“O eleitor fala em renovação, mas é renovação de ideias”

Vereador de Goiânia por nove mandatos, Anselmo Pereira (PSDB) faz elogios ao relacionamento entre a Câmara Municipal e a Prefeitura de Goiânia, mas defende a criação de uma secretaria institucional pa

Postado em: 21-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Vereador de Goiânia por nove mandatos, Anselmo Pereira (PSDB) faz elogios ao relacionamento entre a Câmara Municipal e a Prefeitura de Goiânia, mas defende a criação de uma secretaria institucional pa

Entrevista: Anselmo Pereira – Vereador de Goiânia  

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Lucas de Godoi e Rafael Oliveira *

Desde o início do mandato, o prefeito Iris Rezende teve uma série de desafios com a Câmara. Como está a relação hoje?

Pela primeira vez em nove mandatos, eu vi um governo que só teve liderança quase depois de um ano. O prefeito não quis escolher o seu líder nesse primeiro momento e quando escolheu, as coisas começaram a deslanchar. Eu ainda acho que o prefeito deveria manter uma secretaria institucional de relacionamento com a Câmara. Uma coisa é o líder do governo. O líder hoje é novato, está aprendendo a fazer relacionamento. Mas a administração deveria ter uma secretaria especial legislativa, aquela que vai ter relacionamento político com os vereadores. É outro patamar de relacionamento com maior responsabilidade, onde se quebra muitas arestas nesse tipo de interação. A Câmara está se sentindo mais atendida em relação aos seus projetos. Temos ainda problemas com sanções de leis. Às vezes a prefeitura derrapa nesse preciosismo da legalidade. É preciso encontrar um meio termo para isso. 

O prefeito conseguiu aprovar a LDO com remanejamento de 30%. Esse índice é saudável para a Prefeitura?

Tem uma corrente que diz que essa dádiva de dar 30% de índice de remanejamento é isolar a importância do Legislativo. Mas isso temos que colocar no tempo e no espaço. Estamos num tempo de crise. A Prefeitura faz a LDO, mas com o tempo pode surgir a necessidade de aplicar recursos em outras áreas urgentes, como a crise da saúde. Isso acontece em todo o Brasil, não é um privilégio de Goiânia. Então o Prefeito pode preferir retardar uma obra para salvar vidas. Nesse sentido eu sou favorável, que possibilite o Prefeito fazer o remanejamento diante de uma crise. Então no ano que vem não seremos tão benevolentes de dar esse índice de remanejamento tão alto. Devemos restringir um pouco mais e vamos conversar com o prefeito para discutir as emendas parlamentares, que ao meu entender, o prefeito vai trabalhar com as emendas que serão atendidas a partir de 2019 e 2020. 

Houve conversa nesse sentido para a Prefeitura pegar o remanejamento de 30% agora e posteriormente atender as emendas dos vereadores?

Houve um entendimento de que nós queremos legislar em Goiânia, mas também sendo parceiros da administração municipal com responsabilidade compartilhada. Por exemplo, é preciso melhorar o Cais do Jardim Novo Mundo. O prefeito tem conhecimento das obras que precisam ser feitas. Às vezes ela não é a maior obra ou a mais cara, mas é a obra que vai atender os anseios da população daquela localidade. Hoje, a obra mais importante de Goiânia é a mobilidade. A cidade cresceu e queremos que essas obras aconteçam. Como vereador, coloquei que vamos atender o índice pedido de remanejamento e a prefeitura vai atender os pedidos das nossas obras. Queremos alargar a avenida anhanguera, por exemplo. 

Aquele empréstimo de US$ 100 milhões a Prefeitura para a pavimentação de Goiânia vai sair? Como estão as negociações com o Banco Andino?

Eu como presidente da Câmara em 2016 banquei o empréstimo. Em dezembro de 2016, quando o Iris foi eleito, estive com ele para levar as medidas importantes que aprovamos na Câmara, como o empréstimo de US$ 100 milhões com o banco Andino, que foi um sofrimento para aprovar, eu gastei um ano como presidente. E aprovaram porque eu coloquei a mão, a Câmara não iria aprovar. Entreguei a ele o novo projeto do parquímetro e o projeto da Goiânia Legal, que era o alvará beneficente. Esses projetos, somados, dá uma receita em torno de R$ 6 bilhões. A Câmara faz o seu esforço, mas precisamos que a Prefeitura seja experiente para quebrar a burocracia e acelerar o processo de recebimento desses recursos. Eles vão trazer qualidade de vida para o cidadão. 

Como o senhor analisa a disputa entre Lúcia Vânia e Demóstenes Torres para a segunda vaga ao Senado?

Eu sou sempre a favor da disputa. Eu deixei de ser candidato a prefeito de Goiânia na eleição passada. Nós íamos para o diretório metropolitano e eu ia ganhar as prévias. Houve outros entendimentos palacianos e eu deixei de ser candidato para o Giuseppe Vecci ser o candidato. Não tenho nada a criticar. Agora vamos comparar com o momento que estamos vivendo. Estamos numa sucessão de governo. O José Eliton veio se preparando para ser governador. Eu entendo que ele está preparado ser governador. Agora essa questões do preenchimento das vagas ao Senado, temos um quesito inquestionável. Primeiro, o Marconi é candidato, a não ser que ele resolva sair para outro cargo, mas isso depende dele. E temos bons nomes. Lúcia Vânia é uma mulher que tem uma história invejável na política goiana. Uma mulher que dá assistência as suas bases de dia e de noite. E um detalhe, é mulher, está na moda. O Demóstenes é uma pessoa bem preparada também. Ele é um legislador nato. O que tem que se pesar agora é quem pode sensibilizar o voto. Quem é que tem o voto e que tem menos ou mais desgaste, essa é a chave do sucesso. 

Neste ano vai haver uma renovação maior em relação aos políticos de longa data, rejeitados por uma parcela do eleitorado?

Acho que não. Porque isso teria acontecido na eleição passada. O eleitor fala em renovação, mas é renovação de ideias e não de idade. Eles não estão preocupados em quantos mandatos um político tem ou não. Se não, o Íris não teria sido eleito em 2016. Esta renovação não será corporal, será de atitude dos políticos.

Mas os eleitores não vão analisar de maneira mais crítica?

Na última eleição a vereador nós tivemos uma abstenção de voto muito alta que eu nunca vi na minha vida, eu assustei. Em Tocantins, a votação teve 40% de abstenção no primeiro turno e no segundo quase 50%. Então, esse desânimo do eleitor é um perigo. Quem vai ganhar é aquele que vai sensibilizar o eleitor e ser o tipo de político que eles estão querendo. Ao meu ver, nós já sabemos. É aquele que não tem nada para ser questionado e tem um padrão de comportamento diferente dos outros que tem escândalos políticos um atrás do outro. Cabe a nós dar políticos que estejam assimilados ao que o eleitor quer. Consequentemente cabe ao PSDB, ao governador José Eliton e ao Marconi Perillo quebrar cabeça para dar isso aos eleitores. 

Os partidos do bloco do Centrão no Congresso Nacional decidiram apoiar a campanha de Geraldo Alckmin. Isso inclui o PP, que está indeciso em Goiás. A decisão das executivas nacionais, neste momento, pode aproximar o PP goiano de José Eliton?

Com certeza. Com respeito que tenho ao Ronaldo Caiado, mas ele já escolheu o seu vice-governador. Ao escolher o vice, ele afastou outros partidos para sua composição. Em um ponto o Caiado foi inteligente e definiu logo sua chapa. Agora, com a definição dele, o cenário político em Goiás se redefiniu. Esses partidos, como o PP, são muito pesados. Essa decisão nacional foi muito boa porque agora se tem estrada para caminhar. O PP tem muito a somar. Eles têm bons nomes na sociedade, tem um ministro que traz recursos ao Estado. Essa definição trouxe crédito a nossa base e nesta eleição se tem duas coisas: ou você vai buscar crédito de quem tem voto ou vai se criar a imagem de um salvador. 

Na sua avaliação, quais são os critérios para escolher o vice-governador de José Eliton? 

Eu sou maranhense e digo que nunca houve um vice que deu tão certo como José Sarney. Mas há o vice-moderno. Hoje a Dilma Roussef não diria que escolheu o melhor vice. Quando Tancredo Neves adoeceu, Sarney assumiu o governo e, bom ou não, terminou o governo. Então o vice, em primeiro lugar, tem que ser confiável. Esse é o segredo do sucesso. O segundo ponto é o peso político. Ainda temos cartas na manga para aglutinar nossa força. Temos essa ideia de que o governador ou o presidente é mais importante que o presidente do Legislativo. E isso é errado porque o presidente do Legislativo pode cassar o chefe do Executivo e o contrário não acontece. O governador José Eliton está procurando qual é o vice mais confiável, em primeiro lugar. Por questões de relacionamento pessoal. O vice é a pessoa que o governador conta segredos, conta estratégias políticas e etc. E em segundo, o vice que tem força para compor eleitoralmente a base, que traga voto também. O bom é que temos bons nomes do PSDB e partidos que possam agregar a campanha de Eliton, como o PTB e o PSD. 

Depois de uma década a Câmara Municipal de Goiânia volta a realizar concurso público. O senhor é presidente da Comissão. Surgiu a necessidade de mais pessoal? 

Há mais de 10 anos aconteceu o último concurso, uma vez que a Câmara é muito enxuta em relação aos servidores. E ao longo desse tempo, a câmara vem envelhecendo e os funcionários vão aposentando e deixam uma lacuna muito grande quanto aos conhecimentos jurídicos e conhecimentos de novas tecnologias. Neste momento, temos 31 mil inscritos já no certame. É um concurso amplo, dinâmico e com vencimentos interessantes. Ninguém na Câmara ganha menos de quatro mil reais. 

O preenchimento das vagas vai melhorar a qualidade dos serviços prestados à população?

Vamos fazer esse concurso diferente de todos os outros concursos. Em novembro vamos absorver 30% dos aprovados de imediato e o restante no próximo semestre de 2019. (* Especial para O Hoje) 

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