Câmara identifica envolvido em racismo

Durante sessão, o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, vereador Romário Policardo (Pros) teria sido chamado de “macaco”

Postado em: 15-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Durante sessão, o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, vereador Romário Policardo (Pros) teria sido chamado de “macaco”

Wallissia Albuquerque*

Um dos envolvidos em crime de racismo já foi identificado pelas filmagens da Câmara Municipal de Goiânia. Ontem,  um grupo de pessoas que se manifestavam, na Galeria da Casa, contra a criação de 130 cargos comissionados no Legislativo da Capital ofenderam o presidente da Mesa, Romário Policarpo (Pros), chamando-o de “macaco”, durante a sessão. Ainda não se sabe o nome do envolvido na confusão, conforme informou Policarpo à reportagem. Segundo ele, o grupo era composto por 4 a 5 pessoas. As investigações continuam.

A manifestação foi articulada pelo vereador Oséias Varão (PSB), que votou contrário ao projeto de leiº 171 de 2019, que prevê a criação de novas vagas para assessoramento jurídico da Casa. Atendendo a um chamado do parlamentar pelas redes sociais, manifestantes lotaram a Galeria da Casa, de onde partiram as ofensas.

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Crítico ao projeto,  o vereador observou que o projeto irá aumentar em R$ 5 milhões de despesas. Para ele,  o Legislativo Municipal vive em um universo paralelo, diferente das outras esferas públicas do país. “No momento de crise, onde todos os poderes estão voltados e comprometidos com a contenção de gastos, redução de despesas com o pessoal, a Câmara Municipal de Goiânia faz o contrário”, comparou.

De acordo com Oséias, falta sensibilidade aos vereadores goianienses no que diz respeito ao atual momento do país. “Fiz uma manifestação na primeira votação que está repercutindo muito na cidade. As pessoas não concordam mais com isso.” 

O parlamentar disse que ficou feliz com a presença de vários movimentos sociais no plenário  que são contrários a criação dos cargos. “A sensação que tenho é que grande parte dos parlamentares da Câmara vivem em um universo paralelo, desconectada do momento político e da situação em que o país está vivendo”.

Integraram as manifestações os grupos “Movimento Vem para Rua” e “Movimento Brasil Livre”. Na visão de Oséias, “esses movimentos se reuniram e fizeram convocações em redes sociais. Fiquei feliz em ver os cidadãos manifestando contra esse descalabro da Câmara Municipal”.

Sobre os comentários racistas contra o presidente da Casa, Oséias Varão destacou que esteve com Romário e manifestou solidariedade. “É inconcebível compactuar com esse tipo de ação. A Câmara tem ferramentas, como a TV Câmara, que pode identificar os responsáveis pelas ofensas”, garantiu. 

Projeto não foi pautado

O presidente da Câmara afirmou ao O Hoje que a matéria a qual os manifestantes se opuseram sequer foi pautada na Ordem do Dia. Segundo ele, a prioridade era deliberar sobre o Decreto nº 2.890, editado pelo prefeito Iris Rezende em 2017 e que fixa regras para o transporte via aplicativo no município. 

Ainda assim, Policarpo defende a criação dos novos cargos, por compreender que a medida tornará a Câmara mais independente em relação ao Poder Executivo. “Atualmente a  Câmara Municipal não conta com um quadro  suficiente de funcionários. Queremos que a Câmara pare de votar somente projetos e passe a  fiscalizar. Precisamos que as comissões deixem de votar projetos durante uma hora e passe a trabalhar de segunda a sexta, em período integral, apurando as denúncias e dando resposta à população. Vamos criar inclusive o canal do cidadão”, justificou. 

A Câmara Municipal de Goiânia excluiu ontem a matéria de sua página oficial, a qual aprovava a criação de 130 cargos comissionados na primeira votação realizada na última terça-feira, 12, pelo  projeto de lei 2019/171. Apenas dois vereadores foram contrários a iniciativa: Oseias Varão (PSB) e Andrey Azeredo (MDB). O  impacto dos novos cargos é de R$ 5,4 milhões no orçamento anual da Câmara.

Racismo é recorrente

O vereador Romário Policarpo registrou, durante a sessão, que havia sido ofendido por alguns cidadãos que acompanhavam os trabalhos da mesa. Antes de atender a um pedido de pausa do vereador Anselmo Pereira (PSDB), Romário defendeu a liberdade de expressão, mas lembrou que racismo é crime. “Os guardas da Casa vão identificar e prender quem me chamou de preto e macaco”, registrou. “Queiram vocês ou não, essa Casa tem um presidente negro”, finalizou. 

Segundo Romário, as agressões a sua pessoa são recorrentes. “Dentro da Câmara Municipal foi o primeiro caso de racismo, mas dentro do meu mandato já aconteceu. Teve uma abordagem da Polícia Militar (PM)  quando estava em um carro oficial. O policial pediu para  parar, pois seria revistado. Segundo o PM, tinha um negro de olho vermelho. Isso era 10 horas da manhã”, relembrou. (* Especial para O Hoje)

 

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