“Nunca acreditei em segundo turno”

Professor e ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD) falou em entrevista ao O HOJE que houve equívoco na escolha do candidato ao governo de Goiás pela base tucana

Postado em: 04-12-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: “Nunca acreditei em segundo turno”
Professor e ex-deputado federal Vilmar Rocha (PSD) falou em entrevista ao O HOJE que houve equívoco na escolha do candidato ao governo de Goiás pela base tucana

O senhor defendia outro candidato à frente da candidatura tucana, o que não foi feito e rendeu uma derrota para o grupo. Qual o balanço que o senhor faz?

Quando um grupo vai ficando muito tempo no governo, ele fica dentro de uma bolha e não tem contato com a sociedade, não ouve as pessoas e sim apenas as pessoas que integram esse grupo. Eu sempre procurei conversar e ouvir as pessoas. Visitei mais de trinta cidades e percebi um sentimento de mudança. E tem que mudar mesmo e foi o que eu disse. O que eu pregava era que o nosso candidato a governador fosse um nome da sociedade, um nome novo, que tivesse autonomia para fazer um novo projeto. Não me ouviram e deu no que deu, porque as pessoas compreendiam que era verdade e não queriam perder aquelas bocas do governo, aquele conforto de estar sobre as asas do governo, aquelas pequenas vantagens, pequenos privilégios. 

Continua após a publicidade

Não seria uma mudança apenas superficial, já que essas pessoas que integram o governo seriam as mesmas?

Não. Se você lançasse um candidato novo, com a força da sociedade, que não fizesse parte deste pequeno grupo e ele fosse eleito, ele sim teria autoridade, força política, legitimidade para mudar inclusive esse grupo que está há muito tempo no poder. É preciso haver mudança, tem que haver alternância.

O senhor dizia no final da campanha acreditar na possibilidade de chegar no segundo turno. 

Eu nunca acreditei em segundo turno. Eu sabia, por exemplo, que todo aquele movimento e os programas todos, eram coisa de quem sensibilizava quem estava no governo. A sociedade estava completamente distante. 

E os programas Goiás na Frente?

Tudo bobagem. A sociedade queria um discurso de esperança, de mudança. Agora, decidi ser suplente do Marconi Perillo no dia 4 de agosto, após uma conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. Aceitei por duas razões: primeiro por gratidão ao Marconi. Marconi foi muito correto no nosso relacionamento durante esse tempo todo. E a segunda razão é porque um senador tem que ter um perfil diferente, eu acho que o Marconi seria melhor para o Estado pela experiência e visão dele. Agora, com relação ao governador, eu sabia que não ia eleito e se fosse eleito não ia dar conta do recado, falta a ele uma série de atributos e de qualificações para liderar o Estado. Políticas e administrativas. Não tem perfil. 

O que o senhor espera do novo governo estadual?

Desejo que dê certo e vejo que tem grandes chances de dar certo. É preciso lembrar que ninguém governa sozinho. Uma das qualidades para o governo dar certo é as pessoas que vão ajudar a governar, é equipe, isso é fundamental.

Os nomes da equipe de governo ainda não foram divulgados oficialmente. 

Não foram divulgados. Existe uma expectativa, mas é preciso ter muito cuidado com a escolha dos auxiliares, que depende da qualificação, competência e sobretudo do compromisso com o Estado. Tem muita gente competente, qualificada, mas que não tem compromisso com a causa pública. Eu desejo que dê certo e vou procurar, de forma independente, contribuir.

O senhor conhece o perfil de Ronaldo Caiado e tem muita gente que avalia que ele mudou na campanha. Como o senhor o percebe governador? 

Todos nós mudamos e precisamos mudar. Quando a gente vai ficando de cabeça branca, a gente amadurece e muda. Estou surpreso também com a mudança de Jair Bolsonaro, com quem convivi 20 anos enquanto deputado. Acho que ele está indo bem, ainda estava com ideia de 20 anos atrás de ele ser muito despreparado. Ele ainda é despreparado, mas acho que ele está indo bem e acho que ele pode até fazer um bom governo. 

Qual o balanço que o senhor faz das últimas eleições para o PSD, que o senhor é presidente?

Eu acho que foi bem, nós fizemos um deputado federal, o Francisco Junior, o mais votado da nossa aliança, elegemos dois deputados estaduais. A nível nacional foi ótimo, somos hoje a quarta bancada na Câmara e a terceira no Senado. Agora, eu acho que os partidos tem desafios pela frente, porque a cláusula de barreira já mostrou a que veio. Doze partidos não cumpriram e a previsão é que em 2023 só restem 7 a 10 legendas.

Mas isso é positivo.

Claro que é positivo. Então eu acho que o PSD estará nesses partidos, agora, eles precisam de ter nesse novo momento político um novo projeto. Estou defendendo nacionalmente que a gente forme um bloco com forças políticas de várias legendas, que chamo de ‘Bloco do Bom Senso’. Não é nem de ser oposição sistemática, nem governo automático. É preciso ter um bloco desse. Eu acho que tem desafios para os partidos. E tem muita gente boa que perdeu as eleições. 

Como você avalia a situação em que o Estado está sendo entregue após esses 20 anos nas mãos de um grupo?

Primeiro, eu continuo defendendo que esses 20 anos que nós participamos foi bom para Goiás. Goiás melhorou, cresceu, desenvolveu e se tornou menos desigual. Foi bom o legado. Teve erros, insuficiências e coisas que poderiam ter sido feitas. Lutei com correção e acho que o saldo é positivo. A outra coisa é o seguinte: todos os estados brasileiros tem dificuldades financeiras, mas elas serão superadas. Tem dificuldades? Tem. Mas não é nada intransponível. Esse período de chororô tem que ser superado e encontrar soluções e alternativas para o Estado continuar a crescer.  

Veja Também