Eleições municipais devem sofrer pouca influência de líderes nacionais

“O que faz o eleitor decidir por um prefeito são coisas muito mais práticas e próximas dele, do que as disputas ideológicas que têm polarizado o País nos últimos anos”, diz especialista em Políticas Públicas

Postado em: 28-06-2024 às 04h30
Por: Francisco Costa
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Eleições municipais devem sofrer pouca influência de líderes nacionais Foto: Marcelo Camargo/ABr

Há quem diga que as eleições municipais de 2024 serão um termômetro para o pleito de 2026, medindo a temperatura de apoios – especialmente do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Contudo, o doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas, Luiz Signates vê pouca influência – ainda assim, alguma.

“Toda eleição costuma servir de referência para o que podem ser as próximas. Mas, pelo que tenho pesquisado, é muito pequena a interferência que o bolsonarismo e o lulismo têm sobre as eleições municipais”, avalia.

Segundo ele, o eleitor que vota para prefeito observa o mandato do gestor em exercício, quando decide por continuidade ou mudança. Além disso, ele também olha o funcionamento dos equipamentos públicos dos quais ele depende para ter um mínimo de qualidade de vida (postos de saúde, hospitais, asfalto, escolas, etc.). “Apoios e posicionamentos ideológicos são fatores residuais nessa economia de sentidos.”

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Na capital, não é diferente na visão de Signates. Em Goiânia, ele diz que o goianiense votará com um olho no prefeito Rogério Cruz (Solidariedade), que trabalha para reverter uma imagem desgastada, e outro nas propostas dos candidatos que ele deverá relacionar a uma gestão eficiente, “que faça a diferença em relação a que ele julga ter tido, com o atual prefeito”.

De volta às influências, ele cita Anápolis. O município, que deu amplo apoio a Bolsonaro em 2022, prestigia com expressiva intenção de votos, conforme pesquisa, “um petista nato”: o deputado estadual Antônio Gomide. Já na capital, “a pré-candidata Adriana Accorsi estaria na margem de erro das pesquisas”, caso essa interferência federal fosse o fator predominante. “Como lhe disse, o que faz o eleitor decidir por um prefeito são coisas muito mais práticas e próximas dele, do que as disputas ideológicas que têm polarizado o País nos últimos anos.”

Corrobora

O professor e cientista político Marcos Marinho também tem dificuldade de acreditar que as eleições municipais sirvam de termômetro para federal. “Não tem conexão direta. Não dá para ter como termômetro.”

Mesmo uma metrópole como São Paulo, onde polarizam Ricardo Nunes (MDB), por Bolsonaro, e Guilherme Boulos (PSOL), Lula, a situação não serviria como termômetro. “É preciso focar na questão não local. Não adianta focar em pauta de costume, moral, etc. São problemas muito profundos e característicos, que demandam domínio da realidade.”

Ele observa, porém, que alguns grupos de eleitores podem ser movimentados pelas questões ideológicas, mas que não formarão maioria. “Essa dinâmica Lula e Bolsonaro será igual em qualquer cidade. Só dizer que é de um ou de outro não vai ser suficiente para eleger”, afirma. “O político tem que ter histórico e penetração em vários nichos sociais. De resto, esquece.”

Goiânia

Na capital, como mencionado, Adriana Accorsi será o nome do petismo. Hoje deputada federal, ela disputou a prefeitura de Goiânia em duas ocasiões. Em 2016, quando terminou em quinto lugar, e em 2020, em terceiro. O nome de Bolsonaro, por sua vez, é o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que substituiu o pré-candidato Gustavo Gayer (PL), também deputado federal e que optou por continuar na Câmara.

Pela esquerda, apenas mais um nome foi colocado como pré-candidato em Goiânia. O Professor Reinaldo Pantaleão, figura histórica do PSOL, mas que hoje está filiado ao partido UP.

Na direita, outros nomes se dizem bolsonaristas. É o caso do Delegado Humberto Teófilo (DC), ex-deputado estadual e um dos últimos a anunciar a pré-candidatura. Em linhas parecidas estão os empresários Leonardo Rizzo (Novo) e Sandro Mabel (União Brasil).

Há, ainda, o jornalista Matheus Ribeiro (PSDB), estreante em disputas pelo Executivo, e o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que nos últimos dois pleitos de Goiânia foi ao segundo turno. Por fim, o prefeito Rogério Cruz é o pré-candidato à reeleição.

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