Governo divulga dados sobre desmatamento

O órgão federal mostrou que mais de 1.000 km² de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês, aumento de 68% em relação a julho de 2018.

Postado em: 02-08-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O órgão federal mostrou que mais de 1.000 km² de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês, aumento de 68% em relação a julho de 2018.

Raphael Bezerra

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), voltou a questionar os dados sobre desmatamento no Brasil divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e disse que, caso o presidente do instituto tiver quebrado a confiança, ele será “demitido sumariamente”. O órgão federal mostrou que mais de 1.000 km² de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês, aumento de 68% em relação a julho de 2018.

“Se quebrar confiança vai ser demitido sumariamente, não tem desculpa para nenhum subordinado ao governo divulgar dado com esse peso de importância para o nosso Brasil. A questão de perdeu a confiança, no meu entender é uma pena capital. Nem na vida particular convivemos com pessoas que perdemos confiança. Temos muita responsabilidade em identificar se houve má fé ou não”, disse Bolsonaro.

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Ele afirmou ainda, durante coletiva de imprensa realizada no Palácio do Planalto, que parte do desmatamento identificado pelo Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter) e divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em junho deste ano não ocorreu naquele mês, o que causou, de acordo com ele, um “sensacionalismo” nos dados.

Ao assinar a concessão da ferrovia Norte-Sul em Anápolis, o presidente havia informado que deixaria a imprensa “curiosa” por mais alguns dias sobre o posicionamento do Palácio a respeito do tema após ser questionado.  Ele adiantou, no entanto, que informações falsas sobre o desmatamento poderiam gerar prejuízos para os negócios do Brasil.

Na coletiva de hoje, ele voltou a repetir o que tinha dito em Anápolis e que os dados “nos trazem transtorno fora do Brasil”. Ele disse ainda que qualquer informação sobre o assunto tem “enorme repercussão fora do País” e tem impacto inclusive em possíveis acordos comerciais.Bolsonaro, por sua vez, chegou a comparar dados alarmantes com a conta de energia elétrica e defendeu que números altos deveriam ser submetidos ao alto escalão antes da divulgação.

O Deter registrou uma área de desmatamento de 878,71 quilômetros quadrados em junho deste ano e emitiu 3.250 alertas de desmatamento no período. Desse total, equipes do Ibama e do Inpe analisaram 493 quilômetros quadrados, ou seja, 56% da área dos alertas.

Números citados por Salles apresentam que o desmatamento de 31% da área analisada, ou seja, de 265 quilômetros quadrados, não ocorreu em junho de 2019, como informado pelo sistema. Ele mostrou exemplos de algumas ocorrências de 2018 que não teriam sido computadas no período adequado. 

Planalto promoverá mudanças no sistema de monitoramento 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, criticou o uso de dados do Deter para comprar mês a mês áreas desmatadas. Ele anunciou ainda que o governo abrirá uma licitação, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para contratar um novo sistema de monitoramento ambiental. “Será aberto um processo licitatório no Ibama para que essas imagens de alta resolução possam ser contratadas e aplicada no mais curto espaço de tempo possível”, afirmou. 

“Nós não estamos aqui para negar os números nem justificar coisas que tenham sido feitas de maneira ilegal. Estamos mostrando que precisa haver muita responsabilidade na divulgação de informações. E é isso que vamos construir em conjunto”, disse Salles. 

Salles afirmou ainda que deseja manter o sistema do Deter e auxiliar a equipe do instituto. “Uma forma de ajudarmos é complementar as informações do sistema do Deter também com outras imagens de alta resolução que fornecessem o detalhamento dos polígonos de um dia para o outro”, declarou Salles.

Inpe

Dados divulgados pelo Inpe no início deste mês, informam que o desmatamento na Amazônia Legal brasileira atingiu 920,4 quilômetros quadrados em junho, um aumento de 88% em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Talvez naquela área da região amazônica, você tem a reserva de 80% de mata e a previsão de o fazendeiro usar 20% desse total. Daí aquele fazendeiro resolveu utilizar esses 20%, e isso é um alerta de desmatamento, e nesse alerta você vai tomar conhecimento que aquela área poderia ser desmatada ou não. É isso que acontece”, disse o presidente, sem dar mais detalhes sobre as novas informações.

De acordo com Bolsonaro, a divulgação de informações ambientais diretamente pelo Inpe prejudica o país em negociações comerciais conduzidas pelo governo brasileiro com outros países, entre elas o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, fechado recentemente, em que salvaguardas ambientais podem ser acionadas para bloquear eventuais redução de tarifas comerciais.

“Isso atrapalha a gente nesse momento em que estamos nos aproximando dos Estados Unidos, da Coreia do Sul, do Japão. Vamos consolidar o Mercosul, e isso atrapalha a gente. Um dado importante como esse, a pessoa responsável tem que ter certeza do que está falando”, disse. 

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