Weslei Garcia (Psol): “Nós somos oposição programática”

Ocandidato ao governo de Goiás pelo Psol, Weslei Garcia, abriu a série de sabatinas que O Hoje fará com os candidatos ao Palácio das Esmeraldas

Postado em: 07-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ocandidato ao governo de Goiás pelo Psol, Weslei Garcia, abriu a série de sabatinas que O Hoje fará com os candidatos ao Palácio das Esmeraldas

Como foi o processo de discussão interna do partido até chegar à sua candidatura? O Psol chegou a ter duas pré-candidaturas até chegar à do senhor. 

Sim, o que demonstra uma coisa muito importante para nós. O Psol é um partido ideológico e programático, não existe nada no partido que não passe pela base dos seus filiados, dos seus militantes. Houve sim um grande processo democrático de escolha das candidaturas, diferente dos outros partidos políticos, que fizeram convenções milionárias nesse final de semana onde se tem um chefe, um cacique. O Psol é diferente e não admite esse tipo de prática, nós estamos desde a base discutindo e valorizando a democracia. Com muita alegria, temos também o candidato Fabrício Rosa – que é policial rodoviário federal e um ícone dos Direitos Humanos, uma pauta tão cara pra nós do Psol, enquanto nosso candidato ao Senado.

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Na última campanha o desempenho do senhor foi considerado baixo. O senhor teve 10.522 votos. Qual o objetivo para as eleições deste ano?

Em 2014 não tivemos debates. E ficou muito claro como vamos nos comportar nos debates e, sabendo disso, cancelaram todos os debates, porque infelizmente hoje no Brasil, e em Goiás não é diferente, não existe uma democracia no processo eleitoral. As campanhas ainda se pautam pelo poderio econômico e não pelas ideias. De fato, não tivemos um resultado expressivo numericamente, mas temos certeza que tivemos o capital político muito grande, reconhecidamente o Psol é apontado como partido ideológico, programático e o único partido que vai ter coragem de colocar o dedo na ferida, de fazer um debate aberto com qualquer candidato, até porque eles são todos iguais.

O senhor falou nas campanhas milionárias. O senhor acredita que com o fim do financiamento privado, iguala mais as campanhas?

Inclusive era defesa nossa. Historicamente, sempre defendemos o financiamento público e acabar com o financiamento privado de campanha. Eu acho que é um passo importante e significativo. Ficou provado nesse fim de semana das convenções que os partidos não possuem nenhum tipo de ideologia, nenhum tipo de programa. Eles fizeram algumas alianças espúrias em busca do tempo de TV, então não tem um projeto político de transformação para o Estado. O que se tem é a discussão de quem vai ficar com a maior fatia do bolo. 

A esquerda vai lançar três candidaturas, além do Psol, o PCB e o PT.  Como o Psol se posiciona em relação a essas outras candidaturas?

O PT tem que fazer uma autocrítica.Na nossa concepção ele sofreu um golpe midiático e criminoso que foi com o impeachment da presidente Dilma e com a prisão do ex-presidente Lula. Houve um golpe, mas parte da culpa também é do PT, na política de conciliação de classes, que é com os três grandes partidos que foi base desse golpe. E aqui em Goiás nós temos um problema sério com o PC do B, por exemplo, que foi base do governo Marconi até pouco tempo. E aí a Isaura Lemos [presidente estadual do PC do B] aceitou uma coligação com o PT não por uma questão programática, mas para garantir os mandatos. Foi pragmático. E o PCB, que consideramos um partido histórico na esquerda no Brasil, foi por questões mínimas de burocracia. Mas quero deixar claro que consideramos a candidatura do professor Marcelo Lira como uma candidatura legítima da classe trabalhadora e nós fazemos atividades em comum. 

Em algum momento houve uma tentativa de união das esquerdas para disputar o governo de Goiás?

Eu considero as esquerdas PCB e Psol e, como disse, houve sim várias tratativas e, como falei, por detalhes não conseguimos avançar. Mas considero as duas candidaturas muito importantes. Isso é um prejuízo, mas podemos pensar que agora teremos duas vozes. Quanto ao PT, acho que cometeu vários erros, mas não quer dizer que somos contra o PT ou contra vários companheiros do PT. Temos respeito muito grande ao Mauro Rubem e à professora Kátia, mas tem que ser feito autocrítica. 

Então o senhor defende o registro da candidatura do Lula?

Lula Livre sim. Isso não quer dizer que o Psol não tenha candidatura própria e não tenha programa próprio. Nós somos oposição programática de esquerda ao que foi o governo do PT. O PT errou, o PT feriu a esperança das pessoas que buscavam essa mudança. Nós temos uma candidatura própria que não vai abandonar e que não vai voltar atrás, que é o Guilherme Boulos, e aqui no Estado o professor Weslei. Mas temos a clareza de que o que vem ocorrendo no Brasil é um golpe orquestrado pelo senhor Michel Temer, e em dois anos temos vários resultados desse golpe. Está claro que houve um golpe e somos contra esse golpe e não vamos aceitar, mas também somos oposição ao que foi o governo do PT. 

Se a gente for considerar de 1982 até hoje, apenas dois partidos se revezaram ao Estado. 

Primeiro, está claro para nós uma coisa: o que mudaram foram os atores, mas a política econômica, social ou a ‘despolítica’ aplicada no estado de Goiás sempre foi a mesma, não houve mudança. Tenho certeza absoluta que se um desses três principais vencer as eleições, os outros dois estarão na base do governo de forma direta ou indireta. A discussão deles é pelo poderio, pelo poder, não se tem um compromisso com a população. 

O que o Psol pretende fazer com a antiga Celg, agora Enel? A privatização já aconteceu, agora resta comprar a empresa de volta.

Para o Psol existem indícios de irregularidades no processo. É uma conta matemática que vou explicar. A Celg foi vendida por R$ 2,2 bilhões.Nesse processo, metade disso fica para o estado e a outra metade para a União. Então a venda foi de R$ 1 bilhão. Passado o período, o então governador Marconi Perillo pede o perdão das dívidas no montante de quase R$ 3 bilhões. Como você vende a estatal por R$ 1 bilhão e perdoa dívidas de R$ 3 bilhões? Esse dinheiro poderia ser investido em Educação e Saúde, por exemplo. Então a partir das irregularidades, vamos tentar a reestatização. É um processo jurídico um pouco demorado mas, temos que fazer. Vamos acabar também com as subdelegações na Saneago. 

A proposta então é tirar as subdelegações?

Elas têm que acabar. São quatro cidades que não operam nada e foi feito investimento para isso. A Odebrecht passou para a Brookfield posteriormente e nada foi feito. O Ministério Público mostrou que 20% de tarifa sobre a água é indevidaporque o tratamento de água é inadequado no Estado de Goiás. Vamos acabar com esse processo de privatização e terceirização na Saneago e as OS’s na Saúde. 

Como professor, o senhor fez críticas aos Colégios Militares. Mas, eles têm uma aprovação muito grande por parte da população. Qual é o caminho para o setor da Educação em Goiás?

Eu não sou contra o colégio militar. Ele tem sua origem no militarismo, como o colégio católico ou evangélico. A criança, quando vai ser matriculada, segue as regras do colégio. Eu sou contra o processo de militarização de todas as escolas do Estado. Não cabe à Polícia Militar gerir as escolas de Goiás. 

Mas, a Secretaria de Educação não disse que todas as escolas serão militares.

Existe um projeto encaminhado à Assembleia Legislativa nesse sentido. A questão é a violência. Onde os colégios foram militarizados, inclusive dois no Entorno, um na minha cidade de Valparaíso de Goiás, são de regiões periféricas e marginalizadas, no sentido de estarem à margem das oportunidades. Não há nenhuma concepção pedagógica nos colégios militares. Um diretor que foi eleito democraticamente é afastado das funções e isso já fere o primeiro princípio da Lei de Diretrizes Básicas (LDB), que é a gestão democrática. Esses colégios cobram uma taxa de manutenção obrigatória, que fere o principio de não se pagar nada em escola pública. A concepção das escolas atuais parecem de presídios, aquelas quadradas e retangulares. O ambiente é desfavorável ao processo educativo desta forma. Vamos defender o modelo da Politecnia, que trabalha o lado integral do ser humano. Em um horário as aulas disciplinares curriculares e em outro horário as atividades complementares, como lutas marciais, balé, futebol, etc. 

O senhor vai seguir com a proposta de destinar 10% do PIB para Educação?

Eu quero destinar 15%. Têm recursos para isso quando acabam as histórias de privatizações e terceirizações. Vamos rever as contas do Estado com uma auditoria completa. Eu quero entender por que perdemos R$ 8 bilhões de receitas este ano por abrir mão e dar isenções para os mais ricos. É necessário sobretaxar sim os mais ricos. No meu governo, o empresário não vai precisar deixar propina de 30%. 

Como analisa a segurança pública com a entrada de facções criminosas nos presídios goianos? Mas, gostaria que o senhor passasse por um detalhe: os números de feminicídio em Goiás são alarmantes? 

Os dados sobre Direitos Humanos, de forma geral, são alarmantes. Em Goiás, as nossas mulheres são silenciadas. Elas sofrem violência dos próximos, isso que acontece. Goiás é um dos estados que mais mata negros e LGBTs. São crimes de tolerância e ódio e é fomentado por candidatos, como o Jair Bolsonaro. Segurança pública para nós não é armar a população. Nossa candidata a vice-governadora é a Nildinha,uma mulher que foi vítima de violência doméstica e trabalho escravo. Isso representa o Psol. Queremos colocar delegacias 24h para a população. Vou fazer uma parceria com as universidades, no sentido de aproveitarmos estudantes de Direito para auxiliar a população nessas delegacias 24h. Vou fazer concurso público para aumentar o efetivo policial no Estado. (* Especial para O Hoje) 

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