Desentendimento de Bolsonaro com Tarcísio favorece Caiado na disputa presidencial

Governador e ex-presidente seguem alinhados quando o assunto é reforma tributária

Postado em: 18-11-2023 às 10h30
Por: Francisco Costa
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Bolsonaro, assim como Caiado, critica a reforma tributária | Foto: Rafaela Felcciano/Metrópoles

A reforma tributária, que passou no Senado [e volta à Câmara] e tem chance de ser promulgada ainda este ano, é um ponto de desgaste de Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas de união com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). Essa cisão pode favorecer o goiano em um apoio para disputar a eleição para presidente da República em 2026.

Bolsonaro, assim como Caiado, critica a reforma tributária. O ex-chefe do Executivo nacional ainda defende boicote na Câmara dos Deputados nas medidas que favorecem o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Tarcísio demonstrou apoio ao texto.

Inclusive, na última quinta-feira (16), em entrevista à Rádio Gaúcha, o ex-presidente demonstrou chateação com o governador de São Paulo. “Não está tudo certo. Eu não comando o Tarcísio. Ele é um excelente gestor. Politicamente, por vezes, comete seus deslizes”, mencionou possíveis aproximações com a esquerda.

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Bolsonaro está inelegível por oito anos. Condenado em mais de uma ocasião pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dito isto, dificilmente conseguirá reverter o quadro e disputar o pleito em 2026. O favorito para o apoio dele era, justamente, o governador Tarcísio de Freitas. Caiado disputava a atenção, mas agora, possivelmente, tem o interesse do ex-presidente – mesmo que o republicano não esteja descartado. 

Postura

Vale citar, o governador de Goiás se mostrou irredutível diante da reforma tributária, com críticas ao longo dos meses que antecederam as votações na Câmara e Senado Federal. A posição garantiu a ele destaque na mídia nacional. 

Assim, ao se colocar na linha de frente como a voz mais crítica a um projeto que beneficia mais o sudeste e sul, Caiado, que é um dos principais expoentes da direita brasileira, sobretudo a agrária, acena para o perfil mais combativo, de oposição. E, desta forma, se coloca à disposição de estar em um ambiente que estava conflagrado com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Este, inclusive, gostou do tom de Caiado nas críticas à reforma. Bolsonaro chegou a indicar algumas vezes que o goiano de Anápolis pode, sim, ser o representante da direita nas urnas contra um projeto de permanência no poder do Partido dos Trabalhadores de Lula da Silva. Voltou a citá-lo, recentemente.

Busca por apoio

É preciso dizer que Caiado já admitiu, no fim de outubro, que deve buscar o apoio do ex-presidente. Em uma longa entrevista ao Metrópoles, ele foi cuidadoso, mas demonstrou interesse real no páreo e também na parceria com Bolsonaro. 

“Já passei pela Câmara, pelo Senado e agora concluo meu segundo mandato de governador e não posso mais [disputar a reeleição]. Eu sou de um partido, que é um grande partido, o União Brasil. Todos os partidos vão colocar nomes para disputar a eleição e, sem dúvida, meu nome será colocado”, declarou. Ele disse, ainda, que, entrando na corrida eleitoral, espera contar com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje inelegível. “Se eu tiver sucesso em uma candidatura, se eu for indicado, é lógico que vou buscar o apoio dele [de Bolsonaro].”

Sobre o relacionamento com o ex-presidente, Caiado cita que este não é de agora. “Fui parlamentar por 24 anos, o mesmo período que ele foi. A convivência sempre foi muito respeitosa, mas guardo muito minha independência. Valorizo meus princípios e minha consciência.” Neste momento, o governador lembrou das divergências que ambos tiveram durante a crise pandêmica da Covid-19, quando os gestores se estranharam na condução das gestões.

O chefe do Executivo estadual falou, ainda, sobre o pleito de 2022, quando Bolsonaro teve um candidato em Goiás – Major Vitor Hugo (PL). “Respeito. Nem por isso deixei de apoiar no segundo turno – estava polarizado entre ele [Bolsonaro] e o Lula.” Inclusive, enfatizou que sempre recebe Bolsonaro em Goiás e receberá, assim como faz com os ministros do governo federal. “Eu tenho o meu estilo de governar, ele tem o dele. O Lula tem o dele, Michel Temer, Fernando Henrique…”

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