Apesar da aprovação da reforma, Caiado ganhou politicamente 

Terça-feira, dia 4 de julho. O governador Ronaldo Caiado intensifica, em visita à Câmara Federal, negociações para mudanças no texto que, dali a pouco, quatro dias depois, seria aprovada, em dois turnos, pelos deputados federais. Acompanhado de integrantes do governo e prefeitos, o mandatário reuniu-se com a bancada goiana. Aproveitou para criticar, entre outros aspectos do texto, a perda de independência, arrecadação ou capacidade de formulação de  políticas públicas, sociais e de investimento do Estado. “Isso é inegociável”, comentou na ocasião. 

Quarta-feira, dia 29 de agosto. Caiado retorna à Brasília, mas para discutir, no Senado Federal, outra vez, pontos que poderiam prejudicar os estados, sobretudo Goiás. “Até agora está tudo na base do achismo”, ponderou na presença de outros 17 governadores e defendeu: “Se você não levar a industrialização para o interior e para todas as regiões, você vai cada vez mais ampliar as desigualdades regionais. Seria um retrocesso”.

Quarta-feira, dia 13 de setembro. Caiado participou da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal que promoveu uma audiência pública sobre a Reforma Tributária. “Não podemos fatiar matéria de tamanha abrangência para atender alguns setores. Temos de ter uma visão de país, de desenvolvimento regional”, observou o governador, mais crítico que o comum. E, ainda, citou Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães para pedir respeito ao Centro-Oeste, Norte e Nordeste que, em sua visão, saíram prejudicados com a aprovação do texto como estava. “Essa Reforma revoga tudo que eles fizeram. Ela inverte o eixo de desenvolvimento e concentra-se sobre Sul e Sudeste e esquece o desenvolvimento regional”, complementou.

Esses são três dos diversos movimentos que o governador goiano fez para que sua voz, aliás, a mais crítica ao texto da reforma, fosse ouvida nos últimos meses. Há quem acredite que a aprovação do texto nesta quarta, dia 8, signifique uma derrota ao mandatário que está em viagem à China, mas não é. 

Caiado conseguiu fazer barulho em suas entrevistas a emissoras nacionais, entre elas Globonews, Jovem Pam e Revista Veja. A aprovação do texto pelo Senado Federal, com isso, não tira alguns méritos do político. Não é segredo para ninguém – e ele mesmo o afirmou em diversas ocasiões – que tem o interesse de disputar a Presidência da República na corrida eleitoral de 2026. 

Ao se colocar na linha de frente como a voz mais crítica a um projeto que beneficia mais o sudeste e sul, Caiado, que é um dos principais expoentes da direita brasileira, sobretudo a agrária, acena para o perfil mais combativo, de oposição, se colocado à disposição, inclusive, de colocar-se em um ambiente que estava conflagrado com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Este, inclusive, gostou do tom de Caiado nas críticas à reforma. Bolsonaro chegou a indicar algumas vezes que o goiano de Anápolis pode, sim, ser o representante da direita nas urnas contra um projeto de permanência no poder do Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva. 

Com a mídia espontânea que conseguiu, Caiado, que, quando era parlamentar em Brasília, seja como deputado federal ou senador, escapou um pouco do perfil mais moderado e burocrático que se exige de um chefe de executivo. E, claro, foi reconhecido por parte do eleitorado brasileiro que, inclusive, no coro contra Dilma Rousseff em 2013, via em Caiado a solução para o País arrancar o PT do poder. Aí, como se sabe, surgiu o fenômeno do bolsonarismo.