Quinta-feira, 28 de março de 2024

O traumático relacionamento entre Lula e agronegócio

Para entender como anda o humor do agronegócio com relação a Lula, a reportagem do jornal O Hoje consultou especialistas em agronegócio em Goiás

Postado em: 09-05-2023 às 07h57
Por: Yago Sales
Imagem Ilustrando a Notícia: O traumático relacionamento entre Lula e agronegócio
Para entender como anda o humor do agronegócio com relação a Lula, a reportagem do jornal O Hoje consultou especialistas em agronegócio em Goiás | Foto: Nacho Lemus

Com o último episódio na Agrishow, com a desistência do ministro da Agricultura Carlos Fávaro de ir ao evento por causa da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, o estremecimento da relação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o setor do agronegócio ficou ainda mais evidenciado. 

Em paralelo às dificuldades do produtor – e de toda a cadeira – que pode superar 10 bilhões, ainda existe essa instabilidade do governo federal, que tem tentando – nem tanto assim – se aproximar do setor. 

Enquanto grande parte dos produtores acreditam que inexiste interesse por parte do governo para sanar alguns problemas que ajudariam a fortalecer ainda mais a oferta da produção para o exterior, analistas também dividem a culpa com os próprios produtores, que não querem se sentar com a equipe de Lula para deixar tudo às claras. 

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Para entender como anda o humor do agronegócio, a reportagem do jornal O Hoje consultou um dos principais especialistas em agronegócio em Goiás, Enio Fernandes. Além de produtor, ele é professor e palestrante. Para ele, há uma preocupação, já que houve uma perda de pelo menos dez bilhões, num somatório de vários fatores. E não apenas na soja e no milho, mas também no preço do boi, para o qual ele tem uma explicação.  

“O preço da arroba cresceu muito. E foi estimulando a criação de bezerro, que foi supervalorizado por causa da super oferta. Depois o boi magro. Essa queda de demanda fez o preço cair, no caso do boi”. 

Sobre a soja, ele lembra que, por causa da chuva de fevereiro e março, houve infortúnio tanto na colheita como na hora de escorrer os grãos pelos portos. “A colheita da soja, que é a precoce, foi colhida no ciclo médio. Muita chuva em fevereiro e março, com operação lenta. Retardou a colheita. Os portos receberam muita chuva, não conseguindo embarcar toda a soja, criando filas. Com isso, houve colapso na colheita e no porto. E, quando chegou, pouco se vendeu”, destaca ele.   

De qualquer maneira, Enio lembra que o agronegócio brasileiro, mesmo com as intempéries, consegue ser um dos mais importantes do mundo, sobretudo diante da política de produção socioambiental. “Enquanto outros países sucumbem, a gente cresce na produção do agro”. 

Mesmo assim, Enio lembra, durante a entrevista, alguns pontos que os governos estadual e federal precisam melhorar. “Tem que ter atenção para o desenvolvimento de infraestrutura. Nosso déficit de armazenagem é enorme”, explica e acrescenta: “A gente alimenta boa parte do mundo. Com investimento a gente resolve isso em um tempo saudável”. 

Ainda de acordo com Enio, os produtores precisam se comunicar melhor. “Temos a melhor produção socioambiental. Um código ambiental que não agrada nem produtores nem ambientalistas, o que é bom, porque chega a um consenso, mas que é respeitado. É bom mostrar isso lá fora”, acredita ele. 

Mas ele faz um adendo: “A transformação na pecuária, cada vez mais sustentável, fica amenizada porque foi encontrado boi em determinada área da Amazônia. É um fato que impacta todos os produtores. O mesmo acontece quando encontram-se garimpeiros”, pontua. 

Sobre a relação de Lula da Silva do setor, ele aponta erros de ambos os lados. Enquanto Lula desafia o produtor, que é preocupado com suas terras, constantemente preocupado com invasões de membros do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), levando o líder para a China, os produtores torcem o nariz para uma conversa mais franca com o governo. 

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