As barricadas que Vanuza Valadares precisa derrubar em 2024

Era noite do dia 15 de novembro de 2020, em Porangatu, no norte goiano, quando uma carreata cruzou, sob som alto, buzinada e foguetes, comemorando a vitória do então candidato à prefeitura pelo MDB, Márcio Luis. Pouco tempo depois, com 100% das urnas apuradas e 45 votos a mais, Márcio foi às redes sociais e, por meio de um vídeo, reconheceu que a sua principal opositora, Vanuza Valadares, do Podemos, havia sido a eleita. “Contei com a vitória antes da hora”, disse ele, sem mais constrangimentos. 

Primeira mulher a assumir o posto de prefeita na cidade conhecida pela área verde e alguns dos rios mais importantes da região, Vanuza Valadares tem feito movimentos para chegar fortificada na disputa pela reeleição em 2024. Para tanto, e garantir alguns apoios fundamentais, filiou-se, em 30 de setembro, ao União Brasil. 

Na ocasião da assinatura da ficha de filiação, além do governador Ronaldo Caiado, presidente do União Brasil, compareceram o deputado federal José Nelto (PP) e o senador Jorge Kajuru (PSB). A pretensão, claro, é meramente eleitoral e, mais óbvio ainda, recado ao grupo oposicionista na cidade, que chega a unir, numa mesma mesa de restaurante, lideranças do PL, do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, e do PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Eles criaram uma espécie de bloco de barricada para evitar o avanço de Valadares à reeleição. Vanuza é ex-deputada estadual, ex-presidente da Ceasa e é casada com o ex-prefeito da cidade, Eronildo Valadares. Além disso, é mãe. E mãe de um jovem, o Givago Valadares, de 30 anos, que tem uma veia política com influência na região. Givago tentou uma vaga na Alego no pleito passado, mas não foi eleito após conseguir 18 mil votos, quase que todo no município em que a mãe é prefeita. 

Pois bem, o panorama é que Vanuza entende, e muito, dos meandros da política. E, ao buscar apoio do peso pesado da política goiana, se coloca numa posição de quem não deve abrir mão. 

Um exemplo. Ela sabia que o Márcio Luis, sim, o mesmo que saiu derrotado por causa de apenas 45 votos, teria um protagonismo que, quiçá, apenas a própria chefe do executivo teria em 2024 e ela aceitou o primeiro aceno de um emedebista da cidade, do grupo do adversário. Maurício Gep, que coordenou a campanha de Márcio, foi chamado para conversar e indicou a filha, Thaís Noronha, para assumir a pasta de Urbanismo. 

Márcio deixou o MDB. Ou seja, o principal adversário e o mais forte que poderia desbancar a força de Vanuza pode estar fora do páreo. Pode estar. Com o MDB sem a querência de Márcio, o caminho ficou livre para a composição que está repetindo a dobradinha da disputa ao governo estadual em 2022, entre União Brasil e MDB, nas figuras de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela. 

Agora, o que se espera, é quem vai, do MDB – se é que vai dar certo mesmo – ser o nome para sentar na posição de candidato a vice-prefeito no pleito do ano que vem. Vale lembrar que Vanuza está rompida com o seu vice-prefeito, Marcílio da Costa Pires, conhecido como capitão Pires, por causa da insígnia que ganhou do Exército, instituição da qual faz parte, em Brasília. Ele virou um nome à oposição à corrida eleitoral, fazendo, como “vereador”, vídeos pela cidade “denunciando” a gestão para a qual também foi eleito nas urnas.

Inclusive, o partido do vice-rompido, Agir, consta em uma lista divulgada, pelo jornal Opção, em setembro, de siglas que se reuniram para encontrar uma matéria-primeira para erguer a barricada para impedir a vitória de Vanuza ano que vem. Estiveram Agir, Patriotas, PRB, PSB, PSDB, PP, PDT, PL, PT e o MDB de Daniel Vilela, o que torna, por enquanto, o apoio do vice-governador um dilema.