FGM quer consenso com governo federal sobre desoneração da folha

Articulação ocorre na esteira da decisão do ministro Cristiano Zanin, do STF, que suspendeu regra aprovada pelo Congresso no ano passado e que valeria até o fim de 2027

Postado em: 30-04-2024 às 08h30
Por: Gabriel Neves Matos
Imagem Ilustrando a Notícia: FGM quer consenso com governo federal sobre desoneração da folha
Caso seja mantida, terá implicações diretas nos municípios, levando a entidade a buscar alternativas para mitigar os impactos | Foto: Reprodução

A Federação Goiana de Municípios (FGM) deve articular com o governo federal um consenso a respeito da recente decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu a desoneração da folha de pagamento dos municípios. A medida, que beneficiava também 17 setores, especialmente o de serviços, segue agora no plenário virtual da Corte, e a sessão vai até o dia 6 de maio. Caso seja mantida, terá implicações diretas nos municípios, levando a entidade a buscar alternativas para mitigar os impactos.

O presidente da FGM, Haroldo Naves, afirma ao HOJE que estima que o diálogo com o Executivo ocorra antes da Marcha dos Prefeitos, marcada para o próximo mês e que terá a desoneração da folha como um dos temas centrais. A ideia é tentar atenuar os efeitos negativos da suspensão, que tem efeitos imediatos. “Nós vamos fazer propostas sobre a desoneração da folha. Mas está em fase de discussão ainda”, diz Naves, pontuando a sensibilidade do assunto e a necessidade de soluções que garantam a sustentabilidade financeira dos municípios. 

Segundo ele, a desoneração inviabiliza especialmente os pequenos municípios, que operam sob o regime geral de previdência. Eles terão de enfrentar um aumento significativo nos gastos caso a medida não seja reanalisada. O pagamento, nesse caso, passa de 8% para 20%. “Isso significa um gasto grande a mais”, analisa. “O que nós queremos é manter a desoneração dos municípios até 150 mil habitantes. O governo está sinalizando que fará uma contraproposta pra gente, e a gente está fechando a nossa para contar com o apoio do Congresso Nacional.”

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A preocupação com os desdobramentos da decisão do STF é compartilhada por parlamentares, como o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que reconhece os desafios enfrentados pelos municípios e a importância de medidas que os auxiliem a contornar as dificuldades econômicas.  

“Quando nós incluímos os municípios de até 149 mil habitantes, foi feito todas as contas. Os municípios passam por dificuldades”, destaca Vanderlan ao HOJE. “Se o presidente Lula diz que é municipalista, que apoia os municípios, então dá pra gente ter esses benefícios pelo menos por um período que vai até 2027 para que eles possam se equilibrar melhor.”

E critica a tensão no relacionamento entre os Poderes, em que passa também o tema da desoneração: “A forma que o Executivo encontrou de recorrer ao STF está dando muito ruído. Isso não é bom e é um esticar de corda com o Congresso. Nós estamos vendo aí a confusão devido a isso.”

Vanderlan aponta que o governo do presidente Lula (PT) já conseguiu vitórias com o Congresso antes mesmo de tomar posse, e cita como exemplo a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Transição. Já como chefe do Executivo, o mandatário também obteve outros ganhos. “O Congresso tem aprovado praticamente todas as mudanças nesse governo”, afirma. 

“Embora a gente não concorde muito com o que foi aprovado, é ruim a queda de braço entre os Poderes”, avalia, numa referência à atual crise do governo Lula. “O Supremo já vem com esse desgaste muito grande com a população, e agora vem essa interferência no Legislativo — em especial no Senado —, fica pior ainda.”

O Senado Federal apresentou na sexta-feira (26) recurso para retomar a validade da lei da desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios após a decisão do ministro Zanin de a suspender. A regra foi aprovada pelo Congresso no ano passado e valeria até o fim de 2027. No recurso apresentado, a Advocacia do Senado argumenta que a lei não poderia ser anulada por decisão monocrática do ministro.

O senador Jorge Kajuru (PSB) afirma que sua responsabilidade no Parlamento é ouvir as demandas dos municípios e pondera que, no caso de senadores governistas, há o direito de apresentar argumentos, “mas votar contra, não”. “O [Fernando] Haddad (ministro da Fazenda) é um cara sério, que merece nosso respeito”, opina, acrescentando que discussões sobre desoneração da folha ocorrem dentro de cada partido e de cada bancada.

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