“O eleitor quer o fim da crise econômica”, diz cientista

O cientista político e sócio do Instituto Brasilis em São Paulo, Alberto Carlos Almeida, escreveu o livro “O voto do brasileiro”, que será lançado hoje em Goiânia na Assembleia Legis

Postado em: 26-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O cientista político e sócio do Instituto Brasilis em São Paulo, Alberto Carlos Almeida, escreveu o livro “O voto do brasileiro”, que será lançado hoje em Goiânia na Assembleia Legis

Como o senhor analisa o recorde de abstenções e votos nulos? Como indicam as pesquisas eleitorais.

Esses recordes acontecem, normalmente, em eleições fora do calendário regular, como as eleições suplementares que ocorreram em vários municípios brasileiros no último domingo. O que acontece é que um político é pego roubando e o poder eleitoral, no caso os Tribunais Regionais Eleitorais e o Tribunal Superior Eleitoral, convocam o eleitor para sair de casa e escolher outro político para fechar o mandato. Essas eleições são para um cargo só. Normalmente prefeito ou governador. Mas, não acho que seja tendência para as eleições de outubro onde o eleitor vota em vários cargos: presidente, deputados federais e estaduais e duas vagas ao Senado Federal.

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O que o eleitor quer dos políticos para voltar a se interessar pela política?

Basicamente o fim da crise econômica. Quando a economia voltar aos rumos certos ele vai se interessar novamente pela política. Mas, veja também que o nível de interesse dos brasileiros é o mesmo de quatro anos atrás, ou seja, nas pesquisas de 2014. Se você pegar as pesquisas do Instituto DataFolha, por exemplo, a quantidade de eleitores indecisos hoje é a mesma dos eleitores que não sabiam em quem votar em 2014. 

Qual a influência da Operação Lava-Jato nesse cenário de afastamento do eleitor?

Já está tendo influência. A vantagem nacional que o PT tinha no passado diminuiu por conta dos escândalos. O PSDB também enfrenta dificuldades para crescer, principalmente em São Paulo. E o estado paulista detém 23% do eleitorado brasileiro, é importantíssimo para qualquer campanha presidencial.

As oligarquias estão perdendo poder eleitoral nos estados? O exemplo de José Sarney no Maranhão e Aécio Neves em Minas Gerais.

A família Sarney perdeu poder faz tempo. Ele teve que disputar a eleição para o Senado pelo Estado do Amapá. Se ele tivesse uma posição confortável no Maranhão não precisaria ter ido ao Amapá para se eleger. Isso é uma evidência da perda de forças da família Sarney no maranhão. Mas, não podemos decretar o fim do PSDB em Minas Gerais e São Paulo, por exemplo. O candidato tucano em Minas está na frente das intenções de votos. O candidato tucano em São Paulo também. Ás vezes não é a figura peesedebista diretamente, mas sempre aliados aos partidos mais fortes. No Maranhão mesmo, o governador Flávio Dino não é do PT, mas do PCdoB, partido aliado ao PT.

O Lula vai conseguir transferir votos, caso não seja candidato?

O eleitorado pobre do Norte e Nordeste votou no PT nas ultimas três eleições. Se pegar as pesquisas, o PT tem uma força política brutal nessas regiões. No estado da Bahia, Ceará e Piauí os candidatos de esquerda estão na frente nas pesquisas de votos. Corre o risco do PT ganhar cinco eleições em nove estados. O PSDB está tendo problema em  São Paulo. O ex-governador Geraldo Alckmim está atrás do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Mas, a estrutura partidária vai passar a ter peso no momento oportuno da eleição. O Aécio mesmo ultrapassou a Marina Silva [candidata da Rede ao Planalto em 2014] três dias antes da votação. 

O eleitor vai escolher líderes políticos ou programas de governo?

Os partidos grandes não apresentam programa de governo em campanha, é uma tremenda casca de banana. A Marina Silva apresentou programa na eleição passada e acabou se desgastando por isso, caindo em pegadinhas e se contradizendo. Os eleitores vão votar nos candidatos com quem eles se identificam economicamente, socialmente e etc. O PT está alinhado ao interesse dos pobres e o PSDB aos menos pobres. O eleitor se vê representado nesses líderes e acaba votando. 

Nas eleições suplementares em sete municípios brasileiros foram eleitos candidatos de partidos pequenos, como o Patriota, Rede e PV. Os nano partidos estão crescendo no Brasil?

Acho que não. O PSL, partido do Bolsonaro, por exemplo, ganhou 30 prefeituras em 2016, enquanto o PSDB ganhou 800. A diferença estrutural ainda é muito grande.  (*Especial para O Hoje) 

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