Os primeiros ministros que caíram dos últimos presidentes

Em pouco mais de 100 dias, Gonçalves Dias, pediu demissão do governo Lula; Bolsonaro, Dilma e Temer também tiveram baixas nos primeiros meses

Postado em: 22-04-2023 às 08h07
Por: Francisco Costa
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Em pouco mais de 100 dias, Gonçalves Dias, pediu demissão do governo Lula | Foto: Reprodução

Gonçalves Dias, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, pediu demissão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 19 de abril, pouco mais de 100 dias após o início do governo. O titular da pasta teve como motivação a divulgação de imagens do 8 de janeiro, em que aparece em tom ameno com golpistas que depredavam o Palácio do Planalto. 

O pedido de demissão ocorreu logo depois de uma reunião com Lula e outros ministros, justamente no Palácio. O vídeo foi divulgado pela CNN Brasil, ainda na manhã de quarta. Nele, Dias aparece escoltando terroristas à saída do Planalto. Um outro funcionário do gabinete cumprimenta invasores e outros servidores também foram flagrados entregando água aos terroristas.

Esta foi a primeira baixa de Lula. Contudo, não foi mais rápida do que a de seu antecessor, o presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 18 de fevereiro de 2019, o ex-mandatário do País exonerou Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral. Foram sete semanas no cargo. 

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À época, Bolsonaro gravou um vídeo para redes sociais com elogios a Bebianno, que se envolveu em uma crise com o presidente e o vereador Carlos Bolsonaro sobre candidaturas laranjas pelo então PSL – Gustavo era presidente da sigla e uma das figuras mais próximas do ex-presidente e responsável por repasses a candidatos. Ele se defendeu das acusações, dizendo não haver crise e que já tinha conversado com o gestor, mas foi desmentido por Carlos. 

Mas de volta a saída, Bolsonaro disse apenas que esta se deu por “diferentes pontos de vista” sobre o que chamou de “questões relevantes”. “Reconheço também sua dedicação e esforço durante o período que esteve no governo. Como presidente da República comunico que, na data de hoje, tomei a decisão de exonerar o senhor ministro-chefe da Secretaria-Geral. Desejo ao senhor Gustavo Bebianno meus sinceros votos de sucesso em sua nova jornada”, disse no vídeo. 

Também antes dos 100 dias, ele também demitiu o ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodrigues, em 8 de abril. O colombiano naturalizado brasileiro enfrentava problemas internos na pasta por causa de atritos entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho.

Um dia antes, Bolsonaro afirmou que o ministro poderia sair. “Segunda-feira vai ser o dia do ‘fico ou não fico’”, falou naquele momento. Veléz chegou a dizer que não entregaria o cargo. Na data da demissão, contudo, ele usou as redes sociais para comentar: “Agradeço ao presidente, Jair Bolsonaro, a oportunidade de estar à frente do Ministério da Educação. Confio em sua decisão e me despeço desejando ao professor, Abraham Weintraub, sucesso no cumprimento de sua missão.”

Mais de 100 dias

Já no caso da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) – será considerado o primeiro mandato –, o primeiro a sair foi ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, em 7 de junho de 2011. Ele deixou o cargo após uma reportagem da Folha de S.Paulo que apontava um aumento de 20 vezes do patrimônio dele entre 2006 e 2010. 

A Casa Civil comunicou em nota a saída. “O ministro Antonio Palocci entregou, nesta tarde, carta à presidenta Dilma Rousseff solicitando o seu afastamento do governo. O ministro considera que a robusta manifestação do Procurador Geral da República confirma a legalidade e a retidão de suas atividades profissionais no período recente, bem como a inexistência de qualquer fundamento, ainda que mínimo, nas alegações apresentadas sobre sua conduta. Considera, entretanto, que a continuidade do embate político poderia prejudicar suas atribuições no governo. Diante disso, preferiu solicitar seu afastamento.”

Michel Temer

O caso de Michel Temer (MDB) é atípico, pois o mesmo assumiu como presidente em exercício durante o processo de impeachment de Dilma, ou seja, em momento já turbulento. Contudo, ele detém o “recorde” de queda mais rápida de ministro desta lista. Romero Jucá (MDB) caiu uma semana e meia após ser nomeado ministro do Planejamento, em 23 de maio de 2016. 

Isso aconteceu no dia que a Folha divulgou uma conversa de Jucá falando em um “pacto” para barrar a Lava Jato. Ele conversava com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. 

O então presidente em exercício, Michel Temer, divulgou nota do afastamento “até que sejam esclarecidas as informações divulgadas pela imprensa”, mas exaltando a “dedicação” e trabalho “competente” do ministro. “Conto que Jucá continuará, neste período, auxiliando o Governo Federal no Congresso de forma decisiva, com sua imensa capacidade política.”

Gonçalves Dias

A queda do ministro Gonçalves Dias liga alerta no governo Lula. O que era narrativa, sobre um governo 100% vítima dos ataques golpistas de 8 de janeiro, agora levanta uma questão: quem mais da gestão tem algum tipo de envolvimento? 

Por óbvio, não há qualquer prova ou indicativo do envolvimento do presidente. Contudo, é ele quem terá que lidar com esta crise. Ainda na quarta-feira, a secretaria de Comunicação emitiu uma nota sobre o ocorrido. 

“A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio.

As imagens do dia 8 de janeiro estão em poder da Polícia Federal, que tem desde então investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais.

No dia 17 de fevereiro, a Polícia Federal pediu autorização para investigar militares e, a partir do dia 27 de fevereiro, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), tem realizado tais investigações, inclusive com a realização de prisões.

Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI.

O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio.

E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.

A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro.”

O GSI, por sua vez, ainda antes da demissão, informou que apuraria a conduta dos militares que estavam no local. “A respeito de reportagem veiculada no dia de hoje, sobre os ataques do 8 de janeiro, o GSI esclarece que as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança, que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos.”

E ainda: “Quanto às afirmações de que agentes do GSI teriam colaborado com os invasores do Palácio do Planalto, informa-se que as condutas de agentes públicos do GSI envolvidos estão sendo apuradas em sede de sindicância investigativa instaurada no âmbito deste Ministério e, se condutas irregulares forem comprovadas, os respectivos autores serão responsabilizados.”

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