Fora do debate há meses, Ciro volta à cena de olho em 2026

“Aproveitar o momento em que Bolsonaro derrete e que Lula ainda não conseguiu se firmar para ganhar projeção”, argumenta cientista político

Postado em: 15-05-2023 às 08h00
Por: Francisco Costa
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“Aproveitar o momento em que Bolsonaro derrete e que Lula ainda não conseguiu se firmar para ganhar projeção”, argumenta cientista político. | Foto: PDT

O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), enfim, voltou ao ataque. Afastado dos confrontos desde a derrota das eleições do ano passado, o pedetista voltou a fazer críticas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Jair Bolsonaro (PL). 

Professor e cientista político, Marcos Marinho diz o papel do pedetista é ser “o melhor Ciro que puder ser” e “ocupar algum espaço no espectro político”. Ele cita que, mesmo Bolsonaro – que segue cada vez mais para o extremismo – ficando inelegível, Gomes não encontrará guarita neste segmento, que deverá ser preenchido por alguém da direita. Em relação a esquerda, ele também encontra resistências, pois foi muito agressivo no pleito passado. 

“Então, o momento é de buscar visibilidade. Articular para conseguir um contraponto.” Sobre o recolhimento de Ciro nestes meses, Marinho atribuiu a votação e, também, ao apoio do PDT a Lula, do qual o político manteve distanciamento. 

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Por causa disso, inclusive, ele pode manter a postura de buscar lacunas para ocupar. “Aproveitar o momento em que Bolsonaro derrete e que Lula ainda não conseguiu se firmar para ganhar projeção. Mesmo sem mandato, Ciro está no cenário político nacional”, aponta.

Palestra com críticas

Na última sexta-feira (12), ele participou da palestra “Brasil: que futuro?”, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Em relação aos apontamentos, Ciro disse que o País não possui mais projeto para nada.

Ele criticou o teto de gastos – que se manteve, exceto para o Bolsa Família –, mas também o arcabouço fiscal proposto por Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda. Segundo ele, a medida está “completamente entregue à banqueirada”. Declarou, ainda que estão sendo liberadas “todas as emendas da roubalheira do governo Bolsonaro”, se referindo ao orçamento secreto – emendas do relator. “R$ 9 bi foram liberados das emendas do Bolsonaro para construir maioria para votar o arcabouço fiscal.”

Na ocasião, ele também disse que o atual reacionarismo no País é culpa de Lula. Ele afirmou que o petista não tem compromisso com a mudança. Outra crítica feita por ele é a possível indicação do advogado Cristiano Zanin ao Supremo Tribunal Federal (STF) – defensor do atual presidente é o favorito para a vaga (já disponível) de Ricardo Lewandowski. 

Ciro, ainda, falou sobre as condenações de Lula que foram anuladas. “O Lula foi parar na cadeia. Será possível que não aprendemos nada ou nós acreditamos que o Lula foi inocentado? Ele não foi inocentado. O Lula teve direito a presunção de inocência restaurada, é diferente de ser inocentado num julgamento, por quê? Porque o processo devido legal ele nunca teve, e eu denunciei na mesma hora.”

Ainda assim, Ciro disse que com Lula existe diálogo, diferente de Bolsonaro. “Com Lula eu saio para tomar uma cerveja para dizer essas verdades todas para ele. Com Bolsonaro, eu não saio.”

Inclusive, no começo de sua fala, o pedetista fez críticas ao ex-presidente. Inicialmente sem citar nome – mas fez uma piada e depois falou -, chamou de “imbecil”, “despreparado absoluto”, “ladrãozinho vulgar”. Ainda segundo ele, Bolsonaro já “tinha antecedente”, antes de ser eleito, pois “roubava dinheiro da gasolina do gabinete e dos funcionários fantasmas, mas ninguém quis ouvir” por causa do cenário econômico da época. 

PDT

Destaca-se, o PDT faz parte da base do governo Lula. Presidente licenciado da legenda, Carlos Lupi é ministro da Previdência. Antes de ser indicado, ele conversou com o Jornal O Hoje e afirmou que Ciro não participaria do governo. “Não fará parte”, foi contundente.

Vale lembrar, em 4 de outubro, dois dias após o primeiro turno, o PDT anunciou apoio a candidatura de Lula. Na primeira etapa, Ciro Gomes foi candidato à presidência da República. Ele ficou em quarto lugar, com 3,5 milhões de votos (3%).

Durante reunião da Executiva, à época, Lupi agradeceu Ciro, “que muito nos honrou em levar nossas bandeiras e nossos projetos a todos os cantos do País”, mas ressaltou a situação: “É um momento extremamente delicado que a República passa. Temos um presidente absolutamente incapaz, que deixou milhões de brasileiros à própria sorte, responsável pela morte de mais 700 mil na pandemia. Em 42 anos de história, o PDT jamais deixou de se posicionar nos momentos mais complexos da vida política brasileira, e não será agora que isso irá acontecer.”

Ciro endossou o apoio. Vale lembrar, o presidenciável fez duras críticas a Lula durante a campanha. Ele, inclusive, chegou a chamar o voto útil pedido pelo petista para tentar fechar a conta em primeiro turno de “campanha fascista” – em 2018, o pedetista também fez campanha por voto útil ao citar que só ele poderia vencer Bolsonaro em eventual segundo turno. 

Gomes também declarou, durante a campanha, que Lula e Bolsonaro tinham o mesmo projeto econômico. Logo após a decisão do partido, contudo, ele gravou vídeo acompanhando o PDT. “Gravo esse vídeo para dizer que acompanho o partido. Frente as circunstâncias é a única saída.”

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