Caiado vestido de Bolsonaro cai bem para sobrevivência de direita?

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil), republicano até dizer chega, parece ter vencido à irritação – pelo menos egocêntrica, e à distância – do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, a voz mais preponderante do Partido Liberal de Valdemar Costa Neto, de ver o goiano cada vez mais perto de ser o nome da direita (e ultra) brasileira à Presidência da República em 2026.  

Caiado não escondeu nem um segundo sequer desde que insurgiu como político que queria mesmo era entrar na história como presidente do País. Em 1989 entrou de cabeça numa campanha que, por ter enfrentado pesos pesados e ainda não ter a substância político-partidária necessária, homem da bandeira do agro, saiu derrotado. Assim como Lula da Silva, do PT. 

O governador goiano aparece em um vídeo neste domingo (28) ao que parece a consolidação de um projeto que, para o médico de Anápolis, com voz firme, parecia natural que mais cedo ou mais tarde alcançaria: ter o apoio de Bolsonaro ao projeto de candidatura em 2026. 

Cada vez mais longe de conseguir ser candidato antes de 2030 – prazo para o fim da inelegibilidade -, Bolsonaro, conforme divulgado ainda no sábado pelo jornal O Globo, teria ouvido, de maneira mais atenta, que o melhor para sua sobrevivência seria deixar Caiado vestir–se de Bolsonaro. Pelo menos um pouco. 

Embora Caiado tenha brio próprio, tem uma caminhada mais alinhada ao agronegócio, por exemplo – afinal, além de fundador da União Democrática Ruralista e ter se criado em Goiás, um dos solos mais importantes ao agro do mundo – e ter, sobretudo, criado a persona do governador durão, responsável e combatente, Bolsonaro cai bem. 

É que Bolsonaro, ao que muita gente desacredita, ainda é um fenômeno de votos. Onde vai é cercado por apoiadores que ainda rufam – não tambores -, mas com a voz mesmo, o símbolo que desde 2018 o resgata das profundezas do esquecimento: o mito. 

E o ex-presidente é visto como vítima do “sistema” STF, Alexandre de Moraes, e ‘golpismo’ da esquerda. Vivendo sob a tensão de a qualquer momento ter prisão decretada por algum desvio da constituição, os apoiadores de Bolsonaro querem um – paliativo, mas querem – líder que lhes possa ser tão exemplar quanto o Jair Messias no contra ataque em 2026. Ou seja: vencer o PT e tirar de Lula eventual quarto mandato.

Protocolar, respeitoso, Caiado sabe como conversar com ministros. Esteve em Brasília quando a baderneira vandalizou os prédios na Praça dos Três Poderes em oito de janeiro de 2023, oitavo dia após o retorno de Lula ao poder. Caiado sabe que Bolsonaro não consegue vestir a camisa de presidenciável, mas carrega um cajado poderoso: o de influir no candidato em 2026. E também em 2024, como ele já tem feito, inclusive em Goiás.  

A jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, disse que seria bom andar mais com Caiado. A intenção é, na verdade, fazer com que Tarcísio de Freitas dê mais acenos ao bolsonarismo e descarte Gilberto Kassab de sua base aliada. Caiado sabe disso. E vai, como o fez no domingo, surfar na onda e participar de qualquer ato ao lado de Bolsonaro, vestindo-se do aliado dos sonhos do homem que por pouco – muito pouco mesmo – quase seria reeleito e venceria Lula da Silva em 2022. 

Neste domingo, 28, Caiado, sorridente, postou vídeo em que, em cima de um caminhão, ao lado de Bolsonaro, participava de motociata em Ribeirão Preto, em São Paulo. “Hoje, ao lado de Jair Bolsonaro, percorremos as ruas da cidade recebendo todo o carinho dos ribeirão-pretenses”, disse Caiado, que esteve na cidade no sábado na abertura da 89ª edição da Exposição Internacional de Gado Zebu (ExpoZebu).