Nikolas Ferreira seria o presidente perfeito do bolsonarismo

Dia 8 de março. Como de costume, o microfone é aberto para demonstrações de respeito – de toda forma – para o Dia das Mulheres na Câmara dos Deputados. De repente, aparece o recém-eleito deputado federal do PL de Minas Gerais, Nikolas Ferreira, com peruca loira. Ele vai, como se diz, “lacrar”, a jeito que já estava acostumado quando era, há poucos meses, um vereador de Belo Horizonte. 

E seguiu o que, para deputados da esquerda presente, tratou-se de discurso transfóbico. “Hoje é o Dia Internacional das Mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar pois eu não estava no meu local de fala. Então eu solucionei esse problema aqui. Hoje eu me sinto mulher”. 

Continuando: “Deputada Nicole. E eu tenho algo aqui muito interessante para poder falar. As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. E para vocês terem ideia do perigo de tudo isso, vocês podem perguntar, qual o perigo disso, deputada Nicole. Sabe por quê? Por que eles estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é a realidade”, disse ele, no plenário da Câmara, para a qual foi eleito com 1,47 milhão de votos, a maior votação para o cargo do Brasil. 

Aos 26 anos, ele cumpria o segundo ano do cargo de vereador de Belo Horizonte quando, influenciado pelo fácil fluxo no Palácio do Planalto nos idos tempos de Bolsonaro, decidiu correr Minas Gerais em busca de votos pelo voto bolsonarista. Com o quantitativo de votos, Nikolas alcançou a terceira posição de deputado mais bem votado em toda a história da Câmara, atrás dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 1,84 milhão de votos, em 2018, e Enéas Carneiro, que em 2002 conquistou 1,57 milhão de votos.

Nikolas é acostumado a frequentar púlpitos com discurso conservador e crítico à esquerda. Ele, inclusive, aparece como uma voz preponderante, ao lado do deputado federal goiano Gustavo Gayer (PL) em um coro de xingamento contra o presidente Lula na Câmara Federal. 

Como de costume, ele aparece também frequentemente nas redes sociais, onde, de forma irônica, não poupa nada que possa debochar da esquerda. Foi o caso da última quarta-feira, quando, pelo X (antigo Twitter), compartilhou o print de uma matéria de um dos sites mais bolsonaristas do País, Terra Brasil Notícias, sobre suposto assalto que uma das sedes do PSOL teria sido alvo. “Batman não atendeu?”, escreveu o parlamentar. O site já foi condenado por espalhar notícias falsas. 

O jovem político, diante da lacração bolsonarista, se torna um nome contundente, na base que, ainda sustenta, o nome de Jair Bolsonaro como líder da direita brasileira, tem visto nele uma figura que substituiria, inclusive, em disputa presidencial, ao contrário de apoiar alguém da direita. Claro, se Nikolas fosse alguns anos mais velho. Para candidatar-se, deveria ter 35 anos – idade mínima. 

Ou seja, para ser mais claro: os bolsonaristas radicais não se inclinariam para um consenso a um nome conservador, como se espera. E candidatos não faltam: o governador de Minas Gerais Romeu Zema (Novo); o de São Paulo Tarcisio Freitas (Republicanos); e, evidentemente, como ele próprio vem acenando, o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). 

Não se sabe se é uma estratégia – pesada, por sinal -do próprio gabinete do deputado federal Nikolas Ferreira, ou de um movimento orgânico, mesmo assim concentrado, em torno dele, mas as redes sociais têm demonstrado um grande empenho do parlamentar em estar situado em praticamente todas as discussões polêmicas.