“Goiás deve investir em tecnologia”

LUCAS CÁSSIO e LUCAS DE GODOI* Continua após a publicidade O presidente da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago), Jalles Fontoura, considera a estatal

Postado em: 16-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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LUCAS CÁSSIO e

LUCAS DE GODOI* 

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O presidente da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago), Jalles Fontoura, considera a estatal a melhor empresa pública de Goiás, pela solidez no mercado e pela capacidade de investimento. Jalles indica o investimento e tecnologia e a ampliação do esgoto sanitário como as maiores prioridades de seu sucessor, a partir do ano que vem, quando o governador eleito, Ronaldo Caiado, vai assumir a gestão do Estado. 

Ao fazer um balanço do tempo que esteve à frente da empresa, Jalles Fontoura enaltece as obras realizadas pela Saneago para levar água às cidades da Região Metropolitana e também do Entorno do Distrito Federal.

Na entrevista ao O HOJE, Jalles Fontoura manifesta preocupação com as recentes manifestações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em temas que impactam o Meio Ambiente. 

Em tom bem humorado, conta que vai deixar uma lista de tarefas para o seu sucessor. (* Especial para O Hoje) 

“Goiás tem que investir em tecnologia”

O presidente da Companhia Saneamento de Goiás (Saneago), Jalles Fontoura considera a estatal a melhor empresa pública de Goiás, pela solidez no mercado e pela capacidade de investimento. Jalles indica a ampliação do esgoto sanitário como o maior desafio de seu sucessor, a partir do ano que vem, quando o governador eleito, Ronaldo Caiado, vai assumir a gestão do Estado. Ao fazer um balanço do tempo que esteve à frente da empresa, Jalles Fontoura enaltece as obras realizadas pela Saneago para levar água às cidades da Região Metropolitana e também do Entorno do Distrito Federal. Em tom bem humorado, conta que vai deixar uma lista de tarefas para o seu sucessor continuar realizando um trabalho eficiente. 

Como o próximo governador do Estado encontrará a Saneago? 

A Saneago é a joia da coroa. Dentro do Estado é, talvez, a melhor situação. A empresa tem seis mil funcionários, faturamento de R$ 2.5 bilhões por ano, ela é uma empresa lucrativa com as contas em dias e poucas contas. Possui um programa de investimento vigoroso, inaugurou o sistema Mauro Borges que irá garantir água aos goianos nos próximos 20 ou 30 anos. Em dezembro o sistema Corumbá, que será inaugurado pelo governador José Eliton, vai garantir daqui 30 anos para Brasília e o Entorno de Brasília o abastecimento para 4 milhões de habitantes. É uma empresa que está de bem com a vida e tem olhado para o futuro. 

A MP 884/2018, engavetada no Senado Federal nesta semana, tratava sobre a privatização das empresas de saneamento estadual. Qual leitura que o senhor fazia desta medida?

A Saneago não tem nada contra empresas de capital privado, pelo contrário, temos parcerias com várias empresas privadas, como a BRK Ambiental que atua em quatro cidades goianas. Temos consciência de que no futuro não haverá dinheiro público para o saneamento, então terá que se buscar dinheiro no mercado, que é onde se tem muito dinheiro hoje. Agora, esta medida ela tinha alguns pontos que prejudicaram e colocavam em risco todas as empresas de água e esgoto do país, esse era o problema. Então algumas facilidades que elas ofereciam às empresas privadas as custas das empresas estatais, então a gente tentou fazer um acordo tentando, através de emendas, retirar esses artigos que prejudicava as estatais ou recusando a votação agora. Houve um conflito e por isso ela não foi a votação e vai caducar. Nós vamos ter um ano que vem uma discussão muito mais ampla e muito mais profunda sobre esse marco regulatório do sistema de saneamento. O debate tem que acontecer mas precisa ser também uma conversa mais refletida e mais amadurecida sem prejudicar o que já existe.

A Saneago tem algum gargalo que passará desta gestão para a próxima solucionar?

Problema não acaba nunca, a medida que você vai resolvendo um, aparecem outros. Mas o nosso primeiro e grande desafio é fazer com que o esgotamento sanitário aqui em Goiás, que está na ordem de apenas 58% das residências têm esgoto sanitário, isso é sério e impacta muito a saúde. O Brasil, como um todo, está ainda pior, são apenas 49% de cobertura. Nós, com pouco investimento podemos alcançar a marca de 70% e chegar a fazer a todas as cidades maiores que 20 mil habitantes com sistema de esgoto e negociando com as cidades menores para fazer a parceria com o município, captando dinheiro do mercado e assim atingir a universalização do sistema de esgoto em Goiás. A saúde agradece, porque, a cada R$ 1 aplicado no saneamento básico gera-se R$ 4 reais em economia na saúde, é uma regra mundial. Então essa situação é o grande desafio, mas também temos muitos avanços internos para alcançar, deixarei uma lista para o meu sucessor para que ele possa continuar fazendo o trabalho e avançando mais com a Saneago.

A Saneago teve no último semestre lucro líquido de R$ 84 milhões. O que seria possível fazer com esse dinheiro em saneamento básico. E quanto seria necessário para a universalização do esgoto.

Temos uma estimativa que nos diz que são R$ 6 bilhões para a universalização do saneamento básico, ou seja, água e tratamento em todas as residências. Nós temos capacidade de captar e também de investir com recursos próprios algo em torno dessa ordem. Eu estimo que nos próximos quatro anos vamos poder fazer, no ritmo que se encontra hoje, um investimento de R$ 3 bilhõies. Vamos dar um salto muito grande. Essa situação demanda um tempo, são investimentos caros e demorados. 

Recentemente a empresa foi acusada pelo Ministério Público do Estado de não tratar adequadamente parte do esgoto de Goiânia. Como está esta situação hoje? 

Perante essa iniciativa do MP, nós fomos à Justiça e mostramos que não tinha nenhum sentido tomar essa medida porque o tratamento que a gente já faz hoje gasta esse valor que é pago pelo contribuinte. Se a gente não realizasse essa coleta, ia ser um estrago no Rio Meia Ponte, e para a continuação do tratamento precisávamos do dinheiro. A Saneago não é uma empresa que tira lucro, ela aplica aquilo que ela recebe, o lucro é decorrência da empresa inteira, nesse caso, são R$ 5 milhões por mês e R$ 60 milhões por ano. E pior do que isso, poderia ter o esgoto voltando para o Meia Ponte. A Saneago já voltou às obras que foram paralisadas pela Operação Decantação, que foi uma operação que não virou nada, nenhuma pessoa foi indiciada após dois anos, mas prejudicou uma obra que estava andando que iria fazer o esgoto da cidade de Goiânia inteira. No ano que vem, terminada a obra, Goiânia terá 100% de esgoto. 

Uma obra muito esperada pelos aparecidenses é o projeto conhecido como Linhão. Como anda a obra e qual a previsão de entrega?

O Linhão é um investimento de R$ 265 milhões que já temos o financiamento e o primeiro trecho do projeto será licitado no mês de dezembro. Esse trecho é da água que passa próximo a Praça do Cruzeiro, vai à Serrinha, Parque Amazonas e Shopping Buriti. É uma situação mais crítica, e vamos aumentar agora esse bombeamento de água. O desafio é levar água para Aparecida de Goiânia, porque Aparecida só tem 73% de cobertura de água, é o grande investimento da Saneago em Goiás e o Linhão é o segredo para poder fazer a água chegar lá.

O estado sofreu com a falta de água no ano passado. Faça uma comparação entre esse ano e o ano passado.

A grande diferença foi o Rio Meia Ponte. No ano passado nós tínhamos água sobrando no Mauro Borges (que é o Rio João Leite), mas não havia o encanamento para fazer essa água chegar à grande Goiânia. O principal quanto ao problema da falta de água foi o bom tratamento que demos ao Rio Meia Ponte. No ano passado nós estávamos retirando mais água que o rio tinha, então não tinha jeito, havia também a extração irregular da água e com isso foi reduzido em 70% a vazão d´água. O mérito de não ter faltado água esse ano foi em primeiro lugar da SECIMA, ela mandou todos os pivôs de extração terem hidrômetros para regular essa retirada d´água. 

De que forma o senhor percebe o aceno do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em flexibilizar a emissão de licenças ambientais? Afrouxar para a agricultura traria prejuízo para o meio ambiente?

Isso é muito sério. O meio ambiente é muito sério, mas o presidente Bolsonaro ainda é estagiário, ele ainda está testando muita coisa, ainda não há um processo finalizado. O Ministério do Meio Ambiente trata de algo que é o futuro, o homem está depredando e matando a natureza, à medida que sete bilhões de pessoas estão jogando seus dejetos na natureza, a poluição na atmosfera e o descuidado com as águas, como é o caso do Rio Meia Ponte. Um estado como Goiás que recebe a benção de 1500 milímetros de água por ano tem que investir em tecnologia para a captação e armazenamento desse volume. 

“Com pouco investimento podemos alcançar a marca de 70% de esgoto sanitário”

“Deixarei uma lista para o meu sucessor continuar fazendo o trabalho e avançando”  

 

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