Ramagem afirma que Bolsonaro sabia de gravação para registrar crime

Ex-presidente foi informado sobre gravação de conversa com advogadas, diz ex-diretor da Abin

Postado em: 15-07-2024 às 21h01
Por: Vitória Bronzati
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Ramagem afirmou que a gravação não foi clandestina, pois Bolsonaro tinha conhecimento e consentimento sobre o registro, cujo objetivo seria flagrar um possível crime contra o ex-presidente | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) divulgou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha conhecimento da gravação de uma conversa. Essa gravação é agora um componente da investigação da PF sobre a atuação ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), chamada “Abin Paralela”. Em um vídeo postado nas redes sociais nesta segunda-feira (15), Ramagem, que foi diretor da Abin durante o governo Bolsonaro, fez a declaração.

Mais cedo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do áudio, apreendido no celular de Ramagem durante a investigação. O diálogo gravado em agosto de 2020 envolve Ramagem, Bolsonaro, Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e duas advogadas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). As advogadas naquele momento tentavam impedir a investigação contra o parlamentar, que enfrentava acusações de “rachadinha” em seu gabinete durante seu mandato como deputado estadual. Em 2021, a Justiça anulou a investigação.

Ramagem afirmou que a gravação não foi clandestina, pois Bolsonaro tinha conhecimento e consentimento sobre o registro, cujo objetivo seria flagrar um possível crime contra o ex-presidente. “Essa gravação não foi clandestina. Havia o aval e o conhecimento do presidente. A gravação aconteceu porque veio uma informação de uma pessoa que viria na reunião, que teria contato com o governador do Rio à época, que poderia vir com uma proposta nada republicana. A gravação seria para registrar um crime contra o presidente da República, só que isso não aconteceu. A gravação foi descartada!”, declarou Ramagem.

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Durante a conversa gravada, as advogadas de Flávio Bolsonaro apresentaram “possíveis irregularidades” na parte da investigação que envolvia a Receita Federal e sugeriram a intervenção do GSI. Ramagem disse ter se oposto à sugestão, afirmando que a inteligência não poderia tratar de dados de sigilo bancário e fiscal e que a atuação do GSI seria prejudicial. Segundo ele, o correto seria cientificar a Receita Federal para a abertura de procedimento interno e administrativo.

Ramagem isentou Jair Bolsonaro de qualquer acusação de favorecimento ao seu filho, destacando que o ex-presidente pouco se manifestou durante a reunião e sempre indicou que não queria nenhum tipo de favorecimento.

Receio

No entanto, Bolsonaro e o general Heleno demonstraram preocupação com o eventual vazamento da conversa gravada. Heleno alertou sobre a necessidade de manter o sigilo da investigação, e Bolsonaro, aparentemente desconfiado de estar sendo gravado, afirmou que não procurava favorecimento para ninguém.

O áudio também contém uma menção de Bolsonaro a Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro, sugerindo que ele teria pedido uma “vaga no Supremo” em troca de favorecimento para Flávio Bolsonaro. Em resposta, Witzel negou a conversa, atribuindo a declaração de Bolsonaro a uma possível confusão.

O senador Flávio Bolsonaro, em nota, disse que o áudio mostra apenas suas advogadas comunicando suspeitas de interesses políticos dentro da Receita Federal. “A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis. O próprio presidente Bolsonaro fala na gravação que não ‘tem jeitinho’ e diz que tudo deve ser apurado dentro da lei. E assim foi feito”, afirmou o senador.

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