“Nada de mais”, minimiza Moro

Vazamento de conversas privadas entre promotores da Lava-Jato e o então Juiz da primeira instância, Sérgio Moro, pode colocar operação em xeque

Postado em: 11-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Vazamento de conversas privadas entre promotores da Lava-Jato e o então Juiz da primeira instância, Sérgio Moro, pode colocar operação em xeque

Raphael Bezerra

Especial para O Hoje

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O ministro da Justiça, Sérgio Moro, reagiu aos supostos vazamentos de conversas privadas com procurados do Ministério Público Federal que investigam a Operação Laja-Jato. Moro minimizou o conteúdo das conversas e apontou ação criminosa na invasão dos celulares dos procuradores. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello comentaram sobre o caso. Mendes afirmou que o caso é grave e precisa de apuração, já Mello, aponta que as mensagens colocam em xeque a imparcialidade esperada pela justiça. 

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) não se pronunciou sobre o vazamento. Já o vice, Hamilton Mourão, saiu em defesa do ministro e disse que as conversas estão fora de contexto e que Bolsonaro confia em Moro. “Conversa privada é conversa privada. E descontextualizada ela traz qualquer número de ilações. O ministro Moro é um cara da mais ilibada confiança do presidente, é uma pessoa que dentro do país tem o respeito de enorme parte da população”, afirmou

No final da tarde deste domingo (9), o site jornalístico The Intercept Brasil, divulgou supostas conversas entre os procuradores da Lava-Jato e Sérgio Moro, então juiz da primeira instância de Curitiba e agora Ministro da Justiça no Governo Bolsonaro. As repercussões sobre o teor das conversas ascenderam o debate público a respeito da idoneidade dos procuradores e da maior operação de combate a corrupção no Brasil, a Lava-jato, e do juiz do então juiz de primeira instância Sergio Moro. 

“Não tem nada ali”

Figurando o papel principal no vazamento das conversas, o ministro da Justiça questionou a “falta de indicação fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores”, diz a nota. Ele ainda utilizou as redes sociais onde afirmou que “há muito barulho” e que “leitura atenta revela que não tem anda ali apesar das matérias sensacionalistas”.

Ele completa dizendo que “quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”

O Intercept informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018.

Outra figura principal é o promotor da Lava-Jato, DeltanDallagnol, que nas mensagens divulgadas com procuradores num grupo de bate-papo, dias antes de apresentar a denúncia. O coordenador da Lava Jato mostrava preocupação com fundamentação da acusação e posterior a repercussão do caso. “Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobrás e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua”, diz a mensagem. 

Dallagnol deve ser investigado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) após a divulgação das conversas. “Em primeiro lugar, precisamos verificar se o conteúdo [das mensagens divulgadas] é verdadeiro. Caso isso se confirme, o CNMP não pode deixar de examinar o assunto”, diz o conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello.

O promotor afirmou que “a atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do “hacker” para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato”.

Ministros demonstram preocupação

Para o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, as alegações contidas nas reportagens precisam ser apuradas. “O fato é muito grave. Aguardemos os desdobramentos”, disse o ministro.

O assunto também foi comentado pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Segundo ele, as supostas mensagens colocam em xeque a imparcialidade esperada da Justiça.

“Apenas coloca em dúvida, principalmente ao olhar do leigo, a equidistância do órgão julgador, que tem que ser absoluta. Agora, as consequências, eu não sei, temos que aguardar”, disse ele ao jornal Folha de S. Paulo.

“Isso (relação entre juiz e investigador) tem que ser tratado no processo, com ampla publicidade. De forma pública, com absoluta transparência”, disse. 

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