Gayer precisa furar a bolha do bolsonarismo para ter chance em Goiânia

Cientista político vê estratégia na busca por visibilidade e antagonismo à candidata do PT, Adriana Accorsi

Postado em: 02-11-2023 às 08h40
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Gayer precisa furar a bolha do bolsonarismo para ter chance em Goiânia
Gayer precisa furar a bolha do bolsonarismo para ter chance em Goiânia | Foto: Câmara dos Deputados

Na mesma esteira que a pré-candidata à prefeitura de Goiânia, deputada federal Adriana Accorsi (PT), foi procurada para falar dos próximos passos para a eleição de 2024, também foi o congressista Gustavo Gayer (PL). Quase sempre desinteressado em tratar com a imprensa, um dos maiores representantes do bolsonarismo em Goiás também deve disputar o paço da capital no ano que vem. 

Para o professor e cientista político Guilherme Carvalho, o político precisará furar a bolha do bolsonarismo para ter chance ao paço da capital. “Ele tem dificuldade de se viabilizar em eleição municipal, pois tem um perfil muito nichado, específico para o parlamento. E eleição parlamentar é isso, falar para públicos específicos.” Na avaliação do analista, o plano pode ser se tornar mais conhecido ou simplesmente antagonizar com o PT de Adriana Accorsi.

Apesar disso, o deputado é um dos nomes fortes no pleito da capital. Figura bem nas pesquisas. Surpresa em 2020, quando ficou na quarta colocação – atrás de Maguito Vilela (MDB), Vanderlan Cardoso (PSD) e Adriana Accorsi –, o parlamentar foi eleito como o segundo mais bem votado no Estado para a Câmara, em 2022. Foram mais de 200 mil eleitores. 

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Muito ativo nas redes sociais, ele usa a ferramenta para criticar o governo Lula (PT) e sua base, enaltecer o ex-presidente Bolsonaro (PL) e divulgar o trabalho na Câmara dos Deputados, além de postar polêmicas. Só no X (antigo Twitter), são 786,5 mil seguidores. No Instagram, 1,4 milhão.

Guilherme, então, cita que eleição municipal é política pública. “É preciso falar de propostas e entender a cidade em sua complexidade. Não dá para falar de conspiracionismos. É preciso falar de política de lixo, mobilidade, etc. Esse Gustavo Gayer ainda não vimos. Precisaria tirar dois pés do perfil de nicho e colocar na racionalidade”, argumenta.

De acordo com o cientista político, Goiânia é uma cidade muito vocacionada em políticas públicas, nos bairros. É preciso, segundo ele, conhecer a cidade. Lembrando os últimos partidos que geriram o município, ele pontua que o PT é ligado a movimentos sociais e o MDB aos grandes mutirões. “Conhecem a cidade.”

Polêmicas

Mas de volta a Gayer, vale dizer que o parlamentar já protagonizou diversas polêmicas ao longo do ano. Logo no começo, ele atacou o senador Vanderlan Cardoso (PSD) por ele votar pela reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Gustavo defendia O deputado federal defendia o nome do ex-ministro de Bolsonaro (PL), senador Rogério Marinho (PL-RN), que foi derrotado.

Também no primeiro semestre, ele teve uma briga com a deputada federal Silvye Alves (União Brasil). A briga começou após postagem de Gustavo expor os nomes que votaram pela Medida Provisória dos Ministérios de Lula e afirmar que os parlamentares estariam com o PT. A deputada, que foi favorável ao texto para defender, segundo ela, a manutenção de pastas importantes, como a da Mulher, rebateu e teve início um conflito com o parlamentar.

Fora do Congresso, em maio Gayer divulgou imagem de uma professora de camiseta vermelha com a frase “Seja marginal, seja herói”, do artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980), e disse que ela estava com “look petista”. A postagem repercutiu e a mulher sofreu ameaças pelas redes sociais, sendo demitida em seguida pela escola particular. 

Deputados estaduais do PT protocolaram denúncias contra o deputado federal ao Ministério Público de Goiás (MPGO), Ministério Público Federal (MPF), à Polícia Federal (PF) e ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Federal. Os parlamentares acusaram o congressista de fake news e perseguição a professora de Aparecida de Goiânia.

Ainda maio deste ano, o deputado pediu a prisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, após o chefe de Estado desembarcar no País para uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais à frente, em agosto, ele chamou universtários de imbecis durante audiência da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. “Vamos formar mais faculdades, vamos criar mais instituições de ensino, para formar mais imbecis”, afirmou à época.

Naquele momento, a diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás emitiu uma nota de resposta. A instituição manifestou total repúdio às declarações do deputado federal.

Já em junho, no podcast 3 irmãos, o parlamentar disse que a “democracia não prospera” na África pois as pessoas de lá não entendem o que é bom e o que é ruim, certo ou errado. O objetivo da fala era criticar o presidente Lula.

“O Brasil está emburrecido. Aí você pega e dá um título de eleitor para um monte de gente emburrecida. Aí você vai ver na África: quase todos os países são ditaduras. Quase tudo lá é ditadura. Democracia não prospera na África. Por quê? Para você ter democracia, é preciso ter o mínimo de capacidade cognitiva para entender o bom e o ruim, o certo e o errado. Tentaram fazer democracia na África várias vezes. O que acontece? Um ditador toma tudo e o povo. O Brasil está desse jeito. O Lula chegou à presidência e o povo burro: ‘êeee, picanha, cerveja!’”, afirmou.

À época, o parlamentar negou que as falas foram racistas e justificou que, em “momento algum” se referiu a “raça, cor da pele ou etnia”. Segundo ele, comentava sobre ditaduras e inteligência nos países. Foi quando, ele citou, que o apresentador do podcast “lembrou que na África a média de QI é 72, falei do QI no Japão e no Brasil está caindo”. “Para a pessoa ter essa interpretação, ela é extremamente desonesta, e viu a oportunidade de derrubar o opositor político […] O que eu falei não teve absolutamente nada a ver com raça”, se defendeu naquele momento.

Denúncia

Mais recentemente, no começo de outubro, Gayer denunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de utilizar dinheiro público brasileiro para financiamento de campanhas eleitorais presidenciais de outros países, especificamente da Argentina. “Acabo de denunciar Lula ao Ministério Público Federal por suspeita de utilização de dinheiro público brasileiro para possível financiamento de campanhas eleitorais na Argentina”, escreveu Gustavo Gayer nas redes sociais.

A ação ocorreu após publicação da Folha de S. Paulo, em que a reportagem aponta uma suposta conversa entre Lula e a Ministra do Planejamento, Simonte Tebet. Nela, o presidente teria teria pedido uma autorização de operação para que o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) concedesse um empréstimo do valor de US$ 1 bilhão a Argentina com o intuito de barrar o avanço de Javier Milei, deputado argentino de direita e candidato à presidência com favoritismo no páreo.

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