Voo solo em Goiânia é “erro estratégico” do PSDB, diz cientista político

Partido, segundo estudioso, corre risco de terminar corrida eleitoral ainda menor do que entrou. "Ao que tudo indica, o partido não será de novo o player que um dia já foi”, enfatiza

Postado em: 12-01-2024 às 09h30
Por: Felipe Cardoso
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Em entrevista ao jornal O HOJE, o cientista político Guilherme Carvalho explicou que o declínio do PSDB tem sua origem no discurso lavajatista de 2014 | Foto: Reprodução/O Hoje

O PSDB goiano está determinado a voar solo nas eleições de 2024. O partido terá candidatura própria, a decisão foi anunciada antecipadamente pelo líder máximo do tucanato em Goiás — e, agora, no Brasil — Marconi Perillo. Ao que tudo indica, o nome será, de fato, o do jornalista Matheus Ribeiro, que é suplente de deputado federal. Nos bastidores, porém, a leitura é de que o partido cometerá, caso leve o plano adiante, um erro estratégico, o que poderá, inclusive, reduzir ainda mais o já nanico ninho tucano. 

O cenário político a nível Brasil segue polarizado. É o que afirmam as pesquisas, institutos e especialistas. Em entrevista ao jornal O HOJE, o cientista político Guilherme Carvalho explicou que o declínio do PSDB tem sua origem no discurso lavajatista de 2014. Na contramão da aposta da sigla à época, a posição partidária, por si só, acabou “engolindo” o PSDB que se viu, mais tarde, envolto pelas operações e o levou a um “fracasso retumbante” em 2018. 

“O PSDB por muito tempo capitalizou o voto antipetista e foi em cima disso que ele cresceu de 1994 em diante. Isso configurou a polarização que vivenciamos até 2014”, rememorou. Isso, segundo ele, não significa que não há mais espaço para o PSDB, porém, o partido está muito distante de ter, de novo, o espaço que teve um dia. 

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O esfacelamento do PSDB, que representava a única alternativa aos antipetistas, desaguou no surgimento de uma alternativa “mais à direita”: Jair Bolsonaro. “Isso acabou por deteriorar qualquer possibilidade do PSDB ser novamente um protagonista na política nacional. E não estou falando apenas da próxima eleição. Estou falando da outra, da outra, da outra, e talvez da outra ainda. Esses são os efeitos que estamos estimando e que temos discutido bastante. Ao que tudo indica o partido não será de novo o player que um dia já foi”.

Voo solo

Na interpretação do técnico, o representante-mor dos tucanos em Goiás, Marconi Perillo, tem cometido um “erro muito grande” em apostar em uma trajetória solo nas eleições municipais de 2024. “Com o partido reduzido a um tamanho pequeno, ele tem que se apoiar em parceiros”. 

Segundo ele, o que inibe eventuais alianças do PSDB com partidos mais ligados à esquerda passa pelas bases do interior que “não perdoariam a adesão a um bloco mais amplo”. “Isso, porém, deixa os tucanos sem parceiros que poderiam ajudar a ampliar o escopo de atuação do PSDB, ajudar o partido a crescer para só depois voltar a figurar como o player importante que querem”. 

“Por meio da memória, ele constrói um discurso de baxíssima adesão. As pesquisas todas mostram que o discurso de centro, moderados, estão achatados desde 2018. Estamos vivendo uma era de extremos. Esse discurso (moderado) não tem mais campo sob o ponto de vista ideológico. Com isso, o PSDB pode, inclusive, sair ainda menor (das próximas eleições)”.

Na interpretação do especialista, Marconi não tem seguido o que as pesquisas estão mostrando. “Sua análise é baseada no que dizem os institutos e especialistas. Ele está tentando projetar uma atuação em cima de um cenário que não existe mais”, pontuou. 

Confirmação 

Em dezembro do ano passado, o ex-governador afirmou que o partido terá candidato à prefeitura de Goiânia em 2024. Em coletiva, ele disse que a definição do nome deveria ocorrer até abril.

“Lá para o mês de março e abril teremos o nome definido. Como pré-candidatos temos o jornalista Matheus Ribeiro, a vereadora Aava Santiago e o ex-vice-prefeito de Goiânia, Valdivino de Oliveira. Todos nomes testados, alguns mais jovens, outros mais experientes, mas são pré-candidatos que vão representar bem o partido”, declarou.

A coletiva ocorreu após reunião da Executiva estadual do partido. Naquele momento, o ex-governador se licenciou e entregou a presidência do PSDB Goiás para o ex-deputado estadual Hélio de Sousa, dias depois, reafirmou, em entrevista ao O Hoje, o nome próprio do partido para a disputa que se aproxima. 

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