Queiroz pede dinheiro e ameaça o clã Bolsonaro

No final de 2022, Queiroz enviou áudios a Alexandre Santini, dizendo que as "migalhas" que recebia não eram suficientes para mantê-lo de boca fechada

Postado em: 23-11-2023 às 19h01
Por: Larissa Oliveira
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Foto: Agência Brasil

O político Fabrício Queiroz, ex-assesor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), enviou uma série de áudios para Alexandre Santini, ex-sócio de Flávio Bolsonaro. Nas gravações, Queiroz admitiu que recebeu apoio financeiro do clã Bolsonaro e que cobrava esses pagamentos para ficar em silêncio. De acordo com os arquivos enviados por WhatsApp, Queiroz possui muitas informações que podem complicar não só o primeiro filho de Jair Bolsonaro (PL), como também o próprio ex-presidente da República.

Nos áudios, Queiroz pediu dinheiro na forma de “empréstimos” para serem quitados posteriormente não por ele próprio, mas por Flávio Bolsonaro. Além disso, ainda reclamou que não estava recebendo o mesmo tratamento que outros aliados do ex-presidente. Para mais, também alertou ter conhecimento de vários rolos relacionados à família Bolsonaro. Portanto, ficou evidente como Queiroz pressiona e ameaça de revelar os bastidores de sua atuação nas transações heterodoxas em favor do clã.

Essas mensagens foram enviadas a Santini quando Queiroz e os Bolsonaro evitavam contato direto em virtude das investigações sobre as rachadinhas. Aliás, esse caso consiste em mais uma das inúmeras investigações de escândalos políticos do Brasil que nunca terão solução. Ou seja, foi arquivada pelo Judiciário e os culpados ficarão sem punição. Porém, mesmo depois das apurações acabarem, Queiroz continou atormentando a família Bolsonaro, pedindo dinheiro e fazendo ameaças.

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Mais que amigos

No final de 2022, Fabrício Queiroz procurou Alexandre Santini porque, segundo ele, estava com dificuldades financeiras. “Você não tem noção da fogueira que eu tô pulando”, disse em um dos áudios. Além disso, reclamou que não recebeu amparo o suficiente da família Bolsonaro e se gabou da lealdade com o clã. Dirigindo-se a Santini, ele afirma: “Se acontecesse com você o que aconteceu comigo, você bancava até o final também, (porque) tu é homem”.

Queiroz e Santini se conheceram quando Flávio Bolsonaro ainda era deputado estadual no Rio de Janeiro e, desde então, se tornaram amigos. Durante o auge do caso das rachadinhas, ambos estiveram sob investigação do Ministério Público (MP). Queiroz como operador do esquema e Santini como sócio da loja da Kopenhagen. Aliás, de acordo com o MP, Queiroz usava essa mesma loja de chocolates para lavar dinheiro de origem ilícita, para mandar recados e pedir dinheiro a Santini.

Portanto, Santini nada mais era do que a conexão que Queiroz tinha aos contatos com a família Bolsonaro. Era a ele que recorria quando precisava pedir proteção e dinheiro. No final do ano passado, Queiroz precisou da ajuda de Santini mais uma vez, conforme o conteúdo dos áudios. Contudo, Queiroz não sabia que Santini havia rompido com Flávio Bolsonaro.

As “migalhas” do clã

Fabrício Queiroz enviou os áudios a Alexandre Santini quando os dois tinham acabado de restabelecer contato. Eles passaram um tempo sem se falar por conta das investigações sobre as rachadinhas. Porém, durante o auge do caso, Santini ainda era muito próximo de Flávio Bolsonaro, apenas havia uma ordem para que o entono do senador evitasse qualquer conversa por telefone com Queiroz. Quando voltaram a conversar, Queiroz inclusive questiona se realmente pode chamar Santini de amigo.

“Eu liguei pra você, e você disse que não podia mais falar comigo e desligou o telefone na minha cara”, se queixou o ex-assesor. Em seguida, Queiroz disse o que realmente queria. “Tô passando uma dificuldade muito grande, e eu tô precisando de um dinheiro, tá? Natal chegando aqui… Tô com problema financeiro mesmo, irmão. Não é com migalhas que me dão aí de vez em quando que resolve a minha vida, não, cara”, afirmou. Portanto, para Queiroz, a ajuda que recebia era insuficiente.

As “tretas” políticas

Em mais um áudio, Queiroz diz que seus filhos estão desamparados. De acordo com o ex-assessor, dois deles, Felipe e Nathália, até haviam conseguido alguma renda com o auxílio de um aliado de Flávio Bolsonaro. Todavia, acabaram perdendo a ajuda quando as contratações secretas realizadas por meio do Ceperj, uma fundação ligada ao governo do Rio, vieram a público. Queiroz afirma que quem ajudou seus filhos foi Gutemberg Fonseca, secretário de Esportes do governo de Cláudio Castro, do Rio de Janeiro.

Aliás, o ex-árbitro de futebol foi nomeado a secretário de Esportes por indicação de Flávio Bolsonaro, a quem era muito próximo. No entanto, como o auxílio financeiro não durou muito tempo, Queiroz se sentiu enganado. Além disso, o ex-assessor também cita o nome de outro homem de confiança de Flávio, o advogado João Pedro do Nascimento. Durante o governo Bolsonaro, inclusive, Nascimento se tornou presidente da poderosa CVM, a Comissão de Valores Mobiliários.

Portanto, o pódio em que se encontra hoje se deve por conta da indicação de Flávio Bolsonaro, porque são amigos pessoais. “Esse filho da p. desse Gutemberg Fonseca, isso é um vagabundo esse Gutemberg Fonseca. Eu sei das tretas dele todas, cara. Sei que… Sei das tretas dele todas junto com o João Pedro… Eu não sou de bobeira, entendeu? Você sabe que informação é o que eu mais tenho”, expõe Queiroz, como forma de pressionar e ameaçar todo o clã Bolsonaro através de Santini.

O falso “empréstimo”

Em outro áudio, Queiroz disse que não mandaria mensagem diretamente para Flávio Bolsonaro para não colocá-lo em apuros. Isso porque, segundo ele, o país estava passando por uma situação complicada após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. Na ocasião, o ex-assessor aproveita, mais uma vez, para reclamar do tratamento que a família Bolsonaro vinha lhe dando. Ele afirmou que outras figuras de confiança do clã estavam “bem”, “com dignidade”, enquanto ele próprio estava em apuros.

Ao pedir dinheiro a Alexandre Santini, ele fala em empréstimo. Só que curiosamente, diz que quem pagaria seria “o amigo”, se referindo a Flávio Bolsonaro. “Eu tô precisando de uma grana emprestada aí e depois eu vejo com o amigo lá pra te pagar aí, cara. Eu sei que eles (os Bolsonaro) estão numa sinuca de bico do c. Acho que eles queriam tudo na vida, menos esses problemas que estão enfrentando com esse bandido aí voltando ao poder”, pediu Fabrício Queiroz.

Ameaça explícita

Os áudios deixam claro que a família de Queiroz estava bastante acostumada a pedir auxílios de todo tipo a pessoas de confiança do entorno da família Bolsonaro. Até para pagar mensalidades da faculdade dos filhos o ex-assessor esperava contar com a ajuda do clã. Em um dos áudios, Queiroz conta que sua esposa procurou Victor Granado, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, pedindo dinheiro para colocar em dia os boletos do curso de uma de suas filhas, Evelyn Mayara.

“Acumula, fica seis meses, ela liga, se não (pagar) ela não pode renovar a matrícula. Eles (referindo-se aos filhos de Jair Bolsonaro) fizeram faculdade, eles são tudo (formados em) faculdade particular, eles sabem como é que funciona isso”, se queixou. Além disso, Queiroz também apontou a nomeação da esposa de Victor Granado no gabinete de Flávio no Senado e diz que o próprio Granado teria parceria milionária com uma das advogadas de confiança do senador.

“A mulher do Victor (Mariana Frassetto Granado) tá lá pendurada no gabinete ganhando 20 mil, o Victor tá com um contrato milionário com a Luciana… Eu não sou otário, pô, eu sei de tudo, entendeu?”, disse. Queiroz afirmou ainda que tem informações de que vinha sendo criticado pelos filhos de Jair Bolsonaro. Em seguida, ele ameaça: “Eu quero falar isso com o amigo (Flávio), frente a frente. Porque, se for verdade, eu vou pro pau mesmo. Foda-se, eu sou homem pra c.”.

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