MST dificulta relação do agro com o governo Lula

Com a política de demarcação de terra e anuência às ocupações do MST, Lula aumenta a desconfiança do setor sobre alguma vantagem de ter o petista na presidência

Postado em: 16-05-2023 às 08h06
Por: Yago Sales
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Com a política de demarcação de terra e anuência às ocupações do MST, Lula aumenta a desconfiança do setor sobre alguma vantagem de ter o petista na presidência | Foto: Marcelo Camargo/ABr

A guerra político-ideológica está mais viva do que nunca na relação entre o agro e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em grupos de WhatsApp, muitos dos quais usados para apoiar o projeto de reeleição – derrotado – de Jair Messias Bolsonaro (PL), se tornou um instrumento para acirrar ainda mais a cisão. E críticas e lamentos em relação a Lula e seu alto escalão parecem não ter fim. 

Não é de hoje que o agro não engole Lula que, sob a política de demarcação de terra e anuência às ocupações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), aumenta a desconfiança do setor sobre alguma vantagem de ter o petista na presidência. 

Por isso o agro se empenhou tanto – desde sempre, aliás – para ou derrotar Lula nas urnas ou convencê-lo de que o setor é uma âncora de subsistência – não apenas da economia, mas para a luta contra a fome, além do Brasil de outros tantos países que importam os produtos brasileiros. 

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A briga por narrativa tensiona ainda mais, principalmente os produtores aquém às discussões políticas no Planalto Central e, pela internet, recebem recortes de notícias editorializadas. E quem perde com tudo isso, evidentemente, é o produtor, sobretudo o pequeno e médio. 

É que, em resposta às pressões e uma aproximação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula não fica para trás e continua mantendo distanciamento com o setor. E o setor não é apenas o produtor lá na sua fazenda, mas a grande Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que, a depender dos próximos capítulos, pode emperrar, e muito, a governabilidade de Lula. 

Passados os perrengues dos primeiros meses, o governo, e seus tantos ministérios, já constroem uma identidade. Com isso, pegou mal a ida de integrantes do alto escalão desse terceiro mandato de Lula a uma feira do MST. Além do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), foi ao evento o ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. 

Na ocasião, o vice de Lula foi aclamado e chamado de “guerreiro do povo brasileiro”. Embora não tenha ido à feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se tornou um garoto-propaganda de um fubá produzido pelos produtores ligados ao MST. 

Parlamentares ligados ao agro não gostaram nenhum um pouco da cortesia ao MST, tendo em vista que há uma tensão entre produtores rurais e o movimento devido a diversas ocupações de fazendas desde que Lula assumiu a Presidência e, por enquanto, não repreendeu, pelo menos publicamente, as lideranças. 

O vice-presidente da FPA na Câmara, o deputado federal Evair de Melo, do PP de Ciro Nogueira, respondeu à visita com uma frase intrigante: “o governo arrancou a ponte com o agro”. E, taxativo, interpretou: “não tem mais diálogo”. 

Além do último episódio, ocorreu que o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que foi desconvidado pela Feira Agrishow, uma das mais importantes do setor do agro da América Latina, quando anunciou que Jair Bolsonaro iria ao evento. 

Em resposta, Lula disse que o Banco do Brasil, que patrocina o evento, não daria um real. Tudo em represália, o que causou ainda mais ira nos representantes do agro. 

Enquanto isso, um grupo de críticos à política do Governo Federal com o agronegócio, propagandeia que o setor vai sofrer com falta de recursos. Em visita a Goiás na semana passada, por outro lado, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, direcionando a fala ao governador Ronaldo Caiado, defendeu que o governo federal está trabalhando para que este ano “tenha o melhor plano safra dos últimos anos”. Isto, diz o vice de Lula, para estimular o setor da agricultura. 

“Estamos trabalhando permanentemente para conquistar mercado para o Brasil. Sempre o setor produtivo precisa ter uma tríade: câmbio, juros e imposto. Ela é definidora, se a gente vai avançar mais ou menos. O câmbio está bom, em torno de R$5 reais é competitivo. Ele ajuda as exportações”, citou o vice-presidente, que não perdeu a chance de defender uma das propostas mais polêmicas do governo. “A reforma tributária vai simplificar e o grupo como o Nardini vai ser estimulado à exportação, porque a reforma vai acabar com acúmulo de crédito. Os juros vão cair”, prometeu.

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