Eleitor está mais atento na política nacional do que na goiana

Especialistas avaliam que a disputa presidencial tem chamado mais a atenção do eleitor que a estadual

Postado em: 01-10-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Especialistas avaliam que a disputa presidencial tem chamado mais a atenção do eleitor que a estadual

Rafael Oliveira*

A eleição presidencial tem chamado mais a atenção dos eleitores goianos que a disputa estadual ao governo e aos Legislativos local e federal. O professor de Ciência Política da PUC Goiás, Wilson Ferreira Cunha, aponta alguns fatores que deram o tom na política nacional: a candidatura do deputado federal fluminense Jair Bolsonaro (PSL), como um personagem novo na disputa presidencial que se aproveitou do vácuo deixado pela direita brasileira, a briga eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se conseguiria ser ou não candidato. Lula está preso em Curitiba e foi barrado pelo TSE na Lei da Ficha Limpa. 

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As reviravoltas no petismo nacional trouxeram novidades ao eleitor, apesar da alta taxa de indecisos e votos brancos e nulos nas pesquisas presidenciais – beira os 40%. “As expectativas que as eleições e os personagens trouxeram ao eleitor para o próximo mandato de presidente esquentaram os debates na televisão e consequentemente a população passou a prestar mais atenção”, explica Cunha. 

O distanciamento entre os políticos e a população nos últimos 10 anos, devido aos extremismos ideológicos, levou o eleitor a se afastar das eleições estaduais; naturalmente mais próximas ao cidadão. Wilson Cunha diz que a eleição em Goiás está praticamente definida em torno do candidato democrata. “Quase uma vingança ao projeto do PSDB de 20 anos no poder”. Essa suposta vingança também se estende no cenário nacional ao analisar a inércia de Geraldo Alckmin nas pesquisas, apesar dos devidos investimentos financeiros na campanha e o maior tempo de televisão. A campanha tucana já gastou R$ 42,9 milhões, sendo R$ 15,2 milhões destinados à produção dos programas de rádio e televisão, bem como de vídeos. Alckmin foi o candidato que mais arrecadou recursos, uma soma de R$ 51 milhões. 

Outro fator apontado por Wilson Cunha é a atual dificuldade financeira vivida pelos brasileiros nos últimos anos, desde a crise financeira nacional de 2014. “Os estados estão quebrados e os municípios também. Os eleitores tem a tendência de achar que o presidente vai resolver esses problemas de imediato”, disse o professor. 

A eleição ao Congresso Nacional deveria ser fator de maior preocupação por parte da população, avaliou Cunha. “A maior parte de mudanças reais acontecem em decisões dos congressistas. O presidente sozinho não resolve muita coisa”. 

Ainda segundo o cientista Wilson Cunha, Goiás não é uma ilha e a eleição presidencial é mais importante que a estadual. “O eleitor tem no inconsciente que o presidente muda os rumos do Brasil em passe de mágica”.

Os partidos tradicionais na disputa a cadeira mais importante do Executivo, como o PSDB, deixaram um vácuo no espectro ideológico, assumido por Jair Bolsonaro depois da eleição de 2014, quando o senador Aécio Neves (PSDB) perdeu a eleição e se tornou réu na investigação da Lava Jato. Atualmente, os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin não conseguiram chegar ao eleitor brasileiro. “A ideia que está na cabeça dos eleitores é que só tem dois candidatos: Bolsonaro e Haddad. Prova disso é que os demais patinam em um dígito nas pesquisas”, avaliou Cunha.

Eleição tem início nos municípios 

Uma vez que a cidade é o espaço em que se dá a vida cotidiana das pessoas, é nesse mesmo espaço que são aplicadas as políticas públicas que mais influenciam a vivência dos cidadãos. Os programas relacionados à saúde, meio ambiente, educação e muitos outros são executados em cada um dos municípios brasileiros, mesmo que eles sejam programas dos governos federal e estadual, conta o professor Wilson Cunha. 

Os prefeitos e vereadores exercem um importante papel na implementação desses programas. “Dessa forma, a escolha desses gestores determina como será a futura qualidade de vida dos cidadãos”, analisa Wilson Cunha.

Nos municípios, é possível que o cidadão participe mais ativamente das eleições gerais porque a proximidade com os gestores públicos municipais é maior, se compararmos com os estaduais e federais, explica o professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília (UNB), David Fleischer. 

“Nas eleições municipais, a relação é muito mais próxima entre eleitores e candidatos. Às vezes, o eleitor até conhece pessoalmente aquele candidato que está pedindo o voto dele. Isto permite que o cidadão acompanhe melhor as atividades realizadas pelos candidatos. O que é contraditório na eleição presidencial, onde o eleitor tem pouco contato com os candidatos”, analisa Fleischer. 

Economia

O professor da UnB também analisou o fraco desempenho da economia nacionalna vida cotidiana dos brasileiros. Para Fleischer, o alto índice de desempregados no país faz com que as pessoas analisem mais o cenário nacional, que comumente tem mais poder para implementar políticas que revertam o avanço do desemprego.

Coligações partidárias influenciam a decisão do eleitor 

Cientista político e presidente da Associação Brasileira de Cientistas Políticos no Distrito Federal (Abcop-DF), Alexandre Bandeira explica que a relação das coligações partidárias influenciam os eleitores por duas visões: os interesses políticos estaduais de cada partido e a proximidade dos diretórios regionais, através dos seus políticos, com os eleitores. As coligações nacionais e estaduais obedecem a rito próprio, explica Bandeira, que confunde o eleitor quando um político estadual apoia certo candidato ao Planalto e outro não; políticos que geralmente não tem vínculos com a eleição presidencial.

“Existe claramente uma questão de conflito de interesses. Na perspectiva nacional, que gira em torno da eleição presidencial, existem interesses partidários em níveis diferentes, como espaço nos órgãos da União, vide loteamento de Ministérios, e força política no Congresso Nacional. Quando descemos para uma localidade, seja qual for, entra a regionalização dos interesses políticos e a proximidade das figuras regionais com o eleitor.”

Ainda segundo Bandeira, as executivas estaduais conseguem se aliar em chapas majoritárias mesmo distantes umas das outras na disputa nacional. “Os Estados têm as características dos políticos locais ligadas ao seu eleitor e os partidos têm seus candidatos a nível nacional que adentram o eleitorado estadual independente de partido. Como exemplo, um eleitor pode votar em um candidato do PSDB à Presidência da República e votar em um governador do PDT”. 

O cientista político lembra tempos passados quando os partidos e a legislação eleitoral previam a verticalização obrigatória de coligações, mas “não deu certo, porque o eleitor tende a votar no candidato e não no partido”.  (*Especial para O Hoje) 

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