalecimento de Daniel, mas pela aproximação dele a Ronaldo Caiado – o líder histórico do MDB sempre foi próximo ao governador e defendeu essa parceria. Em 2021, inclusive, as críticas já tinham arrefecido. 

E foi justamente em setembro daquele ano, em total antecipação – muito criticada por aliados –, que o governador Ronaldo Caiado surpreendeu e anunciou que Daniel seria seu vice. “Maguito Vilela deixou sucessor e Daniel será meu vice na chapa em 2022”, disse aos gritos, durante encontro do MDB em Goiânia.

À época, ele lembrou que o MDB o ajudou a ser eleito senador, em 2014, e disse que nunca dispensou um voto de emedebista durante a trajetória. “Eu e Daniel nos enfrentamos em 2018, mas tínhamos um ‘inimigo’ em comum”, citou a gestão tucana e emendou nunca ter sido adversário de Vilela. 

Cerca de um ano depois, Daniel foi confirmado vice de Caiado em convenção. Em outubro de 2022, eles foram eleitos em primeiro turno com 51,81% dos votos válidos, mais de 1,8 milhão de eleitores. 

No governo

Daniel Vilela vai assumir o governo no fim deste mês. Isto, porque Caiado vai a Londres para participar do Lide Brazil Conference, nos dias 20 e 21 de abril. Trata-se de um evento para debater economia, desenvolvimento social, meio ambiente e agronegócio.

Nomes de peso estarão no evento com o Caiado. Entre eles, participam: o ex-presidente Michel Temer (MDB); os ministros do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro; além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; e os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e do Pará, Helder Barbalho (MDB).

Além disso, Caiado deve ficar, com a primeira-dama Gracinha Caiado, até 28 de abril fora do País. Durante esses oito dias, Daniel assumirá o Executivo Estadual pela primeira vez. 

Sucessão

Tudo indica que Daniel deve tentar suceder o atual gestor de Goiás. Além disso, existe a possibilidade de Caiado se desincompatibilizar meses antes da eleição para disputar o Senado ou à presidência, como querem aliados. Neste período, Vilela assumirá o comando de Goiás e irá se preparar para disputar o maior cargo do Executivo do Estado. 

Caso seja eleito, ele repetirá o cargo que o pai, Maguito Vilela (MDB) – falecido em janeiro de 2021 –, ocupou de 1995 a 1998. O saudoso emedebista também foi vice-governador (de 1991 a 1994), senador (1999 a 2007), prefeito de Aparecida (2009 a 2017) e prefeito de Goiânia eleito. Além disso, deputado estadual e federal, e vereador de Jataí.

Daniel, por sua vez, foi vereador por Goiânia, deputado estadual e deputado federal. E, desde janeiro deste ano, vice-governador de Goiás.

Daniel quer que MDB e União Brasil estejam unidos em todos os municípios goianos

Na última semana, durante convenção do União Brasil, o vice-governador e presidente estadual emedebista, Daniel Vilela, antecipou que, em 2024, nas eleições municipais, o MDB e o partido do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) estarão juntos em todas as cidades. “Nós já fizemos algumas reuniões da nossa executiva esse ano. Já demos a determinação no primeiro encontro. Em todos os 246 municípios ou o MDB vai estar de vice do União Brasil, ou UB tem que estar com o MDB”, disse.

Segundo ele, a aliança será “exemplo para o Brasil de unidade e maturidade política. De todos com a responsabilidade com o nosso estado, para podermos eleger os melhores em cada um dos municípios”. Ele espera, ainda, que “através do nosso governador Ronaldo Caiado possamos estabelecer as parcerias. Essa aliança construída em 2022, junto com PP, PSD e com tantos outros partidos. Talvez seja a maior aliança partidária que uma eleição em Goiás já tenha observado”.

Nacionalmente, ambas as siglas ocupam ministérios do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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