“Incerteza” garantiu a manutenção de taxa Selic, dizem economistas

Presidente Lula classificou como irracional a taxa básica de juros em 13,75% e disse que presidente do BC joga contra a economia do Brasil

Postado em: 23-06-2023 às 07h00
Por: Francisco Costa
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Presidente Lula classificou como irracional a taxa básica de juros em 13,75% e disse que presidente do BC joga contra a economia do Brasil. | Foto: Marcelo Camargo

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, pela sétima reunião seguida, a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. A decisão unânime foi publicada na quarta-feira (21) pelo Banco Central (BC), presidido por Roberto Campos Neto. Economistas comentaram a manutenção ao Jornal O hoje.

Para o economista Aurélio Troncoso, a manutenção já era esperada. Ele, contudo, lamentou a posição do BC, visto que uma redução de 0,25%, que deveria ter ocorrido na visão dele, tranquilizaria o mercado. “O receio do Banco Central é a gastança do governo e que isso aumente a dívida pública. E, consequentemente, gere um aumento na inflação”, argumenta. 

“Com a aprovação do arcabouço fiscal, mesmo sem mostrar onde cortar gastos, o BC passa a ter um instrumento que possa acompanhar as ações do governo, porque até agora o Banco não tinha nada como base para poder acompanhar. Bom ou ruim, agora terá”, complementa. Ele argumenta, porém, que o problema é que juros altos “matam todo mundo: o governo, as empresas e os empregos”.

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Sobre o arcabouço fiscal, principal medida econômica do atual governo, o Senado aprovou o texto-base na noite de quarta-feira (21). Por haver mudanças, ele retornará à Câmara dos Deputados, onde não há consenso em manter as alterações. Ressalta-se, o texto vai substituir o teto de gastos e prevê um mínimo para o crescimento de gestos públicos, sendo condicionado ao aumento da receita.

IPCA

Destaca-se, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao fim de 2023 foi rebaixada de 5,42% para 5,12% e de 4,04% para 4% em 2024. Nos dois anos seguintes, as reduções foram de 3,9% para 3,8% e de 3,88% para 3,08%, respectivamente. Na reunião de agosto, inclusive, a expectativa é do Copom rever a taxa para 12,25%.

Mas ainda sobre a manutenção, a economista Andreia Magalhães, por sua vez, acredita que a ideia do Copom é manter a taxa no mesmo patamar de juros pela incerteza do mercado internacional com relação ao Brasil. “Argumentaram que a inflação está desacelerando, mas há, ainda, alta para o consumo das famílias.”

De acordo com ela, o que é possível visualizar é que, nos próximos 40 dias – em agosto haverá nova reunião –, o Conselho terá avaliado o cenário brasileiro, comparando com o período anterior. “Nesse momento, haverá chance de então a taxa Selic começar a ser reduzida, ainda que em percentual pequeno.”

Presidente da CAE

Presidente Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no Senado, o senador por Goiás Vanderlan Cardoso (PSD) também fala em previsibilidade. “O BC já tinha dado sinais que a taxa ia permanecer. Ainda falta aprovar o arcabouço fiscal, por isso todos os sinais eram pela permanência da taxa.”

Vanderlan, contudo, afirma que o comunicado do Copom foi interessante no sentido de falar da possibilidade de baixar a taxa em agosto. “Principais jornais, bancos e mercado acenaram positivamente para essa expectativa. Então, em agosto, crio que tenhamos um percentual maior na redução”, avalia.

Questionado o que achou da manutenção em si, o senador diz que esperava uma baixa, mas que compreende a situação. “O Banco Central é muito conservador, mas eles sabem o que estão fazendo. Precisamos ter um pouquinho de calma.”

Manifestação

A Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) se manifestou nesta semana contra a alta da taxa básica de juros. Junto com ele, sindicatos patronais e entidades laborais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Força Sindical Nacional, Força Sindical Goiás, Sindicato dos Metalúrgicos de Catalão (Simecat). Não adiantou.

Na ocasião, o presidente da Fieg, Sandro Mabel, disse se tratar da maior taxa de juros reais do mundo. Naquele momento, ele também afirmou que o patamar da Selic inibia novos investimentos e, consequentemente, o crescimento do País, prejudicando o setor produtivo. “Os altos juros penalizam o setor produtivo e toda a sociedade. Precisamos ter uma economia competitiva para retomada da industrialização e isso passa, necessariamente, pela redução dos juros.”

O Jornal O Hoje procurou Mabel para comentar a manutenção da taxa Selic. Entretanto, até o fechamento desta edição não houve retorno. 

Lula

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já nesta quinta-feira (22), a manutenção da taxa Selic é “irracional”. Segundo ele, Campos Neto joga “contra os interesses da economia brasileira”. Ele ainda pediu que o Senado avalie se o presidente do BC cumpre a lei.

As declarações de Lula ocorreram em Roma, na Itália. “Acho que esse cidadão [Campos Neto] joga contra a economia brasileira. Ele não tem explicação aceitável, porque a taxa de juros está a 13,75%. Não temos inflação de demanda”, criticou o chefe do Executivo.

“Os varejistas, os pequenos e médios empreendedores, pessoas que precisam de crédito para tocar suas atividades estão brigando com a taxa de juros. É irracional o que está acontecendo no Brasil”, emendou.

Vale citar, o mercado financeiro já esperava pela decisão. A expectativa é que a redução de juros ocorra em 2 de agosto, quando ocorrerá a próxima reunião do Copom.

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