“País precisa investir mais em saúde”

Lucas de Godoi e Rubens Salomão*O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Leonardo Reis, acredita que faltam investimentos na área da Saúde em nível federal. Ele c

Postado em: 17-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lucas de Godoi e Rubens Salomão*O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Leonardo Reis, acredita que faltam investimentos na área da Saúde em nível federal. Ele c

Entrevista: Leonardo Reis – Presidente do Cremego 

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Quais são as demandas prioritárias do Cremego em relação ao sistema de saúde em Goiás? 

Ultimamente a Saúde tem sido mais resgatada na mente do povo em função da falta de assistência que tem sido gerada, principalmente pela falta de investimento dos municípios, dos estados e, principalmente, da União. A falta de assistência de uma forma geral – a população perdendo capacidade de compra, o desemprego que acaba gerando também a perda dos planos de saúde pelas famílias – gerou uma desassistência geral tanto na saúde suplementar quanto na saúde pública. Então há um clamor hoje pela saúde em todas as pesquisas para as questões do debate eleitoral em nível estadual e federal. 

O que os candidatos devem oferecer? Novos modelos de gestão, como por exemplo, as Organizações Sociais (OS) gerindo a Saúde seria uma opção?

É uma forma de gestão que não é nenhuma novidade. Apenas terceiriza o serviço particular e acho que esse modelo é interessante, mas ele gasta muito mais do que ele entrega. Se for colocar em uma balança o que ele entrega e o que ele despende, é muito melhor você – quando se trata de saúde pública – contratar uma terceira via, por exemplo, as filantrópicas, que são contratadas através das pactuações, utilizando a tabela Sistema Único de Saúde (SUS) e complementar para que esse conveniado possa entregar o serviço sem sofrer prejuízo. 

O formato dos convênios seria igual a operação hoje da Santa Casa da Misericórdia? 

Exato. A forma de convênio é mais barata, já que utiliza a tabela do SUS e entrega o serviço do mesmo jeito. Então você precisaria de um modelo de repactuação em que a distribuição de recursos fosse mais equilibrada. Nós temos hospitais no Estado que recebem do poder público e repassam para um ente do terceiro setor R$ 20 milhões por mês e um filantrópico recebe para fazer até mais cerca de R$ 3 milhões de do setor público, independente da esfera que esteja pagando.

Na comparação com a gestão direta a Organização Social é melhor do que eram esses hospitais de referência? 

Se eu fosse o gestor, obviamente que preferiria estar gerindo através de uma OS, que é muito mais fácil. Um pouco mais rápido, os processos menos burocráticos. Agora, o que precisa avaliar é o quanto se está gastando e o quanto está entregando. O custo pelo dia de internação é que precisa ser avaliado e ver se não está havendo um desequilíbrio na pactuação desses recursos entre as esferas. 

O senhor está falando bastante em distribuição de recursos, principalmente os federais, que é onde se concentra mais recurso. O problema da saúde, apesar de tantas demandas, não é falta de dinheiro? 

Sem dúvida nenhuma o dinheiro é muito pouco, os recursos são limitados, escassos. 

A vinculação constitucional é menos do que deveria?

É bem menos do que deveria, além de nós termos um estado pobre. Quando se fala em gasto em saúde no geral, nosso país gasta menos de 10%. Outros países gastam muito mais do que 10% na Saúde. Quando falamos nesse percentual, é muito mais do que 10% do PIB do Brasil. A quantidade de recursos per capta em investimentos em saúde, obviamente que em um país rico, esse valor é muito maior. A França, por exemplo, é uma referência. A Inglaterra também. Então nós precisamos mirar no exemplo desses países e realmente investir mais em saúde, porque se o nosso recurso é pouco, mas pelo menos proporcionalmente a gente precisa investir mais. É óbvio que nossa questão estrutural ainda precisa de muito investimento, mas não podemos deixar de lado a saúde. 

Recentemente vimos um concurso público da prefeitura de Goiânia que nem todas as vagas foram preenchidas. Como o senhor avalia essa situação? 

Mais uma vez esbarramos na questão do investimento em pessoal. A formação de um profissional médico e para você se manter médico é muito caro no mercado. Você precisa estar atualizado cientificamente, você investe em educação, em congressos, em equipamentos médicos extremamente caros. O médico investe muito e obviamente precisa ter o retorno financeiro para que pague essa estrutura. O que a prefeitura remunera não paga a conta de um profissional médico. 

Para suprir a falta de médicos foi criado o programa Mais Médicos, que completou cinco anos recentemente. Como o senhor avalia o programa?

Sem dúvida nenhuma é um programa interessante e tem uma remuneração relativamente alta, já que a maioria dos médicos são recém-formados e que acabam recebendo mais de R$ 10 mil de bolsa. O problema do programa é justamente a questão dos médicos não revalidados, os médicos que entram na fronteira do país sem comprovar conhecimento em medicina. Acho que no programa há uma grande importância para as prefeituras, principalmente do interior. 

A crítica é em relação aos profissionais não validados. A regulação dos médicos que se formam no exterior ainda é deficiente?

Exatamente. Mesmo aqui no país estamos formando uma mão de obra extremamente desqualificada e sabemos que existem escolas no exterior pior do que temos aqui. Então nós temos medo de profissionais que estão chegando ao mercado, não só de fora, mas também os formados no nosso país. É preciso ter um controle maior da qualidade na formação médica.

Uma questão bastante debatida nos processos eleitorais é a distribuição de vagas de UTI no Estado e a regulação dessas vagas. E isso foi algo de debate recente entre a Prefeitura de Goiânia e o governo do Estado. O que o Conselho espera dessa regulação?

Não tem dúvida de que há um déficit muito grande nas vagas de UTI e vagas de internação vinculadas ao serviço público. Houve uma discussão acerca da regulação, ou seja, quem deteria o poder de escolher o paciente e para onde esse paciente iria.

Que hoje a prefeitura faz.

Sim. E por lei é um dever da prefeitura. Eu acho muito difícil o Estado conseguir tomar essa regulação da prefeitura, porque é uma questão legal. Tanto é que houve esse anúncio e até agora não percebi nenhum avanço. 

Falta transparência nesse processo? É possível fazer de forma melhorada, para ter menos fila e ser mais ágil e transparente? 

Não acredito que haja falta de transparência na regulação, nem que tenha preferência política no processo de escolha para uma vaga de UTI, porque estaríamos colocando em cheque a honestidade e a ética do médico regulador. Não acredito absolutamente que tenha qualquer interferência nesse sentido, que não seja puramente científica, na classificação da gravidade de prognóstico do paciente. 

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