Aceno de Caiado a Dino ao STF é estratégia para 2026

Governador, em entrevista, deixou a entender que Dino teria seu apoio para vaga na Suprema Corte. Caiado sabe que Dino seria uma pedra no sapato caso fosse candidato do PT em 2026

Postado em: 11-12-2023 às 08h03
Por: Yago Sales
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Governador, em entrevista, deixou a entender que Dino teria seu apoio para vaga na Suprema Corte. Caiado sabe que Dino seria uma pedra no sapato caso fosse candidato do PT em 2026 | Foto: Reprodução

Quem não sabe, deveria saber: quase todos os passos que um político, da envergadura do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), no segundo mandato no governo goiano, devem dar pistas de que vai pleitear, no seu partido, o fôlego de disputar à Presidência em 2026. E não há nenhum problema nisso.

Ronaldo Caiado é um dos nomes mais expressivos da direita brasileira sendo, antes do advento do bolsonarismo – na personificação de Jair, o ex-presidente, e de seus filhos Bolsonaro – como uma voz opulenta para representar a antítese dos movimentos político–partidários encabeçados pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a estrela-mor do Partido dos Trabalhadores, de quem a legenda ainda não consegue se ver longe. Afinal, não existe um substituto à altura, pelo menos eleitoralmente.

Até teria, claro. Mas não um petista encarnado. O nome: Flávio Dino de Castro e Costa. O homem de uma das biografias mais invejáveis para muitos e enojadas por outros – mais pelo fator de defender, há décadas, a bandeira do comunismo. Dino foi deputado e governador do Maranhão pelo PCdoB.

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Advogado, escritor, foi juiz federal. Agora, por enquanto, claro, é ministro da Justiça. Largou tudo para enveredar na política. Ainda não disse que gostaria de chegar à Suprema Corte. De qualquer forma, Flávio Dino foi o escolhido pelo presidente Lula para assumir ao cargo e, evidentemente, deixar o posto de ministro da Justiça, um dos lugares de maior destaque no primeiro escalão do terceiro mandato do petista. Agora, contudo, Dino está filiado ao PSB – partido de figurões, como o senador Jorge Kajuru.

Voltando ao governador goiano Ronaldo Caiado. Ele, como pré-candidato à Presidência da República, entendendo que precisará de mais de 50 vezes mais votos do que obteve para ocupar a cadeira de governador, sabe que precisa, pé ante pé, compreender alguns grupos que vão além daqueles que o admiram, muitos dos quais conservadores. E, claro, a maioria ligada direta ou indiretamente ao agronegócio. 

Por isso, chamou atenção que Caiado, durante entrevista, deixou a entender que votaria em Flávio Dino para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) caso fosse senador. Caiado já foi senador. E Flávio Dino, antes de ministro, é senador empossado e licenciado. Há uma conexão respeitosa entre ambos. 

A fala, dada em entrevista a Reinaldo de Azevedo, na terça-feira (5), foi publicada no perfil do jornalista no Twitter, na quarta (6). “Eu convivi muito com ele. Você pode não concordar com as posições, uma ou outra dele, mas em termo de conhecimento, em termo de cultura, de conteúdo… é um cidadão de estofo para estar no Supremo, não tenha dúvida”, declarou.

De acordo com o governador, “gostar ou não gostar é uma coisa, mas você não pode desconhecer a inteligência das pessoas, não pode desmerecer a capacidade intelectual”. 

A declaração, dizem palacianos, fazem acenos tanto para quem gosta de Dino – pessoas de centro-esquerda, por exemplo – quanto à expectativa de se “livrar”, numa conotação positiva da expressão, de um nome que poderia ser uma pedra no sapato de Caiado na disputa eleitoral em 2026 caso, longe do STF, e cada vez mais popular com suas charadas e jeitão de falar sem demagogia, crescesse nas pesquisas e Lula fosse obrigado a bancar o comunista com apoio do PT. 

Claro, tudo não passa de uma interpretação simplória. Sabe-se que raramente o PT abriria mão de lançar um nome próprio para bancar outro. Quem conhece política talvez não se surpreenderia se o Dino, nesta hipótese, filiasse ao PT, numa construção para a sucessão de Lula.

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