Wilder fez apenas um pronunciamento enquanto Kajuru usou o microfone mais de 100 vezes
Presidente do PL goiano, prometeu uma postura de oposição ao governo no Senado, mas silenciou-se depois do primeiro discurso
Por: Yago Sales
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Na manhã seguinte à vitória que o colocaria de volta ao posto de um dos 81 senadores da República, Wilder Morais (PL) ofereceu café a três repórteres do jornal O Hoje em sua mansão no setor Marista, em Goiânia, enquanto o telefone tocava sem parar.
Vestido com sua camisa com a estampa da bandeira do Brasil, Wilder era a expressão de um soldado que vencera uma árdua batalha. Não teria tempo, no entanto, para descanso: teria de percorrer o Estado, falar com aliados e oponentes para reforçar o bunker, as ruas e bases para tentar reeleger Jair Bolsonaro naquele 2° turno de 2022.
Com a derrota do líder maior do seu partido para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário e recém-eleito – que voltara ao Senado – Wilder sabia que, dali em diante, seria, não apenas no Senado, mas no âmbito da discussão política-partidária, uma voz importante da oposição.
Embasbacado com o resultado nas urnas, Wilder calou-se. Não era mais o feliz candidato, ou o assustado vitorioso no meio de tantos nomes competitivos ao Senado, mas um decepcionado senador que acreditava que frequentaria o Alvorada.
Talvez por isso, diante da narrativa do tamanho do estrago que o governo Lula, segundo bolsonaristas, causaria ao País, que se esperava mais de Wilder com a “boca no trombone”. Por enquanto, a atitude do senador tem sido vista com estranheza inclusive no próprio PL: ele usou o microfone do Senado apenas uma vez, no dia 23 de abril, desde que assumiu o cargo. Ele fez críticas ao governo Lula pelas declarações contrárias à política de juros adotada pelo Banco Central e defendeu a independência e autonomia da instituição.
“[…] como planeja o PT, o efeito é aumentar a inflação. Infelizmente, estamos vivendo ataques constantes ao Banco Central, ataques que tentam acusar seus diretores de captura pelas instituições financeiras”, afirmou, antes de continuar: “esses ataques levianos não levam em consideração o fato de que o próprio Banco Central tem inovado e criado novas soluções como o Pix – o Pix, Sr. Presidente, que reduziu a receita dos bancos e beneficiou milhares de brasileiros em todo o nosso país. Infelizmente, o atual Governo parece não compreender a importância da instituição e da sua estabilidade econômica”.
A tramitação da reforma tributária na Câmara, que deve ser pauta recorrente no Senado a partir desta semana, também não foi assunto de Morais. Antes de retornar à Casa da qual ocupou cadeira entre 2002 e 2019, se dizia favorável à matéria, que era uma das prioridades nos quatro anos de governo Bolsonaro. Fora do mandato de presidente, Bolsonaro se opôs à reforma, pelo menos exigia mais tempo para discussão. Na ocasião, foi aterrado pelo aliado e governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), que se colocou à favor do texto.
Com isso, Bolsonaro aproximou-se do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que se tornou a voz mais contrária ao texto que, afirma o mandatário goiano, traria prejuízos aos estado. Wilder, que se aproximou de Caiado, também tem esse compromisso. A expectativa é que, com o poder da fala no plenário com o texto da reforma no Senado para discussão e votação, o senador reaja.
O que chama atenção é que, ao mesmo tempo em que Wilder utilizou o microfone para discutir apenas uma vez, o vice-líder no Senado, Jorge Kajuru (PSB), o fez por 110 vezes. Por outro lado, o senador Vanderlan Cardoso (PSD), discursou oito vezes. Vale lembrar que o pessedista é presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que deve ser muito requisitado a partir de agosto com a pauta da reforma tributária.