Em meio a resistências no União Brasil, Moro defende Caiado para 2026

Senador absolvido pelo TSE descarta ideia de se candidatar à presidência e diz que pretende continuar como oposição ao governo do presidente Lula

Postado em: 23-05-2024 às 08h30
Por: Gabriel Neves Matos
Imagem Ilustrando a Notícia: Em meio a resistências no União Brasil, Moro defende Caiado para 2026
Caiado vem tentando se viabilizar como o nome da direita para concorrer ao Palácio do Planalto na próxima eleição presidencial, numa oposição à eventual candidatura do presidente Lula (PT) à reeleição | Foto: Reprodução

Após ser absolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ter mandato preservado no Senado Federal, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR) descartou a ideia de concorrer à Presidência da República em 2026 e defendeu o nome do governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) como um dos mais fortes quadros do partido para a disputa.

“Nós temos um plano no União Brasil, nós temos um candidato. É claro que isso vai ser definido até 2026, mas temos o governador Ronaldo Caiado como um forte nome para presidente. Meu plano em 2026 é apoiar um candidato em que consigamos defender as pautas”, disse Moro ontem (22) em entrevista aos jornalistas.

Caiado vem tentando se viabilizar como o nome da direita para concorrer ao Palácio do Planalto na próxima eleição presidencial, numa oposição à eventual candidatura do presidente Lula (PT) à reeleição. Paralelamente, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), também atuam na conquista do espólio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Continua após a publicidade

Moro também frisou que pretende continuar na oposição ao governo do presidente Lula. “Sou oposição ao Lula e pretendo continuar. Vejo o país em rumos errados em vários cenários, com aumento da tributação e da dívida pública, sem controle de gastos”, afirmou, indicando que Caiado representa a pauta econômica do União Brasil, voltada à responsabilidade com as contas públicas. 

“O governador Ronaldo Caiado representa bem o partido, se a candidatura dele se firmar em 2026. Falo isso porque ainda são vários anos à frente, mas existe um desejo do União Brasil e de lideranças de formar uma frente de centro-direita para que possamos virar uma página de políticas erradas do atual governo”, destacou. 

“Em 2026, estarei defendendo um projeto para derrotar o PT, tendo outros candidatos à frente para buscar a presidência, como o governador Caiado (GO), talvez o governador Tarcísio (SP) e talvez o governador Romeu Zema (MG). Mas fato é que temos que diminuir a temperatura política.”

Ainda que velado, a indicação de apoio de Moro ao projeto presidencial de Caiado ocorre em um momento em que o União Brasil se encontra rachado politicamente. A ala de Moro, que engaja o plano do goiano de chegar ao Planalto, se opõe a que hoje caminha com o governo Lula e deve apostar fichas no plano de reeleição  do petista em 2026. 

Nesta semana, essa divisão interna ficou clarificada em uma entrevista do ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), ao jornal O Globo em que disse não ver a probabilidade de o partido lançar candidato em 2026. “Eu entendo a vontade pessoal do governador Caiado, mas o União Brasil ainda não se posicionou em relação à candidatura presidencial para 2026. Inclusive eu, particularmente, penso que é muito mais provável que o União caminhe com o presidente Lula do que se arrisque em uma aventura de lançar um candidato”, afirmou.

Conforme o HOJE vem noticiando, o União Brasil comanda hoje três ministérios no governo federal — Turismo, Comunicações e Integração e Desenvolvimento Regional. A caminhada ao lado do PT, contudo, não tem tantos reflexos nas administrações das cidades brasileiras. Na eleição deste ano, por exemplo, o partido terá candidatura própria em Goiânia, representado pelo ex-deputado federal Sandro Mabel, nome apoiado por Caiado. Os petistas apostam na pré-candidatura da deputada federal Adriana Accorsi (PT), que disputará a Capital pela terceira vez.

Parte da agitação existente no União Brasil quanto ao apoio a um nome na próxima eleição presidencial decorre da disputa pelo comando da legenda, que fora presidida durante décadas pelo deputado federal Luciano Bivar (PE). A executiva da sigla aprovou em 20 de março o afastamento de Bivar do cargo. Em seu lugar, assumiu o advogado Antônio Rueda (PE), que contou com apoio de Caiado e foi eleito pela maioria.

Bivar estava mais alinhado ao governo Lula e sinalizava, enquanto presidente da legenda, que o União Brasil poderia apoiá-lo numa eventual candidatura à reeleição em 2026. Rueda, por sua vez, vem fazendo gestos que demonstram que o partido poderá viabilizar a candidatura de Caiado ao Planalto na próxima disputa presidencial. Pelas redes sociais, o novo chefe da sigla já fez postagens ao lado do governador goiano o chamando de “presidente”.

Ainda durante a entrevista, o senador Sergio Moro afirmou que não tem conversado com Bolsonaro — de quem foi aliado politicamente no passado — “há um bom tempo”. Ele, no entanto, agradeceu a tentativa de desmobilizar recursos do PL no processo. 

“O presidente Bolsonaro e, diga-se, a bancada dos senadores do PL, pediram que não fosse interposto nenhum recurso ou que houvesse desistência. Infelizmente, lideranças locais, mais especificamente Paulo Martins e Fernando Giacobo, não acolheram o pedido do presidente Bolsonaro”, disse o senador. 

Moro foi ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro até abril de 2020. À época, pediu demissão do cargo após divergências com o ex-presidente que trocou a diretoria-geral da Polícia Federal, ocupada na ocasião por Maurício Valeixo. 

Na terça-feira (21), o TSE absolveu Moro das acusações de abuso de poder econômico, corrupção e uso indevido dos meios de comunicação na pré-campanha da eleição de 2022. O relator Floriano de Azevedo Marques votou a favor da absolvição de Moro e foi acompanhado dos colegas André Ramos Tavares, Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques, Raul Araújo, Isabel Gallotti e Alexandre de Moraes.

Veja Também