Ato de celebração de um militar vira caso de política regional

Caso do militar que se juntou à torcida do Goiás para comemorar o acesso do time à série A virou debate nas Casas Legislativas do Estado

Postado em: 22-11-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Caso do militar que se juntou à torcida do Goiás para comemorar o acesso do time à série A virou debate nas Casas Legislativas do Estado

Tenente César Salustiano recebeu Moção de Confiança pela Câmara Municipal de Goiânia

Venceslau Pimentel*

Em tempos de Operação Lava Jato, virou lugar comum a divulgação, pela imprensa, de casos de políticos que vão parar na polícia, por conta, quase sempre, de denúncias de corrupção. O que se vê, agora, em Goiás, é um caso policial que vai parar no noticiário político.

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Por conta da decisão da Polícia Militar, de instaurar procedimento administrativo disciplinar para apurar a postura do tenente César Salustiano, por ter se juntado à torcida do Goiás para comemorar o acesso do time à série A do Campeonato Brasileiro, o caso foi parar na cena política. Tudo isso por conta do vídeo, gravado no aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, ter viralizado nas redes sociais.

Numa iniciativa do presidente da Câmara de Goiânia, Andrey Azeredo (MDB), foi aprovado, ontem, Moção de Confiança em apoio à atitude do tenente, depois que a PM instaurou processo administrativo. Além do apoio ao militar, o documento será levado ao conhecimento da Secretaria de Segurança Pública. “É um documento oficial da Câmara de Vereadores, demonstrando o apreço e total respaldo à ação daquele policial. E que isso possa ser anexado ao dossiê funcional como reconhecimento ao bom trabalho desempenhado por ele”, destaca.

O assunto também repercutiu ontem, na Assembleia Legislativa. A primeira a se pronunciar foi a deputada Lêda Borges (PSDB). “Gostaria de demonstrar meu apoio ao tenente”, discursou. Para ela, o ato de Salustiano condiz com que se propõe o policiamento comunitário, que é justamente a aproximação das forças de segurança com a sociedade. “Se fala em processo disciplinar contra ele. Quero dizer que estou ao lado dele e sou contrária a essa sindicância”.

Para o deputado Major Araújo (PRP), o policial não transgrediu o Estatuto da PM e nem cometeu crime. Por isso, posicionou-se contra a sindicância. “Atitudes como a dele devem ser tratadas como normais”, defendeu, lembrando que a PM também é formada por torcedores. Ao pedir a palavra, o deputado Marlúcio Pereira (PRB) defendeu moção de aplauso ao tenente.

O Estatuto da PM de Goiás não dispõe de artigo que trata especificamente de manifestações como a do tenente César Salustiano. Coincidentemente, ele foi sancionado em dezembro de 1975, pelo então governador de Goiás, Irapuan Costa Júnior, que hoje comanda a Secretária de Segurança Pública, 43 anos depois de o ato ter sido publicado no Diário Oficial do Estado.

O Estatuto traz, em seu artigo, 46, o regulamento disciplinar que classifica as transgressões disciplinares, mas que não inclui entre elas o caso do tenente. Em seu artigo 30, o Estatuto fala dos deveres dos integrantes da corporação e diz que eles emanam vínculos racionais e morais que ligam a PM à comunidade estadual. Já o artigo 26 trata das manifestações essenciais ao valor do policial. E nelas estão inseridas o amor à profissão e o entusiasmo com que é exercido.

Por sua vez, o Código de Ética e Disciplina dos militares, sancionado pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB), em janeiro deste ano, classifica as transgressões em leves, médias e grandes. Mas também não há ali enquadramento como o do fato ocorrido como tenente César Salustiano.

Há de se concluir que a empolgação do militar, em se juntar à torcida esmeraldina para comemorar o acesso à elite do futebol brasileiro é manifestação inerente ao ser humano, independentemente da função, cargo ou profissão da cada um. Tanto é que, da mesma forma de agora, embora em menor intensidade, o tenente foi visto e filmado batendo bola num campinho de chão batido, com crianças, na periferia de Aparecida de Goiânia. Bem melhor que a truculência eventualmente cometida por membros da corporação. A cidadania agradece. (*Especial para O Hoje)

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