Segunda-feira, 01 de julho de 2024

Somente perda de lideranças motiva renovação na política

Com partida de Iris e Maguito, Daniel Vilela herda uma força difícil de lidar, que é o MDB, avalia cientista político

Postado em: 06-06-2024 às 05h30
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Somente perda de lideranças motiva renovação na política
Por exemplo, o MDB se adapta e tenta renovar seus líderes, uma vez que perdeu seus principais nomes: os ex-prefeitos e ex-governadores Iris Rezende e Maguito Vilela | Foto: Montagem

Renovação é uma palavra que está sempre “na boca” dos políticos, mas não quer dizer que seja real. Analistas consultados pelo Jornal O Hoje afirmam que esta situação costuma acontecer por “força maior”, não por desejo próprio. 

Por exemplo, o MDB se adapta e tenta renovar seus líderes, uma vez que perdeu seus principais nomes: os ex-prefeitos e ex-governadores Iris Rezende e Maguito Vilela. Diante dessa orfandade, não restou escolha ao partido, a não ser formar novas lideranças por necessidade de manter a existência. 

Nessa esteira, o filho de Maguito, o vice-governador Daniel Vilela (MDB), que também é presidente estadual da legenda, puxa a responsabilidade para si. Mas com tropeços, visto que vai ficar de fora da disputa de prefeituras em cidades tradicionais, como Goiânia e Aparecida. 

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Outro nome que surge na legenda como renovação é o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB). Ele, contudo, não pode concorrer a um Paço, neste pleito, restando 2026. “Na realidade, partido nenhum gosta de renovar. Os mais velhos não aceitam passar o bastão”, revela uma fonte que atuou por anos com uma liderança de expressão, em Goiás.

“Esse debate sobre renovação era muito forte, em Goiás, no começo dos anos 2000. Iris foi derrotado, pela primeira vez, mas nem assim o MDB quis renovar. Com isso, perdeu aliados como Lúcia Vânia, Barbosa Neto e vários outros”, continua.

No PSDB, em Goiás, o ex-governador Marconi Perillo é o expoente. Em teoria, a sigla tenta emplacar nomes como o do jornalista Matheus Ribeiro e da vereadora Aava Santiago, mas como força estadual, eles ainda precisam se provar. O tucano e seu grupo ficaram 20 anos no poder. Houve tempo para construir mais um líder, mas, aparentemente, não existiu interesse. “Teve um ciclo de poder de quase 20 anos e não conseguiu se reoxigenar”, reforça a fonte.

O União Brasil, legenda novíssima, herdou a liderança do DEM no Estado, o governador Ronaldo Caiado. O presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Bruno Peixoto, trabalha para ascender, mas, possivelmente, deixará a sigla na primeira oportunidade. Por outro lado, o PL, que surge como “o partido de Bolsonaro”, a partir do fim de 2021, ganha novos nomes em Goiás, como Wilder Morais e Gustavo Gayer. Ainda é cedo, pois são figuras novas, mas, para a mesma fonte, é difícil dizer que eles irão “passar o bastão” ou trabalhar para formar lideranças.

“Conquista, manutenção e expansão”

Quem também comentou a questão ao Jornal O Hoje é o cientista político Marcos Marinho. Ele, que também é professor, afirma que quem ascende ao poder, não entrega. “É um processo natural. Conforme Maquiavel, existem três fases do poder: conquista, manutenção e expansão. Quem chega ao topo, não vai ceder, naturalmente.”

Em relação ao MDB, segundo ele, quando morre Maguito e Iris, o poder cai na “mão” de Daniel, que não tem conseguido liderar o grupo, o que faz da legenda algo “amorfo”. “Isso dá ao governador Ronaldo Caiado a possibilidade de cooptar prefeitos do MDB para o União Brasil.” Enfraquece um, fortalece o outro.

Assim, Marinho afirma que a dinâmica de “passar o bastão” não ocorre. “O poder tem que ser tomado. As figuras que permanecem por muito tempo se beneficiam de nomes menores que vão se beneficiar com elas no poder. Essas figuras não têm status para assumir o lugar de um Iris, Maguito, Marconi ou Caiado”, ilustra. “Essas pessoas não vão se colocar na disputa, mas precisam dar manutenção a quem lhe oferece benesses.” 

Para ascender, é preciso construir a estrutura política “em volta e embaixo”, para dar suporte. “Existe um perfil jovem que poderia ocupar esse espaço, mas não tem a sagacidade para isso. Pois não consegue o convencimento de suporte dentro da estrutura para se beneficiar da liderança”, finaliza ao resumir a dificuldade de montagem de grupo e de protagonismo.

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