Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Tensão ainda pauta expectativa do encontro de Lula com o agro goiano

Lula tem dado sinais de que deseja reconquistar o agro, de maioria bolsonarista. Apesar dos acenos, presidente disse que “não trabalha para agradar um setor ou outro”

Postado em: 17-06-2023 às 11h00
Por: Felipe Cardoso
Imagem Ilustrando a Notícia: Tensão ainda pauta expectativa do encontro de Lula com o agro goiano
Lula reforçou que não há incompatibilidade entre o pequeno e o grande produtor | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ainda paira no imaginário dos goianos a dúvida sobre como será a primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Goiás — predominantemente ligado ao agronegócio e mais: de maioria bolsonarista. A expectativa era de que a resposta viesse na última última sexta-feira (16), o que não aconteceu. 

Acontece que o presidente precisou cancelar a agenda em solo goiano. Lula desembarcaria na cidade de Rio Verde, vista, nos bastidores da política nacional, como berço do bolsonarismo. Logo cedo, diversas lideranças marcavam presença no evento em que Lula participaria da cerimônia de conclusão das obras da ferrovia Norte-Sul.

A viagem foi cancelada por mau tempo. Segundo ministros de Lula — e até o próprio presidente que gravou um vídeo, mais tarde, explicando a situação —, o avião presidencial não conseguiria pousar por “falta de teto”. A expressão é usada quando a mais baixa camada de nuvens está em uma altura mínima estipulada, o que torna pousos perigosos.

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A obra foi iniciada há 36 anos, em 1987, quando José Sarney ainda estava no comando do País. O ex-presidente, inclusive, acompanharia o petista na agenda de ontem. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (MDB) confirmaram presença no evento. 

Alguns manifestantes aguardavam o desembarque de Lula para protestar. Faixas com diferentes imagens do presidente e frases que associavam a organização criminosa, desvio de recursos públicos e a prisão foram fixadas nos arredores do local do evento. 

“Aqui ladrão não é bem-vindo”, “temos um ladrão visitando Rio Verde, cuidado!”, “quadrilheiro”, “o encantador de burros”, foram algumas das frases impressas nas faixas fixadas por manifestantes que relataram que a iniciativa foi independente e espontânea.

Nos bastidores, a leitura é de que a vinda, agora adiada, do presidente tinha como pano de fundo a tentativa de reconquistar o agro. Lula, inegavelmente, tem se empenhado em acenar para o setor desde que assumiu pela 3ª a presidência da República. Para resgatá-los, o político tem se empenhado na estruturação de uma nova política de créditos e preços. 

O petista, inclusive, fez questão de falar sobre a relação com o setor em sua primeira live. A transmissão, realizada na última terça-feira (13), foi marcada, dentre outras coisas, pela baixa quantidade de espectadores simultâneos — menos de 6 mil. 

Durante o bate-papo, Lula disse nunca ter tido problemas com o agronegócio brasileiro ao longo dos últimos oito anos em que governou o País. “Eles sabem tudo que fizemos por eles. O salto de qualidade foi por causa do financiamento de máquinas que fazíamos. Era 2% ao ano. Hoje 14%”, disse – aqui a informação foi incorreta por parte do petista, uma vez que a menor taxa de Lula foi 3%, em 2009, enquanto no governo Bolsonaro (PL) esta chegou a 2,8% (2020 e 2021).

Ainda segundo o gestor, do ponto de vista econômico eles não têm problema. “Se é ideológico, paciência.” Na ocasião, ele também reforçou que não há incompatibilidade entre o pequeno e o grande produtor. “Precisamos dos dois.”

Ele ressaltou que um produz para exportar e outro para o mercado interno. “Mas é o pequeno e médio que cria aquela galinha caipira que você gosta, o feijão”, brincou e reforçou: “Precisamos ajudar os dois. Vamos anunciar o plano safra para o dois. E todos vão perceber que não existe nenhuma objeção do governo a eles, queremos crescer juntos”, disse em um claro sinal de tentativa de aproximação com o setor. 

Depois da sequência de análises nesse sentido, Lula recuou. Dois dias depois — na última quinta, 15 — disse em entrevista que não trabalha para agradar o agronegócio. “Não trabalho para agradar um setor ou outro. Caso contrário a gente fica maluco. São milhares de setores no Brasil. Eu trabalho para criar condições melhores para o trabalho de 215 milhões de brasileiros, dentre eles o agro”. 

Na sequência, o petista ainda aproveitou para mencionar integrantes do agronegócio de Rio Verde, região que ele visitaria um dia depois. “Se você conhecer alguém do agro de Rio Verde, alguém muito reacionário, alguém que é contra o Lula e o PT, pergunte para ele se houve algum momento na história em que o agro recebeu tantos recursos quanto no governo do PT”, disparou. O encontro, contudo, seguirá, até a próxima agenda, tão tenso quanto aguardado.

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