Lula coleciona descumprimento de promessas em 2023

Apesar de agir na contramão de vários pontos prometidos na campanha de 2022, governo alcançou conquistas importantes para a recuperação de indicadores-chave

Postado em: 27-12-2023 às 09h30
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Lula coleciona descumprimento de promessas em 2023
Expectativa do presidente é ‘colher os frutos’ em 2024 | Foto: Marcelo Camargo/ABr

O primeiro ano do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi marcado por conquistas, como a criação do Desenrola, programa que permite a renegociação de dívidas; a reforma tributária, que moderniza e simplifica o sistema tributário do País; o controle da inflação, de 12,13% em abril de 2022 chegou a 3,16% em junho deste ano; e outras; mas também pelo descumprimento de promessas. Entre elas, a não reeleição.

Durante a campanha, Lula prometeu que não disputaria a reeleição. Ainda em fevereiro, ele afirmou que a depender da saúde e do cenário político, ele poderia tentar mais um mandato. Em 2026, ele completará 81 anos. 

Como publicado pelo Jornal O Hoje, com a ida do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal (STF), o PT e a esquerda ficam ainda mais reféns de Lula para 2026. “Não há ninguém no espectro [esquerda] que possa ocupar de maneira mais direta o cargo de sucessor, como Dino. Não há nome direto nem no PT e nas esquerdas com o trânsito do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública”, avaliou o professor e cientista político, Marcos Marinho.

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Mas ainda sobre as promessas, Lula disse que daria mais espaço para as mulheres. Além de uma equipe ministerial formada majoritariamente por homens, ele demitiu Daniela Carneiro (Turismo), Ana Moser (Esporte) e Rita Serrano (Caixa) para acomodar o centrão. 

Mas não só. Apesar de apelos por mais representatividade no STF, Lula indicou dois homens para a Corte. Mais recentemente Flávio Dino, como já mencionado, e o advogado dele na Lava Jato, Cristiano Zanin. O movimento desagradou parte da militância. 

O déficit zero, uma das propostas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está prevista no orçamento de 2024. Para Lula, a meta “não precisa ser zero, o País não precisa disso”. Mas na campanha, uma das promessas do petista foi a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Em 2023, a faixa alcançou pouco mais de R$ 2 mil. 

Ainda na campanha, Lula prometeu recriar o Ministério de Segurança Pública, contudo, a pasta segue unida com a de Justiça. Da mesma forma, ele disse que proporia uma nova legislação trabalhista e mais. 

Há, ainda, um programa para levar internet banda larga para todas as escolas do País. Sobre este último, em junho deste ano, o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou que o governo preparava o programa com o intuito de efetivá-lo até o fim de 2026.

Análise

O professor e cientista político, Marcos Marinho, explica que “campanha é campanha, promessa de campanha é promessa de campanha”. Segundo ele, o período eleitoral é o momento que o político projeta o ideal e acredita que aquilo vai convencer os eleitores a dar o apoio. “Governo é o Congresso participando de todo o processo, e dentro do Congresso há toda uma outra forma de se fazer política, principalmente quando o Congresso não é completamente aliado ao seu projeto eleitoral.” 

Para ele, esse não cumprimento de algumas promessas faz parte da normalidade. “Além da reforma tributária, algumas outras situações foram aprovadas no Congresso só porque o Lula cedeu. A gente tem aí um sistema político muito bem organizado nessa perspectiva de freios e contrapesos. Então, para mim, está dentro da normalidade”, esclarece.

Outro ponto, que ele destaca como motivo de descontentamento de parte dos eleitores, é o fato do petista não ser um “revolucionário”. “O Lula é um reformista. Os governos do PT sempre foram reformistas, nunca foram governos revolucionários, de ruptura, de implementar as pautas que defendem há muitos anos de uma maneira abrupta”, argumenta. 

Ainda segundo ele, o presidente sabe que para governar é preciso ser conservador em algumas áreas, “porque o Congresso é conservador, o País é conservador”. “Então por mais que as pessoas criem uma expectativa de que de fato ele vai implementar ações de ruptura, como colocar de uma forma ou de outra a paridade entre homens e mulheres, implementar políticas que tenham mais a ver com a ideologia e o viés da esquerda, que idealizam um mundo diferente, na prática política não é esse o perfil, o DNA do Lula não é esse. Ele não é um cara de ruptura, ele sempre demonstrou isso”. 

Por fim, Marinho aponta que os tópicos que não avançaram como foram propostos, não o fizeram porque “governativamente” não avançariam. “Porque seriam parados no Congresso”.

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