Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Bolsonaro, o ‘salvador’ do sonho de sucessão de Roberto Naves em Anápolis 

Quem diz que o ex-presidente, líder e espírito do movimento bolsonarista, não vai estar nas eleições do ano que vem

Postado em: 22-07-2023 às 08h40
Por: Yago Sales
Imagem Ilustrando a Notícia: Bolsonaro, o ‘salvador’ do sonho de sucessão de Roberto Naves em Anápolis 
Bolsonaro, o ‘salvador’ do sonho de sucessão de Roberto Naves em Anápolis  | Foto: Reprodução

Fora das urnas, vírgula. Inelegível até 2030, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro pode ser a salvação para parte de dirigentes partidários – sobretudo do PL de Valdemar da Costa Neto, da qual o pai do fenômeno bolsonarista é filiado -, prefeitos que querem um sucessor viável e àqueles que almejam vencer uma eleição no ano que vem, quando os eleitores vão às urnas para escolher vereadores e prefeitos para os 5.568 municípios brasileiros. 

Jair Bolsonaro pode não ter condições legais para disputar nas próximas eleições, mas vai ter tempo suficiente para batizar políticos em cidades estratégicas, capitais, redutos político-ideológico-eleitorais. É a ‘cartilha’ do Partido Liberal, como este texto pretende destrinchar. O sonho de alguns, pesado de muitos. Orgulho de alguns, chacota de muitos. O projeto tem sentido. 

É o caso de Anápolis, onde o prefeito Roberto Naves, do Progressistas, capenga em busca de um nome para sucedê-lo, desbancando políticos com sede de chegar ao pódio da escolha eleitoral e/ou para voltar ao poder – caso de Antônio Gomide, do PT e Márcio Correa, do MDB. O último, contudo, pode até compor com Major Vitor Hugo (PL). 

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A visita de Bolsonaro à cidade em que teve 70% dos votos, onde foi homenageado nesta sexta-feira (21), significou um alívio para Naves que poderá ter no palanque o ex-presidente que por um triz não conseguiu vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma das mais acirradas disputas à Presidência na história recente. Uma diferença de em torno de 2 milhões de votos. 

A entrega da Comenda Gomes de Souza Ramos para Jair Bolsonaro foi, também,  um “afago” a aliados de Naves. Na lista dos 35 homenageados, que, segundo a organização, contribuíram para o “desenvolvimento da cidade”, constam o Major Vitor Hugo, a secretária de Integração – Assistência Social, Cultura, Esporte, Trabalho, Emprego e Renda – Eerizania Eneas de Freitas, que pode ser a indicação a vice de Vitor Hugo. 

Vitor Hugo, que concorreu ao Palácio das Esmeraldas em 2022, é o favorito de Bolsonaro. Tem todos os pré-requisitos para concorrer à vaga de prefeito de Anápolis, um pupilo para a economia goiana, com suas invejáveis indústrias farmacêuticas e seu porto seco. Vale registrar que Vitor Hugo foi deputado federal contemporâneo ao mandato de Bolsonaro, sendo fiel escudeiro do ex-mandatário como líder do governo na Câmara Federal e, com isso, se tornando um porta-voz comumente ligado ao bolsonarismo. 

Na campanha eleitoral ao governo – aliás, uma disputa acirrada com outro político identificado com o bolsonarismo mais moderado, no caso Ronaldo Caiado (UB) -, não era raro ver Vitor Hugo focado em sua apostila de plano de governo, estudando tópico por tópico, com o intuito de defendê-lo fielmente. Dá para, com isso, perceber o foco do político, tido como educado, bem relacionado e competente. Pelo menos é o que se ouve na alta cúpula do PL, presidido, como já se disse, por Valdemar da Costa Neto. 

Em entrevista recente à reportagem do jornal O Hoje, Márcio Correa, quase certo candidato do MDB do vice-governador Daniel Vilela à prefeitura, disse que tem tido conversas com Vitor Hugo. Correa é uma grande aposta para a frente de oposição ao projeto de reeleição de Roberto Naves, a quem Márcio, suplente de deputado federal e que já concorreu ao cargo de prefeito da cidade em 2020, surpreendeu com número expressivo de votos. 

O presidente da sigla, inclusive, tem sido otimista com o desempenho do PL na corrida eleitoral do ano que vem, repetindo o fenômeno do último pleito, quando o PL passou de 76 para 99 deputados federais. O PP, que, no caso de Anápolis com Roberto Naves como prefeito, foi a legenda que mais perdeu parlamentares: de 58 para 47 integrantes. Para se ter uma ideia da capacidade de fortalecimento do PL de Bolsonaro, o PT de Lula, acrescentou à lista de parlamentares apenas – pela dimensão do PL – 12 deputados. Saltou de 56 para 68. Por outro lado, o PT se garante, ou pelo menos se conseguir manter o Central sob o cabresto, com a federação com PCdoB (que elegeu 6 deputados) e o PV (mais 6 deputados): um total de 80 representantes. 

Com essa moral toda, diria um entendido do linguajar popularesco aliado às expectativas do poderio do PL e, inconfundivelmente, de Bolsonaro, numa cidade à base da direita conservadora e liberal, constata-se a fundição de um bloco duro: com união de alguns partidos que almejam e constroem bases para o poder em Anápolis. Além, claro, do prefeito Roberto Naves e o PP – presidido por Alexandre Baldy, atual presidente da Agência Goiana de Habitação (Agehab) na gestão Caiado; o vice-prefeito Márcio Cândido (Podemos); o vereador Leandro Ribeiro (PP); e a super secretária de Naves, Eerizânia Freitas (Republicanos). 

O ex-presidente Jair Bolsonaro tem vindo frequentemente a Goiás – mais especificamente à capital – onde tem feito um tratamento dentário com o figurão da área odontológica, com atendimento a famosos globais. Semana passada, ele chegou a dormir na Casa Verde, residência oficial do governador de Goiás. Aproveitou para conversar sobre política. E, Caiado, que tem um pé no sonho de ser presidente, aproveitou para plantar no imaginário do pai dos bolsonaristas que o goiano pode ser um bom nome para ‘substitui-lo’ na disputa em 2026. Paira, contudo, o nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e até de Romeu Zema (Novo), governadores de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente. 

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