Economia deve seguir estagnada

Projeção para 2019 não é atrativa. Economistas consultados por O Hoje avaliam o cenário

Postado em: 28-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Projeção para 2019 não é atrativa. Economistas consultados por O Hoje avaliam o cenário

Raphael Bezerra

Especial para O Hoje

Economistas avaliam que economicamente o ano de 2019 já pode ser considerado um ano perdido. Foram 16 quedas seguidas na expectativa do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) que projetam um PIB abaixo de 0,93% para o ano. A expectativa fica para o próximo ano com as agendas econômicas do Governo Federal. Mas especialistas consultados por O Hoje avaliam que é fundamental que as reformas estruturantes como a da Previdência e a Tributária sejam efetivadas ainda no segundo semestre. 

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A projeção mais recente do mercado indica um PIB abaixo de 1%, o estudo foi feito pele relatório Focus que reúne expectativas de agentes de mercado para os principais índices da economia. Foi a primeira vez que um levantamento indicou uma redução abaixo de 1% para a economia brasileira. 

A função desses estudos é traçar um cenário para minimizar riscos de investimentos no País. Algumas empresas, inclusive, contam com um departamento exclusivo para estudar as projeções econômicas e realizarem esses levantamentos. 

O PIB teve, no primeiro trimestre de 2019, o primeiro resultado negativo desde 2016. O desemprego segue em alta e os dados setoriais também demonstram um avanço lento.

A previsão do mercado no começo do ano após a troca de governança era alta. Os números chegaram a atingir 2,53% de projeção do PIB em janeiro. Entretanto, desde então, todos os relatórios apontaram quedas no crescimento. Há um ano, o indicativo era ainda maior, a previsão era de um PIB de 3%.

Apesar do cenário negativo e da perda de grandes expectativas para este ano, economistas avaliam que dificilmente o PIB brasileiro volte a ser negativo.

O pessimismo explicitado na retração das projeções de crescimento da economia tem a ver também com os resultados já divulgados para os primeiros meses do ano. O Produto Interno Bruto teve, no primeiro trimestre de 2019, o primeiro resultado negativo desde 2016. O desemprego segue em alta e os dados setoriais também demonstram um avanço lento. Esses são indicativos fortes de que a economia brasileira vai novamente frustrar as projeções que economistas tinham para ela no início do ano. Crescer menos do que o Focus previa em janeiro tem sido quase uma regra para o Brasil. Em sete dos últimos oito anos o resultado efetivo do PIB foi menor do que o que era projetado no início daquele ano.

O relatório Focus

Divulgado toda segunda-feira, o relatório Focus não é uma projeção do Banco Central. Ele é na verdade uma pesquisa que o Banco Central faz com economistas e empresas que trabalham com o mercado financeiro. É um termômetro do que o mercado está achando do Governo propriamente dito, pois ele vai divulgar as expectativas da inflação, do dólar e dos índices importantes para o mercado. 

É comum que no começo de ano, ainda mais e um que há uma mudança forte na direção das políticas que o relatório comece com uma expectativa alta e ao longo da gestão essas expectativas vão caindo. Mas isso não significa que a confiança está caindo, mas que as vezes você pode ter tido um reajuste das perspectivas de mercado dentro da realidade e no final ele acabe coincidindo com o que de fato acontece.

Atualmente são cerca de 120 participantes, a maioria altera projeções toda semana. Para garantir que informações antigas e desatualizadas não adulterem o resultado, palpites postados há mais de 30 dias são desconsiderados. As instituições que mais acertam as projeções formam o “Top 5” e têm a média de suas projeções publicadas com destaque. 

O Hoje ouviu economistas que analisaram a situação econômica brasileira e o que os números mostrados pelo relatório Focus podem significar. 

Na minha perspectiva, o relatório Focus deu uma retraída maior agora no primeiro semestre porque se acreditava que a reforma da Previdência seria votada nos primeiros meses. Todo movimento da economia está pautado na reforma da Previdência. O Governo Federal só vai trabalhar nas suas outras propostas assim que sair a reforma. Como está demorando para que seja aprovada, há uma expectativa de que o mercado não se aqueça antes que a reforma saia. E está perigando muito que ela não saia no primeiro semestre. Vai ser preciso uma agenda muito favorável para que até o dia 15 de julho ela seja aprovada, pois é quando o Congresso Nacional tem o seu recesso. 

É bom a gente lembrar que é preciso que o Congresso vote a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda no primeiro semestre. Então pode embolar o meio de campo nessa primeira quinzena de julho e atrapalhar a tramitação da Previdência. O mercado está prevendo que a reforma só será votada no segundo semestre. E isso demora mais para que o Governo demore mais para colocar em pauta todas as medidas econômicas que estão tentando, como as concessões e privatizações.

O PIB não deve cair, o que pode cair é a perspectiva que o mercado tem em relação ao PIB. O PIB só se é revelado trimestralmente quando ele é divulgado pelo Banco Central e pelo IBGE. É tudo expectativa e só no final do ano vai casar com a realidade.

Estamos cheios de incertezas, mas estamos com muitos problemas de tramitação da Previdência na Câmara, e ela ainda precisa ir para o Senado. O Governo tem desenhado diversas reformas, como a tributária, as privatizações, mas enquanto a reforma da Previdência não sair muita coisa não será feita.

A reforma Tributária vem sendo estudada há muito tempo para que seja feita. Mas há um risco e um medo de se perder a arrecadação. É importante fazer uma reforma da Previdência primeiro pois gera uma economia para o Estado. Essa economia para a União, daria uma garantia para os Estados que seriam socorridos pela União durante a implantação da reforma Tributária. Nós temos dois projetos tramitando hoje no Congresso, uma do Imposto de Valor Agregado (IVA) e a do Imposto sobre Operação com Bens e Serviços (IBS). Todos os dois exigem um tempo de transição de 20 anos. O Governo precisa da garantia que ele terá caixa para manter a transição.

Politicamente o relatório demonstra um cenário de estagnação, mas não uma estagnação provocada por uma recessão, mas uma estagnação provocada por uma paralização provocada por parte empresarial que está esperando ver o que vai acontecer com essas reformas que partem do Governo. Uma as principais é a reforma da Previdência, enquanto não se definir quais serão as diretrizes, quais os ganhos reais a médio e a longo prazo, os empresários acabam refreando seus investimentos e isso faz com que essa projeção de PIB fique freada. 

Eu não vejo a possibilidade de um PIB negativo, é um momento de paralização que está se esperando se as reformas vão abrir um cenário positivo. A expectativa é que se abra, a reforma da Previdência tem que passar, todos concordam que ela é necessária, seja a parte empresarial, seja o governo e até a população. Nesse cenário eu não vejo como um PIB negativo, mas com uma forte tendência de crescimento para os próximos anos. 

Esperar um crescimento no segundo semestre é um pouco improvável. Estamos praticamente encerrando o primeiro semestre, a reforma não se concluiu e mesmo que ela saia, é preciso um tempo para que a economia volte a crescer. Dificilmente esse “time” se representasse logo nesse segundo semestre, o que deve acontecer é um aquecimento da economia no primeiro semestre de 2020. 

As quedas são frutos de dúvidas, mas existem bilhões de dólares que querem investir no Brasil, há muita expectativa que o Brasil se torne um grande recebedor desses investimentos estrangeiros, agora estão todos esperando essas reformas estruturantes. 

 O relatório é muito diferente do que vinha demonstrando nos últimos anos, você tem um PIB abaixo de 1% que é um número que demonstra uma retração da economia, mas que não é de agora. Essa retração começou em 2014, estamos pagando o preço dos erros que começamos no passado. A economia está lenta, o consumo está baixo, e o pior, temos um endividamento das famílias. Houve uma injeção de consumo nos governos anteriores, e esse preço está sendo pago. O percentual da dívida sobre o orçamento aumentou consideravelmente e ainda para rematar essa situação nós ainda temos mais gente chegando no mercado de trabalho e o desemprego ainda muito alto.

Esse PIB negativo não significa que ele será negativo para os próximos amos. A gente percebe que se houver uma série de reformas estruturantes, a gente pode voltar a crescer. O Governo Federal está propondo coisas boas, o problema é o legislativo que está tentando barganhar e está travando tudo. Não dá para falar que o PIB nos anos vindouros será negativo, eu acredito que ele será positivo pois estamos plantando uma semente muito boa e que dará frutos no futuro. A economia vai entrar no eixo.

O crescimento da economia no segundo semestre está muito complicado. Basicamente, o que eu acredito é que esse ano de 2019 já acabou, esse ano já foi embora. O que temos que trabalhar agora é para o ano de 2020. Essas reformas são extremamente importantes para que o ano de 2020 seja um ano promissor. Portanto, não dá para falar que teremos um crescimento no segundo semestre. Se bem que, no final do ano a economia se aquece devido a algumas sazonalidades. Mas eu não acredito que ele será significativo.

Se a gente consegue aprovar a Previdência agora, certamente a gente prepara para um 2010 melhor, mas não esse ano. E se houver uma reforma tributária, será melhor ainda pois a economia poderá de fato crescer. 

Manutenção do nível de desemprego alto, economia retraída, é o que esperamos. Todavia, esperamos que esse quadro seja revertido devido as pautas que tramitam no Congresso. O que esperamos é que o Governo faça o dever de casa, como encolher o Estado. Se ele fizer isso, já vai ser um grande passo para preparar o país para um ano melhor. Para crescer é preciso que o Estado encolha, um Estado inchado drena a poupança da população, tudo que a gente produz vai para a máquina pública que é ineficiente, incompetente e corrupta.

 

 

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