Políticos com “fãs” podem ter sucesso nas urnas?

Crônica da política goiana mostra êxito, mas também fracassos

Postado em: 20-10-2023 às 10h30
Por: Yago Sales
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Mas tem aqueles que percorrem outras ruas: de bytes nas redes sociais | Foto: Reprodução

Em outubro do ano que vem o goianiense vai às urnas para escolher vereadores e decidir se o atual prefeito, Rogério Cruz (Republicanos), deve, ou não, permanecer na sua cadeira no 5° andar do Paço, onde fica o gabinete. Às vésperas do pleito começam a surgir nomes que podem correr nas ruas, feiras, a pé ou em carrocerias, em busca de votos. Mas tem aqueles que percorrem outras ruas: de bytes nas redes sociais. 

Mas, como que o eleitor deverá se comportar diante de nomes que são normalmente populares nas mídias sociais frente aos políticos “profissionais” que são acostumados com as estratégias genuínas, de base, de partido mesmo? A reportagem do jornal O Hoje já listou alguns nomes que, na esteira da “fama”, onde eram populares – em estações de rádio e televisão -, concorreram nas eleições majoritárias e proporcionais, para executivo e legislativo, respectivamente. 

Alguns se deram bem. Ou, invariavelmente, mal. Muito mal, com derrotas que não deixaram máculas, mas outras que causaram fissura na crônica política goianiense. E também a nível estadual. No pleito passado, Goiás elegeu, como a mais bem votada, Silvye Alves (União Brasil). Jornalista, antes de filiar-se à legenda do governador Ronaldo Caiado depois de convite da primeira-dama, Gracinha Caiado, Silvye apresentava o Cidade Alerta Goiás, da Record TV, programa, à época, de maior audiência. 

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Um dia, a jornalista virou notícia após ter sido barbaramente agredida por um namorado. Afastada da apresentação do noticiário por alguns dias, Silvye refletiu e decidiu que precisava fazer alguma coisa para mudar leis e criar mecanismo de defesa às mulheres agredidas. Foi eleita com 255 mil votos. A maioria dos votos da apresentou foi em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital. 

Com carisma, e de volta à TV – ela acertou a apresentação em um programa na TV Serra Dourada – ela ainda é vista como nome forte para concorrer ao Paço. Mas, políticos do seu partido, têm o mesmo plano, o que pode afastá-la do pleito e deixá-la por Brasília e, claro, na sede da afiliada ao SBT na capital. 

Mas nem só de TV vivem, em tempos de redes sociais, alguns paradigmáticos políticos. É o caso do deputado federal estreante Gustavo Gayer, do Partido Liberal. Ele ganhou 200.586 votos dos goianos e garantiu, ainda mais, a estima de seu guru, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Gayer repetiu a estratégia de Bolsonaro em tempos em que a televisão dava enorme espaço ao ex-morador do Palácio do Alvorada: críticas sistemáticas à esquerda e militância à extrema-direita. Em ambos os casos, a fama os transformou em verdadeiros e verborrágicos representantes dos segmentos que defendem. 

Conhecido por ter sido o primeiro apresentador gay “assumido” – como bombardearam manchetes de sites – do Jornal Nacional, Matheus Ribeiro filiou-se ao PSDB de Marconi Perillo. Concorreu a uma vaga na Câmara Federal, mas não conseguiu sucesso. Atualmente, ele percorre o estado em busca de ganhar envergadura como político. 

Em Goiânia, Ribeiro é bem visto e pode, sim, dar trabalho por representar uma oxigenação da política e por garantido, na polarizada disputa de 2022, manter-se distante do petista Lula e do ultradireitista Jair Bolsonaro. Claro que ele tinha seu posicionamento, mas sem muito prejuízo à imagem que o colocou em alvo de qualquer um dos lados. Obteve 46.961 votos e foi o quinto suplente mais bem votado em Goiás. 

Goiânia já conseguiu transmutar personagens da televisão direto para mandatos políticos. No catálogo aparece a jornalista Raquel Azeredo (no MDB à época), inventora do estilo de fazer jornalismo de pé, com dedo em riste, olhando diretamente para o telespectador, sem teleprompter (onde o apresentador lê o texto). Ela apresentava o Goiânia Urgente, precursor do Balanço Geral. 

O estilão combativo, que punha o poder público para sair do gabinete e ir às ruas, fez com que Raquel Azeredo fosse a deputada estadual mais bem votada em 2002. Ela obteve 59.168 votos. 

Outro nome comum da comunicação de massas envolvido em disputas eleitorais é o radialista João Sandes Júnior, mais conhecido como Sandes, o amigo da gente – um bordão conhecido em seus programas que falam de amor. Sandes atualmente é vereador de Goiânia. Ele também apresenta o programa A Hora do Almoço, na TV Serra Dourada. 

A trajetória política de Sandes, por outro lado, advém de 1989, quando assumiu pela primeira vez uma cadeira na Câmara Municipal de Goiânia. Em 1991, foi eleito deputado estadual. E, entre 2003 e 2018 atuou como deputado federal. 

Sandes concorreu à prefeitura de Goiânia duas vezes. A primeira, em 2004, terminou em terceiro lugar, com 118 mil votos (18%). Iris Rezende foi eleito no segundo turno com o petista Pedro Wilson, que disputava a reeleição. 

Quatro anos mais tarde, em 2008, Sandes, que continuava explodindo em audiência no rádio, tentou desbancar Iris, que disputava a reeleição. O radialista ficou em segundo lugar em uma disputa que foi decidida pelo goianiense ainda no primeiro turno. Iris teve 472 mil votos, ou seja, 74% dos votos. Ao mesmo tempo, Sandes teve 100 mil votos (15%).

A Record TV conseguiu lançar outros dois nomes na política goiana: o repórter descontraído Elias Júnior e o apresentador do Goiás no Ar, Alysson Lima. 

Elias Júnior foi eleito deputado estadual em 2010, pelo então PMN. A partir daquele mandato, além de ter perdido espaço na grade da Record TV, amargou derrotas. Em 2012, candidatou-se a prefeito da capital, ficando em quarto lugar – ele teve 61.930 votos (10,22%). Depois, Elias tentou retornar à Alego, mas não foi eleito, assim como ocorreu na disputa a uma vaga na Câmara Municipal de Goiânia, em 2020 – ele é suplente. 

Antes de Alysson Lima chegar ao comando de um programa matinal da Record TV Goiás, ele havia disputado a um cargo na Câmara Municipal de Palmas pelo Partido Verde, mas não foi eleito. Se tornando uma voz eloquente nas manhãs em Goiânia, foi eleito deputado estadual em 2018. Dois anos depois, desenhou com o Solidariedade a disputa à prefeitura de Goiânia. 

Alysson Lima ficou em oitavo lugar: teve 16.644 votos (2,76%). Nas eleições de 2022, ao invés de tentar reeleição na Alego, Lima disputou uma vaga na Câmara Federal. Acabou ficando sem mandato.

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