Segunda-feira, 01 de julho de 2024

PSDB vai à convenção dividido

Os tucanos tentam agora juntar cacos, na tentativa de ressuscitar a legenda, depois da acachapante derrota nas urnas, nas eleições do ano passado

Postado em: 29-04-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Os tucanos tentam agora juntar cacos, na tentativa de ressuscitar a legenda, depois da acachapante derrota nas urnas, nas eleições do ano passado

Venceslau Pimentel* 

Hegemônico na política de Goiás por 20 anos, o PSDB realiza convenção para a escolha da nova executiva do partido neste dia 3 de maio, agora na planície, que nem de longe lembra o gramour das eleições anteriores, que sempre contavam com o brilho e influência de sua maior estrela: Marconi Perillo, detentor de quatro mandatos de governador.

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Os tucanos tentam agora juntar cacos, na tentativa de ressuscitar a legenda, depois da acachapante derrota nas urnas, nas eleições de 2018. A sigla foi à bancarrota diante de resultados pífios alcançados por Marconi, dono de números maiúsculos desde que disputou pela primeira vez o Palácio das Esmeraldas, no pleito de 1999. Foi reeleito e, em 2006, bancou o vice Alcides Rodrigues, então filiado ao PP, que sagrou-se vencedor, em 2006, em confronto com Maguito Vilela,  segunda maior liderança emedebista no Estado, atrás de Iris Rezende.

Nessa mesma eleição, ganhou cadeira no Senado. Voltou ao governo em 2011, reelegendo-se quatro anos depois. Mas foi no pleito do ano passado, após 20 anos no poder, que Marconi e, consequentemente o PSDB, sentiu na pele o desgaste político-eleitoral, detentor de uma máquina administrativa inchada, que já não atendia às demandas da sociedade. 

A gota d’água que manchou de vez a imagem do PSDB se deu com a prisão de Marconi, em 10 de outubro, dois dias após as urnas terem revelado a ele uma incômoda 5ª posição na eleição ao Senado. O tucano foi preso enquanto prestava depoimento na sede da Polícia Federal, em Goiânia, no âmbito da Operação Cash Delivery, pelo suposto recebimento de R$ 12 milhões da empreiteira Odebrecht.

O resultado das urnas mostrou que Marconi havia ficado atrás dos adversários Vanderlan Cardoso (PP) e Jorge Kajuru (PSB), ambos eleitos; e ainda de Wilder Morais (DEM) e Lúcia Vânia (PSB). Pior ainda é que o sucessor de Perillo, José Eliton, amargou a terceira colocação na disputa ao governo, corrida ganha pelo democrata Ronaldo Caiado, ainda no primeiro turno, que teve com segundo colocado o emedebista Daniel Vilela.

O PSDB vai à convenção, também, carregando somo sombra o episódio que resultou em busca e apreensão na residência do ex-governo José Eliton, nos desdobramentos da terceira fase da operação Decantação. A Polícia Federal investiga a existência de uma organização criminosa na Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), por conta de supostas fraudes em licitações.

Jânio Darrot é favorito

Assim como o eleitor fez com o MDB, que o desbancou do poder depois de 16 anos, repetiu a mesma dose com o PSDB, só que após completadas duas décadas no comando do Estado. A sigla ainda tem números significativos de prefeitos, vice, vereadores. Elegeu seis dos 41 deputados estaduais, mas perdeu musculatura, na Câmara dos Deputados, conquistando apenas uma das 17 cadeiras.

Diante de tanto desgaste em sua imagem, o partido terá apenas dois nomes para a disputa do Diretório Estadual. Para quem já teve nomes de expressão no cenário político estadual, em sua direção, a exemplo de Henrique Santillo, agora estão na disputa dois prefeitos de cidades sem expressão eleitoral no Estado: Jânio Darrot, de Trindade, e Carlos Alberto Andrade Oliveira, o Carlão da Fox.

O deputado Talles Barreto, que estava na disputa, assim como o ex-deputado e ex-prefeito de Catalão Jardel Sebba, está fora o páreo. Os dois teriam declarado apoio a Darrot, assim como a deputada Lêda Borges, também tucana, numa articulação que passou ao largo de Carlão. Tanto que o prefeito de Goianira se queixa dessa conversação, já que havia pedido voto do colega de Trindade, e este lhe teria garantido que não entraria na disputa.

O favoritismo de Darrot se deve ao fato de Marconi e José Eliton fazerem parte da chapa por ele encabeçada. Também o favorece o fato de o prefeito de Trindade ser mais próximo dos dois ex-governadores.

Por enquanto, Carlão da Fox conta com o apoio do atual presidente, o ex-deputado federal Giuseppe Vecci, desafeto de Jardel Sebba. Com esses ingredientes, o imbróglio na legenda só tende a crescer até o dia 3 de maio, aumentando ainda mais a tensão no partido.

Por isso, o consenso entre os dois candidatos está longe de acontecer. O que une os dois prefeitos é a defesa que eles fazem do que chama de legado de Marconi Perillo. Carlão da Fox, por exemplo, diz reconhecer os erros cometidos pelo PSDB, mas destaca que as realizações feitas ao longo dos últimos 20 anos não podem ser descartadas. Darrot também sempre foi próximo de Perillo, e também sempre faz questão de ressaltar as conquistas, principalmente as sociais, nas administrações estaduais do partido. 

Marconi pede consenso entre candidatos 

Mesmo morando na capital paulista, Marconi Perillo continua dando as cartas no PSDB. Ele vem acompanhando, de longe, o desenrolar do processo sucessório no partido. Carlão da Fox é um dos candidatos que tem conversado com o ex-governador sobre a convenção.

“Ele (Marconi) tem defendido o consenso”, afirma o prefeito de Goianira, que se diz aberto a conversar o assunto internamente. O entendimento na legenda é que se o partido não buscar o consenso, a tendência é enfraquecer ainda mais quem não tem, por agora, perspectiva de poder.

Para Goiânia, por exemplo, o partido não tem um nome natural para ser trabalhado o que vinha ganhando força, antes das eleições do ano passado, era o do ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Vitti, que agora embarcou em outro grupo político. A opção pode ser o deputado Talles Barreto, líder da oposição na Assembleia, que tem desferido contundentes críticas a gestão de Caiado.

Para especialistas, Barreto pode ganhar espaço entre a oposição. A questão é saber que tipo de coligação os tucanos terão no próximo ano, agora sem o poder nas mãos. Antigos aliados, como o PTB, Cidadania (antigo PPS), PSD e PSB estão fora do radar do PSDB.

A dificuldade dos tucanos aumenta mais ainda com a vitória de Ronaldo Caiado, que fortaleceu tanto o Democratas como os partidos aliados, que já se movimentam visando às eleições municipais de 2020. Nome é o que não falta.

Estão na bolsa de aposta, entre outros, o deputado federal Delegado Valdir Soares (PSL), o ex-ministro Alexandre Baldy (PP), o senador Jorge Kajuru (PSB, e os deputados federais Elias Vaz (PSB) e José Nelto (Podemos). Como a bancada do MDB fechou com Caiado, na Assembleia Legislativa, são cogitados Maguito Vilela, pai, e Daniel Vilela, filho. O atual prefeito, Iris Rezende (MDB), descarta disputar a reeleição. 

Partido acumula sucessão de derrotas nos pleitos para Goiânia 

Seja qual for o resultado da convenção da próxima sexta-feira, o PSDB tem pela frente dois desafios. O primeiro é reorganizar a sigla para o embate de 2020. As lideranças sabem que a eleição de um maior número de prefeitos é fundamental para as pretensões no pleito estadual de 2022.

Goiânia continua sendo o principal entrave nas pretensões dos tucanos. O partido não vence uma disputa desde 2000, quando lançou Lúcia Vânia, que era filiada à legenda. Sequer chegou ao segundo turno. O embate ficou com Darci Accorsi (PTB) e Pedro Wilson (PT), que derrotou o ex-petista.

Nos pleitos seguintes, 2004 e 2008, o então governador Alcides Rodrigues, então filiado ao PP, impôs a candidatura do então deputado federal e correligionário Sandes Júnior. 

Em ambas ele foi derrotado por Iris Rezende. Em 2012, também sem candidato natural, os tucanos apoiaram o petebista Jovair Arantes, que perdeu para o petista Paulo Garcia, apoiado por Iris Rezende.

Em 2016, o efeito se repetiu. O PSDB teve que apoiar Vanderlan Cardoso, então filiado ao PSB, na disputa pela prefeitura de Goiânia. Iris Rezende venceu o pleito.

Se não aparecer um nome competitivo, quando 2020 chegar, os tucanos completarão 20 anos sem chegar ao comando do simbólico Paço Municipal da capital goiana.  (* Especial para O Hoje)

 

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