“O advogado está abandonado”

Rubens Salomão*

O advogado e presidente do sindicato dos advogados de Goiás, Alexandre Caiado, encabeça a chapa “OAB pra você”, em disputa pela presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Goiás (OAB-GO). Seu discurso é defender as prerrogativas dos profissionais, que em sua visão, não tem sido garantidos pela atual administração. Alexandre refuta a acusação de buscar ganhos políticos com a candidatura e garante que não busca relação desse sentido no Estado, já que o governador eleito, Ronaldo Caiado, é seu primo. Ainda em entrevista ao O Hoje, o advogado defendeu que a Ordem atue primeiro para garantir os direitos dos advogados e depois, da sociedade. (* Especial para O Hoje)

O senhor trabalhou na defesa das prerrogativas ainda na OAB-GO e é presidente do sindicato dos advogados. Quais demandas o senhor enxerga para a categoria em Goiás? 

O advogado do estado de Goiás está abandonado pela atual gestão. A prova disso é que o sindicato vem, desde 2016, recebendo telefonemas diários de mais de 20, 30 pessoas pedindo atendimento melhor para os seus problemas. Estamos percebendo que a OAB-GO não tem trabalhado na defesa das prerrogativas dos advogados. Eles dizem ter criado uma procuradoria, mas ela se trata apenas de três advogados que ficam dentro de um escritório e não estão ali para defender estes advogados, mas sim para abrir procedimentos contra a advocacia, como a cobrança de mensalidades e ações que envergonham o advogado. Em 2016/2017 a advocacia da Capital ficou paralisada pela digitalização dos processos, houveram varas que ficaram 12 meses paralisada. Um advogado ganha com o andamento do processo, o que esse advogado que ficou com 12 meses de processo parado ganhou? E a OAB-GO não fez nada com essa paralização, e ao final vem a anuidade que o advogado não consegue pagar e ainda tem seu nome colocado no SPC.

O senhor tem provas de que a procuradoria tem tido esse desvio de função ao citar advogados no SPC? A atual gestão diz que a procuradoria é um sucesso, que é visitada inclusive nacionalmente.

O que é dito pela administração e a realidade são coisas distintas. Isso é natural, mas quantas notas de desagrado foram feitas pela atual gestão? No máximo três. Quantos procedimentos na corregedoria foram acompanhados? Na nossa gestão de prerrogativas fizemos mais de 30 notas de desagrado deferidas e publicadas, centenas de procedimentos feitas pela própria gestão de prerrogativas, mesmo tendo procurador que ainda está atuando na OAB-GO. 

O atual presidente tratou a sua chapa e a do outro candidato como atuação política, é isto que o senhor faz dentro da Ordem?

Pedro Paulo sempre foi da cúpula da gestão da gestão ‘OAB Forte’, então ele sempre esteve na turma que tomava decisões. Eu só era um soldado, fui membro da prerrogativa por seis anos, ao final eu já era reconhecido nacionalmente como um dos maiores defensores da prerrogativa. Só que a cúpula da ‘OAB Forte’ mandou trocar a secretaria geral e fui colocado como vice-presidente, mas sempre como segundo plano. Eu nunca fui da cúpula, vi conselheiros que nunca fizeram nada pela OAB-GO chegarem como titulares. Chegamos à presidência da OAB-GO pela gestão e trabalho feito e reconhecido nacionalmente na defesa das prerrogativas e não por estar em grupos ou panelas como a chapa de Lúcia Flávio.

Como o senhor avalia que a Ordem deve se posicionar sobre temas importantes para a sociedade e como seria seu posicionamento?

A OAB-GO tem que se posicionar a favor do advogado que tem sido tratado de maneira desrespeitosa pelos poderes e a gestão que concorda com isso e vem prejudicando as defesas das prerrogativas dos advogados. Por exemplo com um alvará de soltura que tem 24 horas pra poder libertar o preso, eu nunca ouvi falar disso na vida e a OAB-GO concordou com isso. Vamos fortalecer a advocacia, fazendo a OAB-GO se fortalecer para defender a sociedade. A Ordem tem que, primeiro cuidar da sua casa para depois fazer para a sociedade, e hoje ela não faz a sua parte nem com os advogados imagina com a sociedade. Temos que investir na advocacia, vamos fazer uma advocacia muito melhor e mais atuante.

A Ordem tem que ser independente quanto ao posicionamento político partidário? Citando aqui o caso do ex-presidente Henrique Tibúrcio, que se filiou ao PSDB.

E ai que é o ponto, nós hoje temos um governador eleito que é meu primo. E nós temos que trazer esse ótimo relacionamento e trazer para o benefício da advocacia e não o contrário, pegar um relacionamento e se cacifar pessoalmente para ganhar algum benefício. Vocês conhecem Ronaldo Caiado, sabem que ele jamais colocaria um parente num grau de estrutura de governo e nós nunca trabalhamos assim. Mas sim, sabe do respeito que se tem entre nós, ele foi um líder político e todas as vezes que eu precisei interagir a ele como político foram públicos e não tinha nada pessoal. Vejo isso com muito bons olhos, lá na frente Lúcio Flávio poderia se beneficiar disso, mas Alexandre Caiado não. 

Se você tiver que criticar o primo, que é o próximo governador de Goiás, você o fará?

É claro, ele sabe disso e eu tenho a maior certeza, nós somos filhos de advogados, nosso avô era advogado, ele conhece a advocacia apesar de ser médico. Não teremos problemas na advocacia e nunca transigi com as prerrogativas e jamais aceitarei que o estado não atenda o advogado 24 horas e jamais permitirei que o Estado me peça 24 horas para liberar o preso mesmo com o alvará de soltura interposto. (* Especial para O Hoje)